I Drink Wine

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Há quatro meses veio me dedicando integralmente ao meu trabalho, pois praticamente daqui um mês ocorrerá o campeonato regional de danças.

Vencer traria para a escola uma grande quantidade de novos alunos, além do prêmio, claro. E, a coreógrafa orientadora seria reconhecida e teria prestígio, que era o que me cabia.

Meu processo criativo ocorreu de forma expansiva, precisei estar em conjunto com os alunos. Por esse motivo eu passei mais tempo nas salas com eles e os professores, do que em minha sala. Ao vê-los em pleno movimento, realizei a arquitetura, planejamento e desenvolvimento das coreografias.

A parte mais fácil havia sido feita, agora ocorreria o mais difícil que era repassar as coreografias. Eu cuidava com zelo dos detalhes, repassar uma coreografia era emblemático, portanto há quase dois meses os alunos escolhidos passavam por ensaios diários e aulas complementares.

Os representantes do Sonata haviam saído em grande parte das turmas de Rafaella. O grande embate era a escolha principal para a valsa, ela nomeou Mavie, a contraponto Natallie indicou Jennifer. E no final a decisão seria minha.

Ao observar as duas alunas, optei por Mavie. A menina é uma dançarina graciosa, furtiva e ótima em seus passos. Além de que trazia detalhes minuciosos para a coreografia, o que era esplêndido. Minha escolha não poderia ser diferente.

Com o Tablet em mãos, retiro meu óculos e analiso a dançarina com precisão. Um dia atrás percebi que algo não estava correto, era um movimento básico de levantamento e pouso.

Mavie e Junior deslizam para o centro do salão, o dançarino a eleva, e ao descer a vejo trepidar.

- Droga. - Sussuro ao colocar o óculos.

O que ontem havia sido apenas um detalhe mínimo, hoje era algo que me preocupava.

Não interrompo a dança, e novamente percebo um deslize da dançarina. Em seu rosto não está o sorriso feliz, mas sim traços de dor. Quando finalizam, agradecem as pessoas presentes que assistiam o ensaio. Eu e os demais aplaudimos.

- Mavie? - Chamo a dançarina - Poderia falar com você por um instante.

- Sim, professora. - Ela vem até mim.

- Está tudo bem? - Pergunto.

- Claro.

- Tem certeza? - Indago.

Ela confirma com um acenar.

Rafaella que até então conversava com o Junior do outro lado da sala, o deixa e vem até nós.

- Aconteceu alguma coisa? - Franze a testa ao questionar.

Não respondo, espero a sala esvaziar.

- Gizelly, o que foi?

- Quero confirmar que está tudo bem. - Aponto para o meio da sala - Mavie, faça uma pirueta. - Rafaella me olha intrigada sem entender.

A aluna vai até o centro, realiza o port de brass, deixando os braços harmoniosos. Em seguida o tendu, meus olhos observam atentamente os seus pés quando ela faz o plié. A pirueta acontece em meia ponta, e sua descida se torna inconsistente. Praticamente perdendo o equilíbrio ao finalizar.

Kalimann suspira, trocamos um olhar. Ela agora entendia o que eu estava fazendo.

- Posso ir agora? - Mavie pergunta nervosa.

- Ainda não. - Rafaella a responde - Poderia ficar na ponta. - Lhe dá outro comando.

A menina tenta realizar o movimento, porém não consegue.

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