From the dinning table

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O que a gente se tornou?

  Oi amor. A gente não se fala desde que eu fui embora, e agora eu só não sonho mais contigo (sempre acordo sozinha sem teu cheiro). Eu te bloqueei até da minha mente ou tu só não se atreve a invadir meu espaço mais lá?
  Eu acredito que relações e coisas são constituídas de espaço. Só que não espaço do tipo matéria, espaço físico, sabe? Por exemplo, em uma amizade, saudade, confiança e amor oculpam o espaço entre as pessoas, impedindo de ficar vazio. O vazio é o que destrói e dilacera relações. Se houver uma brecha ele se instala e se expande até tomar tudo para si. A saudade sempre tá em tudo, mas nem tudo é sobre ela. E acho que esse é o maior problema: os espaços entre nós estão sendo preenchidos e sufocados pela saudade.
  A primavera foi mesmo passageira. Nós florescemos, desabrochando e caímos. Eu só errei em achar que seríamos diferentes das outras flores. A eternidade é um mito, eu sei, mas ela parecia real contigo. Talvez tenha sido só mais um de nossos milhares de planos e promessas vazias.
  Eu já me perguntava o que a gente era um tempo antes do fim, não obtive resposta até hoje. Sei que as vezes morremos com a dúvida, mas não queria morrer contigo desta forma. Como se fosse uma pedra entalada na minha garganta. Os espaços entre nós, depois do vazio consumir tudo, são compostos apenas de silêncio, saudade e silêncio. Silêncio confortável é mesmo superestimado, e eu só queria te falar que até me meu celular sente falta das tuas mensagens, by the way.
  Fico esperando tu me mandar uma mensagem de madrugada desordenada e bagunçada, dizendo que sente muito também. Ou me mandar qualquer coisa. Me falar qualquer coisa. Fico me perguntando o que nós viramos pra ti. O que eu signifiquei. Se ainda significo algo, se tu sequer se importa mas... You, you never do.
  Eu encaro o jantar que passamos meses e meses preparando. Ouvindo músicas da vitrola, cantarolando, cortando vegetais verdes, dançando ao som do nosso dueto e se amando. Só que há um porém: ao colocar a mesa, eu te pedi pra sair pela porta da frente porque a imensidão do que tínhamos feito tava me deixando e te deixando doida. A gente não sabia como cozinhar sem se machucar. Sequer tocamos na comida. E eu fico sentada esperando. Não te esperando. Esperando por alguma esperança, talvez. Talvez qualquer resquício de nós que ainda exista se fazer presente. Qualquer coisa além do vazio, silêncio e a saudade.
  Mas nada aparece. A comida tá esfriando cada vez mais. Eu jogo ela fora e espero a fome de nós passar? Afinal, morrer eu não vou. Eu sei. Mas... Dois pratos servidos não servem para uma pessoa só.

            — Ainda haverá algum outro banquete, mas eu te queria ao meu lado pra saborear esse jantar que deveria ser doce, e não amargo.
Como café, teus olhos e teu último beijo.

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