3 - Promete?

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Gizelly POV

Vi Rafaella correr e não consegui ter qualquer reação. Nunca imaginei que ela faria algo assim. Não é permitido beijar antes do casamento portanto pensar sobre isso estava totalmente fora de questão. Beijar uma mulher? Ninguém nem falava sobre isso. Isso parecia tão errado e estava completamente em choque que logo Rafaella tinha feito algo assim. Há quanto tempo ela estava com isso na cabeça? Será que ela sempre teve esse interesse nela? O primeiro pensamento foi o quanto aquilo era nojento. Por quê é o que deveria ser né? Nojento. Isso era o que ela deveria sentir.

Mas não consegui negar nem pra mim mesma que aquilo havia mexido comigo. Quando senti os lábios de rafa no meu, por um microsegundo pareceu algo tão bom, como borboletas no estômago. Algo que ela não conseguia explicar. Era confuso demais pra minha cabeça e não fazia a menor ideia de como lidar com isso. Eu sabia o que deveria sentir e como deveria reagir mas isso não queria dizer que era o que acontecia de fato. Era expectativa x realidade. Me afastar de Rafaella e contar o que havia acontecido era o seu dever e o que se esperarava dela. Ser a culpada pelo sofrimento de Rafa e ser afastada dela era uma realidade impossível de encarar.

Ao chegar em casa foi a mesma rotina de sempre. Ajudar minha mãe e irmãos. Basicamente a comunicação com meus pais era inexistente e não tinha a sorte de Rafaella de ter uma irmã como Manu. Isso me fazia sentir o patinho feio no meio daquela família. Nem tinha certeza se meus pais iriam sentir minha falta quando se casasse. Espero ter mais sorte no amor do que tinha com a família. Mas hoje estava agradecida por ser ignorada, isso dava mais liberdade para estar presa em seus próprios pensamentos e reviver o que havia acontecido naquela tarde uma e outra vez em sua mente.

Os dias passaram e nunca mais nos falamos. Rafaella a evitava sempre. Sentia falta dela, mas toda vez que ia se aproximar ela se afastava e ficou mais do que claro que não queria mais ser sua amiga. Aquilo a estava quebrando por dentro dia após dia. Manoela não sabia de nada e perguntava toda hora o que estava acontecendo, aquela pirralha de quase 12 anos era mais esperta que toda a sua classe junta.

Ficar longe de Rafa a estava fazendo ver o quanto a garota fazia falta, principalmente nas coisas mais simples do dia a dia, sentia falta de sua presença. Rafaella não tinha amigas e sempre estava com seus irmãos ou comigo. Sempre foi só eu e ela mas agora a via conversando com Mariana. Desde quando elas eram amigas? Não pude evitar franzir o cenho quando as vi conversando logo depois da escola. Rafaella pareceu sentir que eu a encarava e me olhou mas logo desviou o olhar. Aquilo conseguiu me ferir, eu estava começando a ficar com raiva daquela atitude dela. Eu não havia feito nada e estava sendo ignorada por que Rafaella havia feito algo de errado? A culpada era ela!

A vi se aproximar com Mariana e assim que a garota se afastou dela eu me aproximei

- Rafaella - chamei sua atenção e pude notar seu nervosismo. Ela começou a olhar pros lados como se procurando alguem - Podemos conversar?

- Oi Gizelly - ela deu um sorriso sem graça - Agora não posso, podemos falar outra hora?

