É que sabe amor, nem deu tempo de me preparar pra ti. quando tu chegou, eu tava descabelada numa faxina enorme, limpando a bagunça que tinha ficado quando eu me entoquei em mim mesma. tava vendo um coturno ir embora pelo rio e me despedindo feliz da vida dele. tava tirando a sujeira debaixo do tapete e trocando a chaleira por garrafas de chá gelado pro verão.
mas aí cê apareceu. cê apareceu no meio de tudo isso, com a casa desarrumada e a gata me pedindo comida. cê apareceu e nem bateu na porta, nem isso tu teve que fazer. nem subir as montanhas. tu só entrou. e eu ri e fiquei vermelha pelo teu abuso mas deixei, deixei você entrar. Deixei você se apossar da minha rotina, cativar a minha gatinha e me desmontar com teu sorriso de canto. deixei a maldita sanfona tocar na minha cabeça enquanto eu pintava no meu quartinho um coração vivo e vermelho-vibrante no meio de uma encruzilhada de duas cidades, iluminando tudo. deixei tua blusa preta ficar na minha cama e tu rir quando eu fiquei sem voz quando cê tirou ela. deixei tu fazer tudo isso como se fosse rotina mesmo, alguém simplesmente aparecer e tomar tudo de mim com a mesma facilidade que se respira. deixei você me contar dos livros que tu gosta e segurar minha mão quando eu tava nervosa. deixei você virar a minha rotina, você se infiltrar nela tão tão bem a ponto de eu já não saber mais distinguir onde tu tá e onde tu não tá,
até porque cê tá em toda parte.
e eu deixei tu estar em toda parte, mesmo descabelada e despreparada, porque sabe, acho que era pra ser. era pra tu me encontrar bagunçada e não me bagunçar mais ainda, ou tentar me arrumar. sempre foi pra cê me gostar assim, do jeitinho que eu tô, sem tentar nem me mudar. era procê nem ter batido na porta, mas me cativado sem nenhum convite. dizem que o acaso e o destino agem quando a gente menos espera, tu é o meu acaso mais lindo. e tu pode não acreditar em destino, mas qual nome cê daria amor? pra tu simplesmente esbarrar em mim no meio de uma semana durante uma chuva de verão, e a cidade fria e cinzenta se iluminar com um pouquinho (só um tantinho) a mais de amor e cor. não me arrependo de ter te colorido com as cores vibrantes e tu ter acendido em mim uma vela que eu pensei que tivesse se apagado. que eu pensei que nunca mais se acenderia.
Tu não é um meio termo querida. você não é o que eu tive até agora (alguém que me causasse caos ou alguém que quisesse me moldar). cê é quem eu sempre deveria ter tido e buscado. pra ti eu não devo nada, e nem sequer sou muita coisa, mas tu faz eu me sentir como se fosse um fenômeno. e pra tu me olhar como se eu fosse um milagre, uma vela se acendendo no espaço, eu só precisei ser eu.

se eu soubesse do que eu aprendi contigo antes tudo teria sido muito diferente, mas não arriscaria a diferença de não termos nos encontrado em nenhuma galáxia ou tempo espaço.
então sabe, fico feliz, feliz de te ter bagunçada e risonha, da mesma forma que cê me tem atrapalhada e teimosa.

(Esse é pra tu)

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