Capítulo 39

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Maddy

As últimas semanas se arrastaram em exames, repouso absoluto e uma sequência de visitas no hospital que realmente me deixou impressionada,o fato da família de Michael se importar tanto comigo assim era algo que aquecia meu coração, eu nunca imaginei que um dia teria pessoas ao meu redor que se importasse com o meu bem-estar.

Emily e eu não tivemos nenhum tipo de ferimento grave, apenas foi recomendado remédios para dor e o médico pediu que fôssemos ao psicólogo do hospital pelo menos uma vez por semana, para o caso de traumas que o sequestro pode ter nos trazido.

Miguel, pai de Emily e seu detetive me visitaram dias depois, onde eu os contei tudo que realmente tinha acontecido, de onde eu conhecia Brad e quem ele era. Por um momento, pensei que Miguel ficaria bravo comigo, mas ele me acolheu e me assegurou de apagar o vídeo para não correr o risco de deixar alguma cópia espalhada por aí que possa me prejudicar outra vez no futuro.

Eu pedi para que ele não contasse à Michael, porque eu devia a explicação para ele, e falando no próprio, apesar de se mostrar preocupado com a minha recuperação, Michael tem se mostrado distante emocionalmente comigo, talvez pelas coisas que eu tenha dito que ainda são recentes demais, a nossa briga ainda machuca em mim e as suas palavras também.

Desço as escadas ao ouvir a campainha do apartamento novo de Maria Júlia tocar, esse que a mesma insistiu para que eu ficasse com ele, eu tentei recusar, mas o senhor Kavinsk e sua esposa foram mais insistentes do que eu imaginei, e como eu não tinha para onde ir, aceitei, não querendo ser um peso para CJ, ainda mais agora que estou machucada e ela tem seu sobrinho para cuidar.

Era um apartamento simples de dois andares, dois quartos, cada um com seu banheiro, uma sala/cozinha com uma ilha e uma varanda, porém era espaçoso, o que tornava, de certa forma, aconchegante.

Ao abrir a porta, meus olhos se arregalaram levemente e eu simplesmente parei de respirar, meu coração batendo forte e tão alto que eu suspeitei que Michael poderia escutar agora, enquanto estava parado diante de mim e com uma rosa em mãos, a calça jeans surrada preta e uma camisa de manga curta preta também.

- Eu posso? - perguntou apontando para dentro do apartamento e balancei a cabeça, saindo do transe em que havia entrado e peguei a rosa.

- É claro, entra - ele passou por mim e me deixei inalar seu cheiro por um segundo à mais, para sentir o conforto que um dia eu já tive.

- Como você tem passado? - perguntou, sentando-se no sofá e dando batidinhas para que eu me sentasse ao seu lado também.

- Ah, estou bem.. estou melhorando aos poucos.

- Isso é bom.

um silêncio desconfortável acolheu o lugar, como uma nuvem cinza pronta para soltar a tempestade e estilhaçar o que estiver pela sua frente, sem dó, sem receio.

- Michael - começo - Eu preciso contar minha história para você..

- Eu estou ouvindo - murmurou, encostou-se no sofá e cruzou os braços - Você pode começar.

- Certo..

Uma vez, CJ me disse que quando cavamos nossas feridas em busca da nossa cura, a sensação é de dor, é como você pegar suas próprias mãos e se rasgar ao meio, mergulhando dentro de algo sombrio que existe dentro de você e só você mesmo conhece, algo que você manteve lá durante tanto tempo, porque sabia que podia doer.

"O processo é lento e doloroso, Maddison, vai haver momentos em que vai doer mais do que os outros, as vezes.. você vai pensar em desistir por não conseguir suportar, é como você mergulhar no oceano no meio de uma tempestade, você vai enfrentar vários obstáculos, e esses obstáculos, são os seus medos, você precisa se manter firme porque no final de tudo... vem o sol" - ela disse.

CJ estava certa, conforme as palavras saíam da minha boca, um buraco se formava em meu peito, vazio, escuro e frio, como se estivesse me engolindo para si.

Michael não me olhou durante a conversa, mas se mostrou atento à cada palavra dita por mim e enxugou minhas lágrimas vez ou outra, contei sobre meus pais, as coisas sujas que Brad me fez fazer e tudo que passei com ele também, foi doloroso e por um segundo quis desistir de contar, mas era tarde demais para recuar e me esconder, por mais que eu sentisse nojo de mim mesma enquanto contava.

Michael me cercou com seus braços, seu calor fazendo-me suspirar de alívio, meu coração batia tão forte que pensei que sairia para fora a qualquer momento.

- Eu sinto muito por tudo, Maddison! - sussurrou em meu ouvido - Sinto muito pelas coisas que você teve que aguentar sozinha durante todos esses anos.

- Me desculpa por tudo - digo baixo - Será que nós podemos.. - me afasto para olhá-lo, a ansiedade me deixando nervosa demais para dizer algo.

- Maddison..

- Nós não podemos mais ficar juntos? - perguntei, levando um soco no estômago ao ouvi-lo responder:

- Não.

- Como assim? - meus lábios tremeram com o choro que engasgava na minha garganta e pisquei várias vezes, as lágrimas pesadas descendo pelas minhas bochechas - Do que você está falando, Michael?

- Não podemos voltar - ele diz - Eu sinto muito pelo seu passado e por tudo que aconteceu com você, mas..

- Mas o quê?

ele negou com a cabeça - Você me magoou por algo que eu não tive culpa.. - murmurou - Eu sempre me mostrei estar aqui por você, sempre implorei para que você se abrisse comigo, e agora eu só percebo mais ainda que eu me entreguei mais do que você.

- Isso não é verdade, Michael - digo chorosa - Eu não podia contar, eu.. como você queria que eu fizesse?

- Tudo seria resolvido se você apenas fosse honesta comigo..

- Michael, você não pode estar falando sério, eu acabei de contar os meus motivos para você.

- E eu acabei de dizer, Maddison - ele se levantou catando suas coisas e agarrei sua mão.

- Não me deixa, Michael..

- Foi você quem fez isso com nós dois - diz baixo - Você ficou presa em suas inseguranças e me machucou, a porra do seu vídeo? eu assisti! e eu nunca ia virar as costas para você por causa daquilo, eu resolveria isso em dois minutos, o dinheiro pro seu ex? ótimo, eu também resolveria, eu te dei tudo de mim, Maddison, mas você estava cega demais para ver.

Michael caminhou rumo à porta e caminhei atrás dele em desespero, a dor em meu peito tão aguda me deixando desconcertada, parei abruptamente ao vê-lo sair do apartamento e bater a porta, o ar me faltando e encostei-me no balcão, eu não podia respirar.

Lágrimas saíam como uma cachoeira de mim, aperto meu peito com a dor que dilacerava meu peito e grito, deixando-me bater com os joelhos no chão e chorar, o soluço rasgava cada vez mais o meu peito, eu estava quebrada, se duvidar, bem mais do que antes.

eu perdi a única pessoa que havia me amado de verdade, olhei tanto para trás, para as coisas que eu nunca tive, que não percebi o que eu tinha, bem aqui, na minha frente durante tanto tempo..

eu perdi o amor da minha vida..

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Boa leitura! ❤

HERDEIROS #2 - Nos olhos do CEO Onde histórias criam vida. Descubra agora