- Você esta fugindo de mim, não é? - a encarei e ela não conseguiu sustentar meu olhar

- Não é nada disso Gizelly - ela arrumou sua mochila no ombro e olhou para Mariana que nos encarava - Eu preciso ir, nos falamos outra hora - ela quase saiu correndo e me sentei em um banco frutrada

- Seja lá o problema que você tem, resolvam o quanto antes - escutei Manu me dizer, sentando-se ao meu lado

- Ela parece que não está muito interessada em me ter por perto - não consegui ocultar completamente o tom magoado em mimha voz

- Ela está tão triste quanto você, só não demonstra em público. Rafa gosta de você de verdade Gizelly mas ela aprendeu a ocultar isso

- Quantos anos você tem mesmo? - a olhei com um sorrizinho

- Sou uma senhora em um corpo jovem - eu ri e a abracei

Rafaella POV

Estava rezando depois de ajudar minha mãe com o jantar. Meus pais estavam mais felizes depois que passei a rezar ainda mais. Aquela angústia que vinha me consumindo só piorou depois que beijei Gi, eu passei a rezar por horas a fio todos os dias. Mas parecia que Deus continuava sem escutá-la, sentia falta dela e depois que se beijaram a vontade de beijá-la só aumentou.

A porta se abriu atrás dela e pode ver Gizelly com uma mochila nas costas e minha mãe atrás dela.

- Muito obrigada por me permitir passar a noite aqui – dizia com sua melhor voz de obediente – Rafaella tem sido uma grande inspiração pra mim e estou aprendendo muito graças a sua ajuda.

- Fico muito feliz por isso – minha mãe me olhou – Não durmam tarde e não fiquem conversando. Você está aqui para aprender mais sobre Deus – Gizelly assentiu e não contestou. Assim que fechou a porta ela se aproximou de mim.

- O que você está fazendo aqui? – meu coração estava um misto de confusão e excitação, fazia um tempo que não estava assim próxima a ela

- Eu quero que você me diga por que está me evitando – ela parecia determinada, seus olhos castanhos focados nos meus

- Eu não me afastei de você Gi – não consegui continuar olhando-a

- Não minta pra mim – escutamos passos na escada e nos ajoelhamos uma ao lado da outra como se estivéssemos rezando, um silêncio tenso se fez presente até que ouvimos alguém se afastar

- Vamos nos meter em problemas Gi – falei tão baixo que soou apenas como um sussurro

- Não vou sair daqui até você falar comigo – ela deu um sorrisinho – E prepare-se por que vou dormir aqui. Então eu tenho a noite toda

- Gi eu acho que não podemos ser amigas. O que aconteceu naquele dia foi errado e foi culpa minha – me apressei em dizer – Eu não sei o que há de errado comigo

- Eu não contei a ninguém rafa – ela segurou minha mão e aproximou seu rosto do meu – Eu não quero que você se afaste de mim. Sempre fomos eu e você. Sinto sua falta – ouvi-la dizer isso fez meu coração apertar, se notava que ela estava magoada

- Eu estou tão confusa – finalmente admiti em um suspiro, eu precisava desabafar com alguem – Eu não sei o que tem de errado comigo – ela não falou nada e segurou minha mão, entrelaçando seus dedos aos meus

- Vai ficar tudo bem – ficamos em silêncio outra vez, mas dessa vez confortável. Gizelly mexia comigo mais do que poderia admitir e isso me aterrorizava.

Não falamos muito aquela noite, mas eu não consegui dormir. Eu estava dividindo a mesma cama que Gizelly e o fato de enquanto dormia Gizelly ter se aninhado nela não estava ajudando. Elas já haviam dormido juntas tantas vezes. O que havia mudado?

Por mais que soubesse que deveria me afastar dela. Não era forte o suficiente para expulsá-la de sua vida. Deus sabia que estava tentando. Foi desperta de seus pensamentos pela voz baixinha de Gizelly, seu corpo começou a tensionar e parecia que ela estava chorando.

- Gi – sussurrei acariciando suas costas – Gizelly acorda – ela abriu os olhos assustada, sua respiração acelerada – Teve um pesadelo? – ela apenas assentiu e me abraçou forte. Escutei seus soluços e a apertei em meus braços – Hey, é só um sonho okay?

- Você tinha – ela soluçou – ido embora e me deixado pra trás – ela me olhou, seu rosto banhado em lágrimas – Promete que não vai me deixar Rafa?

- Eu prometo Gi – beijei sua testa – Eu Prometo

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