Pretexto

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Não ache que eu gosto de escrever pra ti. Mas também não ache que eu desgosto, eu só não sinto com tanta urgência sabe, amor? É um pretexto. É que, meu bem, você burla todos os meus sistemas de defesas e me arrepia por pouco mais de três palavras. Faz meu corpo entrar em chamas, e tudo isso, tudo isso seria um ótimo pretexto pra escrita. Mas é um pretexto, é só um pretexto, tu não entende. É que eu cansei dos pretextos amor, cansei das desculpas e da exposição de abrir minha veia e deixar os poemas escaparem do meu sangue fervendo. Cansei de ter que revirar meu crânio atrás das palavras certas, dos gestos e rimas que te encantariam por mim e te fariam ficar, ansiando por mais. Cansei de ser só as minhas palavras fingidas no papel porque no fim, no final, tudo isso é só um pretexto amor. É que contigo, eu não gosto de pretextos, gosto da verdade crua e nua (exatamente como cê gostaria de me ver). Contigo eu gosto de palavras ditas sem pensar e explicações de poesia e nada de ladainha. Contigo eu gosto de dias de blusão e cabelo bagunçado (e saber que tu me adoraria em meio ao tempo nublado). Gosto das coisas que contamos em segredo e do fato das palavras entre nós terem muito mais valor do que as do meu caderno, e de eu poder te falar sobre tudo que vier a telha sem pestanejar, e tu concordar. Gosto de que eu não preciso esconder nada de ti e escrever pra suprir, gosto de não ter a necessidade de criar preceitos pra conversar com você. Contigo eu gosto de ser eu, só eu, sem nenhum  pretexto pra te fazer ficar ou gostar de mim, mas ficar feliz de que mesmo assim (mesmo assim, com tudo isso tudo isso) cê sempre voltar.

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