Capítulo II

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Simone.

— Onde está a Eduarda?

Questionei ao perceber que a casa parecia vazia. Eduarda não parava quieta um minuto se quer, se eu não escutava sua voz por mais de dois minutos, deduziria imediatamente que não estava em casa.

E eu estava certa.

— Ela saiu com a Fernanda.- Assenti em compreensão, logo comendo um pouco da salada que havia no prato.— Querida, precisamos conversar.

Com essa conclusão, imediatamente o olhei. Eu, muito difícilmente, o ouvia falar sério daquele jeito e minha mente não conseguia encontrar um motivo para aquilo.

— Você sabe que essa ideia de ambos partidos parece absurda e eu sei que você não concorda com nada disso.

Ele começou, mas deu uma pequena pausa. Parecia pensar bem no que ia falar e logo soltou um suspiro, passando as mãos pelo rosto enquanto encarava o prato quase cheio.

E só então, eu havia percebido que ele mal havia tocado na comida.

— Mas não dá pra fingir um relacionamento, morando com seu ex marido.- Brincou tentando amenizar o clima, o encarei incrédula, esperando que continuasse.— Os partidos alugaram uma casa, onde vocês ficarão por um tempo.

— Eu não tô acreditando nisso.

Era realmente um absurdo escutar aquilo, chegava a ser ridículo. De onde andavam tirando aquelas ideias? E como faziam isso sem ao menos me questionar?

— Amor, não dá para dizer que terminamos, nem que você está namorando a Soraya se continuarmos morando juntos.

Eu amava como ele conseguia ser tão compreensivo em um momento como aquele. Mas ainda não concordava, para ser sincera, aquilo era uma loucura.

— Eu não vou para longe das minhas filhas.

Pontuei empurrando o prato um pouco para frente, antes de colocar o guardanapo em cima da mesa e me levantar.

— O lugar é aqui perto e as meninas podem ficar com você quando quiserem.

Ele tentava de toda forma me tranquilizar, tentava fazer com que aquela proposta não parecesse tão absurda.

— Por que não discorda de nada disso? Por que não reclama de algo? - Questionei, não conseguia compreender aquilo.

Como ele poderia falar tão naturalmente? Eu não entendo.

— Porque eu só quero o que é melhor para você, amor.- Explicou.— Eu estou do seu lado, confio em você.

Soltei um suspiro frustrado e saí dali, seguindo em direção ao meu quarto. Precisava ler algo, descansar.

Ao entrar, peguei um livro de literatura na instante e me sentei na poltrona. Estava lendo um clássico "Como as democracias morrem." de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt.

Era um livro que havia se mostrado interessante, eu havia concluído metade do livro em dois dias. Esperava que ele fosse capaz de me distrair ao menos um pouco.

— Mãe?

A voz de Fernanda se fez presente no corredor, sorri ao ouvi-la. Eu estava morrendo de saudades, não sabia se aguentaria essa ideia dela de morar na faculdade durante a semana por muito tempo.

— Meu amor, que saudade.- Concluí, recebendo dela um revirar de olhos e um sorriso. Soltei o livro na mesa ao meu lado e levantei, puxando-a para um abraço.— Como está indo a faculdade? Tá bem?

Questionei. Fernanda cursava faculdade de direito e tinha o desejo de seguir meus passos futuramente. Me sentia honrada em ver que minhas filhas, me tinham como inspiração. Afastei-me um pouco dela e a vi sorrir, balançando a cabeça positivamente.

Contrato (Simone e Soraya)Onde histórias criam vida. Descubra agora