Capítulo 1

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Estudar sempre foi algo difícil para Juan, principalmente pelo fato de que os métodos de estudo ensinados nas escolas em que ele esteve eram em sua maioria ineficazes. Foi difícil para ele ter que sempre tentar prestar atenção enquanto o giz riscava no quadro preto e fazia com que ele caísse no chão e gritando com as mãos nos ouvidos, ter que lidar com os colegas que riam dele por causa dessas crises e ainda prestar a atenção no que o professor dizia.

Dentro do seu quarto, deitado na cama com o livro sobre código penal em mãos, Juan tentava entender a linguagem rodopiante das palavras escritas, achando que, nos primeiros cinco minutos seria possível. Trinta minutos depois, ele ponderou em deixar de tentar entender, achando que seria mais fácil desistir de tudo e virar professor, mas o pensamento desaparece depois de lembrar que teria de conviver com muitas pessoas, indo totalmente contra a sua fobia social. Uma hora depois, Juan deixou o exemplar do código penal de lado, não sabendo diferenciar se estava escrito em sua língua corrente ou em árabe.

Um copo de plástico se choca contra a sua cabeça, o fazendo levantar os olhos em direção à porta. Mirka estava parado na entrada com a mão na maçaneta e o rosto avermelhado. Retirando os tampões de seus ouvidos, Juan encarou os olhos claros do amigo esperando o motivo da interrupção dos estudos de código penal.

No andar de baixo, a música rapidamente atravessou os seus tímpanos, causando em si o desejo de gritar com as mãos nas orelhas até que o barulho parasse.

– Precisamos de gelo – disse Mirka, sorrindo.

Juan levantou desgostoso, levando o livro até a pequena estante e saiu do quarto junto do companheiro de casa, ele enrugou as pálpebras sobre os olhos enquanto descia as escadas, sentindo a música aumentar a cada degrau que descia. Eram momentos como esse que Juan se arrependia de ter aceitado o acordo da fraternidade de ter que pagar menos nas despesas, desde que fosse em busca de tudo o que eles precisavam durante as festas.

Andando até a cozinha abarrotada de corpos colados uns nos outros e cheiro de cigarro esvoaçando pelo ar, Juan parou de andar ao ver o quão bambas estavam as pernas de Mirka. Por mais que o loiro fosse um amigo prudente, Juan jamais aceitaria subir em um carro com Mirka ao volante, mesmo ele estando sóbrio, bêbado era o mesmo que pedir para ser empurrado de uma ponte.

– Mirka, quem vai nos levar até a loja? – disse pegando o ombro do amigo, o fazendo se virar.

– Calma. – disse Mirka. – O Adan vai te levar.

Mirka andou até as prateleiras, perto de onde um baixinho se colocava nas pontas dos pés, tentando ver o que tinha por cima do exaustor do fogão. Ele escorregou no azulejo e acabou caindo, antes de rir com a mão em frente a boca, na tentativa de abafar o som, como se fosse possível ouvir alguma coisa por cima de uma versão eletrônica de "Bang Bang".

Mirka o ajudou a levantar enquanto Juan começou a olhar em volta, observando se não havia mais nenhum conhecido que pudesse, para tentar fugir da morte certa que seria subir em um carro com o Adan no volante.

Ele caminha até onde os amigos sussurravam com as bocas próximas aos ouvidos um do outro, e espera até que os dois percebam que, dirigir nesse estado, não faz sentido nenhum.

– O Boris não bebeu, então você pode emprestar a chave nele e no Juan – disse Mirka. – Depois de comprar o gelo eles voltam e te entregam o carro intacto.

– Eu te empresto o que você quiser, Mirka, só me diz onde que tem café nessa merda de cozinha.

– O café acabou. Ainda não fizemos as compras da semana, então não tem. Mas o Boris e o Juan podem te acompanhar até a loja, também vendem café por lá.

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