Capítulo 15: Prometo

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Não vi muita gente e muito menos recebi uma resposta concreta de Emmett durante três dias.

Uma das empregadas da casa vem trazer a comida e aproveito para papear um pouco. Depois que as drogas passaram, papai parou de aparecer sempre, deixando minha mente silenciosa. Fico entediada.

Nesses três dias melhorei um pouco minha aparência. Meu lábio deu uma leve desinchada, minha bochecha não tem mais aquela coloração roxa esquisita e meu olho está praticamente normal. Não tive mais sangramentos e graças a Deus, todos os testes de gravidez deram negativo, como Emmett disse que daria.

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- Para onde vai me levar?

Pergunto percorrendo meus olhos pelo vidro do carro. Emmett está sentado ao meu lado com as mãos juntas em cima das pernas olhando atentamente para frente enquanto seu motorista nos leva.

- Cumprir uma parte do seu termo. - Emmett responde e o olho curiosa. - Seu primo veio até Chicago para te ver.

Mordo meu lábio respirando fundo e aliviada. Emmett explica que o encontro vai ser em segredo, Megan não pode saber. Peter pode morrer e Daya também.

O carro entra numa rua escura. Agora são oito da noite, e acabamos de estacionar num beco. Alguns mendigos estão sentados em cima de jornais, outros dormindo com pedaços de trapos e outros comendo uma coisa qualquer.

O carro estacionou no final de um beco que dá na próxima rua. Como está escuro, o breu ajuda a esconder o carro preto. Fico apertando minhas mãos uma na outra por causa da ansiedade. Imagino mil maneiras de criar um vínculo mental com Peter e sairmos correndo sem olhar para trás. Nessa hora, queria muito ter os poderes telepatas de Amberly. Emmett pode ter aceitado meus termos, mas tenho certeza que no primeiro deslize que eu desse para fugir com Peter acarretaria num tiro nas costas.

Emmett e eu estamos encostados na lataria do carro numa distância respeitável esperando Peter aparecer. E se ele não vir? Será que ele desistiu? Ou isso foi uma armadilha de Emmett? Bom, se for uma armadilha, meus sentidos vão me avisar e eu vou poder agir depressa.

Ou não.

Nos últimos dias, meus poderes estão fracos. Como se estivessem sendo tirados aos poucos. Minha habilidade de escalar paredes desapareceu, posso até tentar, mas o chão vai ser a primeira coisa que vou encontrar. Minhas teias funcionam, mas em certo momento cedem, como se meu corpo tivesse parado de fabricar. A energia que ganhei recentemente é a única coisa que ainda funciona, mas dói quando é usada.

Quando vejo um vulto pousar na parte menos escura do beco com uma roupa preta, meu coração vai a mil. Peter levanta as mãos mostrando que não está armado quando Negan e o motorista apontam suas armas.

Não espero uma permissão de Emmett para sair 'correndo' e cair nos braços de Peter. Sempre atento, mesmo me abraçando, Peter mantém os olhos nos dois brutamontes na frente de Emmett. Uma onda de alívio me toma, uma coisa que já estava em falta há semanas.

- O que fizeram com você? - Peter e seu jeito super sincero é o que mais sentia falta. Seus olhos arregalados inspecionando desde o meu rosto até minhas canelas finas.

- Deixem os dois conversarem. - olhamos na direção de Emmett dando a ordem para Negan e o motorista se afastarem de nós.

Com um aceno de cabeça, Emmett permite que Peter abrace meu corpo e pule para cima do prédio comercial a frente. Talvez eu pensaria já numa fuga com essa brecha, mas o controlador neural faria sua parte e mataria nós dois. Ou, sabe-se lá se Emmett usaria isso para que eu mesma me livre de Peter.

Sentados na beira do prédio, observamos os homens conversando entre si. Peter e eu estamos com as mãos entrelaçadas e há nenhum momento ele parou de acariciar minha mão com o dedo.

- Conseguiu deixar Dada com alguém? - pergunto, quebrando o silêncio incômodo. Peter respira fundo e me olha.

- Débora. Daya não quis ficar comigo. Queria ficar com a Amberly.

- Amberly? - o olho surpresa. - Conseguiu falar com ela?

- Consegui.

Não sei como tirei toda essa força, mas a crise de riso veio instantaneamente. Peter me olha como se eu fosse uma louca. Talvez eu esteja beirando a loucura.

- Ela me ignorou todo esse tempo e com você não? - mordo meu lábio e estalo a língua olhando para baixo - Idiota. Imbecil. Filha da..

- Ei. - Peter dá um leve aperto na minha mão. Respiro fundo deixando os xingamentos só em meus pensamentos mais profundos. - Ela vai estar segura lá. Eu prometo.

- Eu confio em você.

Beijo a bochecha de Peter e mantenho minha testa encostada em sua tempora. Se não fôssemos primos, talvez em alguma encarnação ou outro universo seríamos um casal. Já me perguntaram isso uma vez na cafeteria.

Peter sempre foi o meu confidente, meu porto seguro. Quando crianças, éramos inseparáveis. Unha e carne. Achavam que éramos gêmeos, apesar de não sermos nada parecidos fisicamente. Quando meus tios morreram e Peter se afastou, pareceu que havia perdido um pedaço de mim. E nada, nunca, preencheu aquele vazio, mas hoje, depois do nosso reencontro, nada vai ser maior do que nosso sentimento um pelo outro. Seremos sempre MelPete.

- O que você fez para convencer esse cara a me deixar te ver? - Peter pergunta. Resolvo contar a ele tudo o que aconteceu nesses últimos dias. Inclusive a parte contratual em cima da minha caveira. Ele me ouve com atenção sem interromper minhas palavras. - Confia nele?

- Ele me trancou e me drogou, Pete. A resposta é óbvia. - olho para Emmett que fuma igual uma chaminé lá embaixo - Mas ele me deixou te ver. Já é um bom começo.

Do nada a expressão de Peter muda, algo entre agonia e descrença. Não o julgo.

O silêncio se instalou de novo e as lembranças me vieram a tona. Lembranças de quando Peter revelou sua identidade para mim no telhado e de quando nos encontramos pela primeira vez. Foi meses antes dele me prometer que sempre estaria ao seu lado.

- Preciso que me prometa uma coisa.

- Não, não. - Peter balança a cabeça e solta uma risada nasal - Já sei onde sua conversa vai terminar, Amelie.

- Peter. - seguro seu rosto obrigando-o a me encarar - É só uma promessa, por favor. - se dando por vencido, Peter balança a cabeça e respira fundo - Eu vou tentar acabar com isso o mais rápido que eu puder, mas enquanto isso, quero que me prometa que vai cuidar da Daya pra mim. Não precisa levá-la para casa, só não a abandone. Eu te imploro.

- Tá bom. Eu prometo. - Peter beija minha mão e dá um sorriso leve. - Eu te amo, tá bem? Você consegue.

SURVIVE - 3 TEMPORADA (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora