42 - Se Reconhecer

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- Estamos aqui, agora. O se não vale nada quando se tem o presente - ela não me afastou - A gente aqui, esse é o presente.

As duas olhavam a rua uma ao lado da outra mas o silêncio não durou muito tempo.

- Então doutora Bichalho - Rafa deu um meio sorriso - Eu fico imaginando você no tribunal. É a sua cara mesmo essa profissão. 

- E você? Influencer é a sua profissão?

- Eu sou boa nisso e acho que é o suficiente agora mas eu ainda gostaria de fazer outra coisa

- Por quê não faz?

- Por quê eu tenho contas a pagar Gizelly - disse como se fosse óbvio - E na verdade não é tão ruim assim. A Bianca me ajuda muito então fica tudo mais fácil. Mas me fala mais do seu escritório e de todos esses processos doidos que você trabalha - tentou puxar assunto mas Gizelly parecia não prestar atenção até que se virou para ela

- Por acaso a Bianca que você tanto fala é a mesma Bianca que dava encima de você? - Rafa precisou de um tempo pra processar a mudança brusca de assunto ao mesmo tempo que tentava não rir do claro ciumes de Gizelly.

- Gizelly, eu não tinha contato com ela desde aquela época. Depois que me internei eu só mantive contato com a Manu e mesmo assim não era muito frequente

- E como vocês ficaram amigas assim? - olhou desconfiada

- Quando sai as pessoas ainda queriam uma entrevista minha sobre o que aconteceu, mas eu não queria mais falar sobre isso. Porém eu precisava de dinheiro e dei algumas entrevistas e capas de revista mas eu só queria seguir em frente, então assim que pude eu decidi começar de novo em Nova Iorque com o dinheiro que eu ainda tinha. Voltei a esse mundo de influencer por quê era o caminho que eu já conhecia nem que seja um pouquinho. E em um evento eu reencontrei Bianca e ela foi muito legal comigo mesmo eu não querendo sua amizade de ínicio. Nunca aconteceu nem vai acontecer nada entre a gente. Mas ela é um apoio importante pra mim.

- Eu entendo isso, apesar de achar que ela ainda deve ter uma queda por você - Rafaella deu uma risada, aquela ideia parecia surreal pra ela. - Mas eu acredito em você

- Eu não teria por quê mentir sobre isso - se virou e caminhou em direção a cama com a Gi em seu encalço

- Mas tiveram outras pessoas, não é? - um tom incomodo pode ser percebido

- Sim, assim como você deixou claro que tiveram na sua - ela se virou pra Gi e ela não negou, o que já era resposta suficiente - Eu não tive nada sério com ninguém se é isso que quer saber mas também não fiquei em casa infeliz. Viver também faz parte do processo, certo?

- Acho que sim - concordou contrariada - E agora?

- E agora o que?

- Quais são seus planos?

- Agora eu estou aqui com você, esse é meu plano no momento - Rafa encarou Gizelly o que a deixou encabulada - Você não era tímida assim

- E você tampouco era tão direta - disse na defensiva mas isso não afetou minimamente Rafaella

- Touche  - deu uma risada - Você tem um ponto

- Eu ainda preciso me acostumar com essa versão sua

- Acho essa não é bem uma versão, essa sou apenas eu sem ter medo 

- Fico feliz de ouvir isso. Acho que já passou de hora de deixar nossos fantasmas para trás

- Eu queria que você fácil assim - riu fraco - Mas nada que uma boa terapia não resolva - piscou pra Gizelly e ela tentou ver alguém traço de melancolia em Rafa. Aqueles olhos verdes sempre mostraram medo ou tristeza. Era raro ver Rafaella plena sem fantasmas por trás de cada pequeno momento em sua vida mas a via tranquila agora. Determinada a ser feliz seria uma melhor definição.

O silêncio que se seguiu era menos incomodo porém nenhuma das duas sabia muito o que dizer. Na verdade havia muito o que ser dito e haviam tantas perguntas. Era uma lacuna de tempo que precisava ser preenchida e parecia que isso era frequente entre as duas. O constante encontro e desencontro. Mas elas sempre se reconheciam de alguma forma, é como se a conexão delas estevisse sempre lá apenas adormecida.

- Já que você já sabe que sou tão direta - respirou fundo tentando esconder o nervosismo - Eu gostaria que a gente passasse mais tempo juntas. Se você quiser claro - se apressou em dizer

- Acho que eu estar aqui com você resposta suficiente, Rafaella - a olhou e rafa não conseguir conter o sorriso

- Então já que você precisa se acostumar com essa versão tão direta minha. Posso continuar sendo direta? - Gi apenas concordou, sem desvia dos olhos verdes - Eu realmente gostaria de beijar você denovo - Disse com um sorriso travesso que sempre deixou Gi encantada Rafa sabia disso e se aproveitou para se aproximar dela, tocando seu rosto de forma tão delicada que parecia um leve carinho. Aquilo era tão familiar para Gizelly que isso resgatava as melhores memorias das duas e foi com elas que ela fechou os olhos ao sentir os lábios de Rafaella nos seus pedindo autorização e naquela altura ela nunca diria não pra ela.

Rapidamente as mãos de Gizelly passearam pelos cabelos de Rafa e desceram pelo corpo como se buscasse reconhecer cada pedacinho dela. Rafaella parou o beijo só para encostar na testa na sua mas não durou muito tempo e logo ela voltou a beijá-la. Ela não queria parar, pela primeira vez ela estava onde queria estar sem ter medo de nada e nem ninguém e aquilo era libertador.

- Eu sou louca por você Gizelly - ela disse em um sussurro com o rosto tão próximo ao dela - E eu quero poder viver o que eu sinto por você plenamente dessa vez

- Eu tenho medo,  Rafaella - foi sincera - Eu já me machuquei muito

- Eu sei - ela a abraçou, o queixo apoiado na cabeça de Gizelly. - A gente não tem pressa, meu bem

- É, a gente não tem - aquele abraço era tão confortável para ambas que ficaram assim. Se reconhecendo e presas uma na outra. Estavam onde queriam estar.

- Você quer dormir aqui? - Rafa quebrou o silêncio - Só dormir eu prometo - riu - É que eu não sei se consigo ficar acordada por muito mais tempo mas não quero que você vá embora - fez beicinho mas ela não precisava de muito para convencê-la

- Tudo bem - Rafa deu seu melhor sorriso e segurou o rosto de Gi dando um selinho eufórico.

As duas se deitaram na cama com uma Gizelly totalmente nervosa. Foram muitas mudanças em tão pouco tempo e tantos sentimentos pra processar que ela se sentia inundada e até esgotada com tudo aquilo. Contudo, seria mentira dizer que ela gostaria de estar em qualquer outro lugar porquê no fundo durante todo esse tempo ela sonhou com o retorno de Rafaella. As vezes se pegava pensando se ela pensava nela com a mesma frequência que ela. Tentava alimentar sua própria raiva cada vez que esse sentimento a dominava mas ao mesmo tempo a imagem de uma Rafa perversa não combinada com todas as outras versões que conhecia dela.

- Boa noite, meu bem - Rafaella a abraçou por trás e Gizelly pode sentir a respiração dela em sua nuca. Ela parecia o oposto dela, enquanto Gizelly estava um turbilhão ela parecia calma e como se aquela fosse sua rotina desde sempre. Gi era plenamente consciente da mão de Rafa em sua barriga e da respiração em sua nuca e se perguntava como conseguiria dormir assim. Mas uma onda de familiaridade e segurança veio de tudo isso e o cansaço finalmente a venceu.

No fim era sua Rafaella e por agora isso basta.


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