Estava começando a ficar entediada no quarto. Receberam ordens de me deixar trancada por alguns dias lá e ninguém veio me ver. Nem mesmo Ann. A porta é de aço, o que tornava difícil tentar abrir e mesmo quando tentava, precisava parar porque a tontura aumentava.
Foram quatro dias nisso. Só aparecia alguém quando viam me dar comida, uma pasta amarela que não faço ideia do que seja, mas parecia uma espinha espremida. Não era Ann que vinha me supervisionar, e sim um enfermeiro que nem sequer trocou uma palavra comigo, porém me tratava como um animal até para medir minha pressão. Machucou meu braço algumas vezes por causa da brutalidade, deixando marcas roxas do aperto dos dedos.
Depois desses quatro dias, Magnum apareceu com seu jaleco branco. Havia um curativo pequeno na sua têmpora e sua barba estava um pouco mais cheia. Perguntei o porque nenhum deles tinha vindo, mas não obtive resposta. Ao invés disso, Magnum me deu uma muda de roupa e pediu para que eu tomasse banho. Tirei a sujeira do meu corpo sem pressa alguma, não queria sair do banheiro e enfrentar seja lá o que fosse. Não estava preparada para isso novamente. Não estava preparada para me sentir um animal enjaulado e domado, longe da minha família e principalmente da minha filha.
- Acho que te decepcionei de novo - digo em voz baixa, olhando para minhas mãos enquanto espero sentada até a porta abrir novamente.
Agora estou de banho tomado, o cabelo preso num rabo de cavalo, uma roupa preta e botas. O mais completo silêncio nesse cômodo, até a porta se abrir trazendo Magnum junto com uma garota de pele morena e cabelos encaracolados pretos vestindo praticamente a mesma roupa que eu, só que há um toque mais despojado. Magnum está com um pano preto nas mãos mais parecendo um saco. Com uma delicadeza estranha, Magnum segura meus braços prendendo os pulsos com um amarra gato e pedindo um perdão em voz baixa enquanto coloca o saco na minha cabeça.
Tudo fica escuro e minha respiração se prende automaticamente. A mão áspera de Magnum segura meu braço enquanto caminhamos para fora, provavelmente. Não consegui discernir os cheiros para tentar adivinhar para onde estariam me levando, apenas o cheiro do perfume de Magnum, um cheiro amadeirado.
Ouço um clique e a porta de algo é aberta, um carro. Magnum me ajuda a entrar e quando me sento respiro fundo apertando minhas mãos. O peso do meu lado indica que Magnum se sentou e a garota na minha frente.
O caminho é em silêncio, apenas ouvindo o barulho do motor do veículo. O saco é levantado da minha cabeça permitindo que eu respire melhor, mas ainda sim, tapando minha visão.
- Isso é horrível para respirar. - a garota diz. - Mas ainda não posso deixar ver o caminho, sinto muito. Meu nome é Maya.
Não sei por quanto tempo já estamos andando. Maya trocou poucas palavras com Magnum até agora, mas ela não tem um tom autoritário que pensei que teria. Na verdade é um tom mais doce e cheio de 'por favor' em cada frase.
- Quando vão partir? - Magnum pergunta.
- Amanhã de manhã. - ouço Maya responder seguido de um suspiro pesado - Ele estava só esperando Amelie chegar. Não me disseram muita coisa. - Maya estala a língua - Bom, nunca me dizem mesmo.
- Jura? Pensei que seu irmão fosse mais aberto com você. - Magnum usa um tom debochado. Tenho quase certeza que está com aquele sorriso insuportável nos lábios.
- Acredite, Magnum, depois que os dois fizeram esse maldito pacto, aberto é o que meu irmão não é. - Maya responde, sinto um ar um pouco mais pesado dentro do carro.
Depois disso, o silêncio se instalou novamente como se tivessem se lembrado que não estão sozinhos aqui. Em alguns momentos, Magnum segurava meus pulsos para medir meus batimentos cardíacos sempre com o mesmo cuidado. Já estou começando a me acostumar com ele. Mas ao mesmo tempo que começo a confiar, desconfio que Magnum possa ser um excelente ator e acabar me ferrando.
Demorou um pouco até que o carro foi estacionado, na verdade, creio que foram horas. Magnum me ajudou a descer do veículo. Senti um ar mais úmido e aquele cheiro de terra molhada, além do cheiro de eucalipto envolta.
Meus sentidos estavam aguçados, mais do que nunca. Esse lugar todo é uma ameaça, e mesmo com os olhos tapados, sinto que todos olham em minha direção.
- Que bom que chegaram. Entrem!
A voz familiar de Megan preenche o ambiente me causando arrepios por todo meu corpo seguido por uma ânsia de vômito. Sou guiada por Magnum ainda que mantém toda atenção em não me soltar. Quando o pano dos meus olhos é retirado me deparo com um escritório. As paredes são de mármore branco, no centro há uma mesa de carvalho e uma poltrona de couro marrom. A iluminação não é tão alta, aconhegante na verdade. Quadros espalhados na parede, todos pintados a mão, uma estante cheia de livros e dicionários.
Megan entra no meu campo de visão vestindo um terno preto e com o cabelo preso num rabo de cavalo, um colar de ouro envolvendo seu pescoço. Em todos esses anos é a primeira vez que a vejo bonita assim. Mesmo sendo vaidosa, o trabalho de enfermeira a esgotava tanto que mal tinha tempo de se maquiar ou ir no cabeleireiro. Mas ela nunca aparentou a idade que tem. Eu admirava sua beleza e seu corpo definido, mesmo comendo muitas besteiras Megan nunca engordava. Ao contrário, mantinha um corpo atlético.
Logo depois dela, o mesmo homem da cafeteria entra no escritório depositando um beijo no rosto de Maya, que revira os olhos disfarçadamente.
- Bom, agora que Mel chegou podemos ir ao negócios. - Megan diz sentando-se na poltrona - Emmett eu sei que está com pressa, mas lembre-se que temos questões a tratar.
- As questões já foram tratadas, Megan. - Emmett se pronuncia tomando a frente de Maya. Magnum e eu ficamos em silêncio, parecia que os dois haviam esquecido que estávamos aqui - Não mude nossos termos. A associação será desfeita se mudar uma virgula do contrato. Se Amelie vir comigo e eu garanto que ela vai, imunidade total e sem um palpite.
- A organização existe por um razão senhor Baxton. - Megan se levanta ficando frente a frente com Emmett - Cooperação.
- Metade dos seus investimentos vem de mim, senhora Parker. - Emmett se aproxima - A Blake só existe por causa de mim. O contrato não será mudado, você apenas participará das negociações. O que eu farei ou deixarei de fazer com sua filha, não convém a senhora. Estou sendo claro?
Segundos de silêncio se instalaram, Emmett e Megan se encarando como dois predadores. Eu a conheço o suficiente para saber que está imaginando mil formas de fazê-lo cair em seus jogos. Era assim que ela fazia com meu pai. Por mais que os dois se davam bem, quando não concordavam em um assunto, Megan fazia jogos mentais com ele até que fizesse o que queria.
- Bom, se é assim que quer. Boa sorte - Megan dá a volta na mesa sem ao menos olhar para mim. Na realidade, desde que entramos no escritório ela nos ignorou completamente. - Emily! - franzo minha testa ao ouvir o nome. Nome esse que me lembrou do diário de Leonard. Não poderia ser tanta coincidência, poderia?
- Senhora?
- Acompanhe o senhor Emmett, o doutor e a garota para os dormitórios.
Assim que me viro, deparo com uma garota de cabelos castanhos, olhos azuis e olhando para ela, parecia que estava vendo Leonard na minha frente.
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SURVIVE - 3 TEMPORADA (EM ANDAMENTO)
Fanfiction𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐃𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐎𝐁𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓Ã𝐎 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒. 𝐏𝐋Á𝐆𝐈𝐎 É 𝐂𝐑𝐈𝐌𝐄! Livre do tribunal, mas tendo que viver com um julgamento pessoal as coisas parecem ir bem para Amelie. Ate certo ponto. Porém quando uma...