se eu te roubar um beijo, tu me devolve?

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Olho nos seus olhos
Enquanto meus ouvidos (tentam) registrar o que sua boca diz 
Minhas pupilas se perdem em ti
E meus dedos remexem os anéis na minha mão
Num tique nervoso tão familiar pra mim
Mas tão novo pra você.
Paro na sua covinha
quase mordo a minha boca enquanto tu ri
(Começo a pensar
E arquitetar 
O roubo mais bem feito da história).
Inclino meu corpo na sua direção 
(Num convite silencioso:
"Quer ser meu comparsa?"
Você nem aceita nem recusa)
Sei que preciso te fazer ler nas entrelinhas pra não te assustar
(E te fazer chamar a polícia)
Então continuo a te escutar falando
Subo o meu joelho, abraço a minha perna
Você se vira para mim
Esboço um sorriso pela abertura
(O guarda dormiu,
Será que sou silenciosa para ultrapassar teus limites sem ser notada?)
Seu corpo se aproxima do meu
e eu coloco a mão na boca tentando me concentrar no que tu ta me mostrando 
(E, ao mesmo tempo,
em destravar a sua fechadura com um grampo de cabelo)
Confirmo com a cabeça quando tu me pergunta se eu entendi
(Quase lá...
Escuto a passagem trilha sonora de ação para uma vitoriosa dentro da minha cabeça
Aos poucos)
Quando de repente
Tu se afasta
Me olha nos olhos
"Desculpa, eu tô falando demais né?"
Respiro fundo
(Fui pega em flagrante
E nem consegui roubar o que eu queria)
Sorrio de lado
(Completamente derrotada
As algemas frias sob os meus pulsos
Encaro o teu castanho mais claro que o meu)
"Desculpa eu, pode falar. Vou prestar atenção"
Não minto dessa vez
Chegando a conclusão de que a vida de mafiosa talvez não seja para mim
Voltando a me recostar na cadeira
E a olhar (só para) os seus olhos
Enquanto passo o fardo pesado de roubar um beijo
De mim
Pra ti.



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