[7] O caminho daqueles que se foram

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Me leve para o jardim onde íamos e purifique a minha alma.

Me liberte dessa raiva que carrego e me faça inteiro.

- Nathan Wagner (Innocence)

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Jeongguk não gostaria de admitir, mas passou o resto do dia pensando nas palavras do príncipe. Os lupinos que conhecia pareciam ter uma visão deveras romantizada das almas gêmeas — Sua Alteza incluída nesse meio. Esqueciam-se de que por trás de uma promessa tão bela de amor eterno e pessoas destinadas, havia uma maldição.

Era cruel demais pensar ser obrigado a passar o resto de sua vida ao lado de alguém por quem não nutria mais que indiferença e temor se não quisesse simplesmente adoecer e morrer. Tudo porque foi dito que assim seria, sem ressalvas.

Jeon Jeongguk conhecia a verdade dolorosa por trás dos olhos cor-de-rosa de dois lupinos prometidos, diferentemente da maioria. Sua mãe tinha uma alma gêmea e era completamente apaixonada por ela, pelo menos até ser completamente renegada pela mesma com palavras duras e adoecer após vê-la casar com outro numa cerimônia grandiosa. Claro, Qiërhazig, sua mãe, também encontrou alguém com quem compartilhar alguns anos de sua frágil vida, mas entre ela e o alfa não havia nada além de uma genuína amizade que resultou em seu nascimento.

Às vezes o ômega se sentia culpado por desejar que a alfa que rejeitara sua mãe morresse dolorosamente com a síndrome, mas ao lembrar do quanto Qiërhazig sofrera antes de ser, de fato, assassinada pelos Vermelhos, a culpa evaporava tão rápido quanto o vento muda de direção. Foram incontáveis as noites que a mulher passava em claro, tossindo sangue ou com dores constantes no peito. Desmaios frequentes e fraquezas repentinas eram parte de sua rotina diária. Jeongguk era apenas um filhote, mas lembrava-se bem dos detalhes que mais velha se esforçava para esconder de si.

Havia sido a parte mais tenebrosa de sua vida até então — ver aquela que mais amava sofrer e em seguida perder a vida havia quebrado uma parte de si.

Então, sim, Jeongguk era ressentido com todo o sistema de almas gêmeas, mesmo que fosse algo impossível de ser mudado. Ele jamais se entregaria.

― Hyung?

O moreno piscou algumas vezes ao ouvir a voz baixinha tão perto de si, só então notando que Yoongi o olhava curiosamente enquanto mordia um pedaço de maçã. Balançou a cabeça levemente, eliminando os pensamentos que lhe assolavam desde cedo enquanto voltava à sua tarefa de tentar consertar alguns rasgos em um de seus kipporls.

Queria apenas costurar outro novinho em folha, mas os poucos tecidos que tinham haviam acabado há alguns dias e ainda não haviam juntado moedas suficientes para fazer uma nova compra no mercado.

― Sim?

― A visita do príncipe mexeu contigo ― constatou em meio a risos e o Jeongguk chiou em sua direção, reclamando como uma mãe de idade avançada.

― Já falei para não falar dele, Yoongi!

― Ah, mas por quê? ― Yoongi resmungou, enfiando o último pedaço de maçã na boca e inclinando o corpo para trás na cadeira de madeira, a balançando perigosamente nas duas pernas traseiras. ― Não é como se não falar dele fosse mudar o fato de que são almas gêmeas.

Fez questão de enfatizar, com um sorriso arteiro.

― Yoongi, tu sabias que quem fala demais dá bom dia aos cavalos?

― Água mole, pedra dura, tanto bate até que fura. ― Deu de ombros, com um sorrisinho.

― Pois tenha certeza de que aqui não fura ― Jeongguk murmurou e o menor riu, respondendo com um "fura, sim. O príncipe tem um aliado do lado de cá."

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