Capítulo 20

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A perna trêmula de Boris subia e descia rapidamente. A mão de Juan pousou firme em sua coxa, silenciando, delicadamente, a borracha da sola de seu tênis que se esfregava no mosaico branco do chão.

Era sexta-feira e eles estavam na frente do consultório, esperando pelo resultado dos exames. Juan passou a acariciar sua perna, tentando passar confiança, enquanto Adan dormia aconchegado no ombro do loiro, com os seus braços entrelaçados.

O formigar da ansiedade subia pelo seu pescoço e parou um pouco abaixo das suas orelhas, onde as pontas do seu cabelo tocavam a pele arrepiada. Quando eles entraram no consultório e viram o doutor Patrick retirar quatro envelopes de sua gaveta, o formigamento subiu até a nuca de Boris.

Os envelopes estavam lacrados e cada um abriu o seu, com exceção de Adan que abriu dois, e o suspiro audível de Juan foi tão alto que fez o crespo sorrir alto.

Boris também estava aliviado, testou negativo para todas as IST's. O medo de receber um resultado diferente desapareceu tão rápido como havia surgido no momento em que passaram pela porta da sala de espera.

Boris e Juan fizeram a segunda dose das vacinas e depois receberam cada um a sua receita, junto com algumas cartelas de Profilaxia Pré-Exposição – PrEP. Adan teria que comprar os seus na farmácia do hospital, pois apenas a primeira cartela era por conta de lá.

Quando saíram do estacionamento com Boris ao volante, a noite já começava a pincelar o céu. Juan trocava as músicas no painel do carro enquanto o dono do veículo cabeceou no banco de trás.

Boris passou por um drive-thru, e junto de Juan, pediram dois hambúrgueres, cinco porções de batata frita, um balde de nuggets, refrigerante, suco e água. Ambos fizeram questão de não acordar Adan para que ele não tivesse que pagar, pois este teve que trabalhar até às duas da manhã.

Eles foram até ao cinema drive-in e pagaram para assistir "Orgulho e Preconceito". O filme já estava na metade quando chegaram, mas Boris não se importou e apenas abriu a porta para passar para o banco de trás. Juan espelhou a ação do loiro, mas quando abriu a porta, Adan acabou acordando com o susto de quase ter ido de encontro ao chão.

Os pés de Boris doíam devido a intensidade dos ensaios. Por um breve momento ele se lembrou de quando sua mãe preparava uma bacia com água e gelo. A memória se desvaneceu ao mesmo tempo em que o loiro recordou que isso era algo distante da sua realidade agora e mordeu o hambúrguer em suas mãos com um certo desgosto.

– Obrigado – disse Adan, apoiado no ombro de Juan. – Estava precisando disso. De vocês.

O mais alto abraçou Adan e o beijou devagar. Boris se jogou no meio do abraço e durante o último ato, eles acabaram em uma posição estranha em que Juan tinha as suas costas apoiadas na porta, Adan entre as suas pernas acariciando o seu peito e Boris deitado, com a cabeça perto do pescoço do crespo e os pés na janela.

– E o que é que a gente faz agora? – perguntou Juan, apoiando os cachos na janela.

– Acaba de ver o filme? – disse Adan do topo da cabeça de Boris.

– Não sobre o filme – começou. – Sobre aquilo... você sabe. Os resultados já saíram e tudo...

– Podemos marcar em algum fim de semana – disse Adan, deslizando os dedos pelo rosto de Boris. – Eu mando os meus irmãos para a casa da minha tia e a gente pode jantar, – Os dedos desceram pelo pescoço do loiro, fazendo com que um formigamento se espalhasse por onde passavam. – beber alguma coisa depois... E dormir.

O sorriso de Boris roçou pelo pescoço do negro, que mergulhou a mão nos cabelos loiros.

– Ou fazemos aqui mesmo – disse Boris, fazendo os outros dois rirem descontroladamente.

Já passava das oito da noite quando Boris parou o carro perto de uma casa desconhecida. Eles haviam deixado Juan e agora era a vez do loiro. Pararam a quase um quarteirão inteiro de distância da casa de Adan, parecia ser longe o suficiente para que os seus pais não o vissem chegar acompanhado novamente. Apesar de saber disso, Boris não beijou Adan quando eles se despediram. O loiro apenas pegou a sacola do hospital e retirou sua bolsa do porta malas antes de acenar.

Entrar em casa passou a ser algo difícil. Desde o ar pesado até a mesa vazia. Haviam dias completos em que ele não via a sua mãe por ela estar sempre trancada no quarto quando ele estava em casa, mas sem dúvida alguma, a pior parte era ter que conviver com o seu pai.

Pouco tempo depois do Grande Dia, seus pais passaram a ignorá-lo. Não havia conversa, convívio ou até mesmo um "bom dia". Com o passar do tempo, sua mãe continuou a se afastar, mas seu pai passou de estar completamente apático com a sua presença, para se tornar alguém irritadiço. Parecia que o simples fato de Boris estar respirando na mesma sala que ele, fazia o seu sangue ferver.

Depois veio a língua. Diferente de antes, que sempre conversavam em russo quando estavam em casa, mas agora Boris só o ouvia falar em inglês, como se fosse um estranho que estava em sua casa.

O estopim entre eles dois se deu quando Boris entrou em casa e ouviu o barulho da televisão. Esperava que pudesse ser sua mãe ou o loiro, mas não era, então ele recuou devagar em direção a porta do seu quarto.

– Já não cumprimentas os mais velhos? – a voz aveludada de Nikolai causou uma náusea amarga em seu pescoço.

Boris escolheu ignorar a provocação e entrou em seu quarto. Sentado em sua cama, acabou se assustando quando a porta se abriu de repente e Nikolai passou por ela. Os seus olhos eram apenas pupilas azuis e veias vermelhas, enquanto o seu peito subia e descia.

– Você acha que eu sou algum dos teus amigos que podes ignorar?

Boris não respondeu, apenas olhou para a parede, esperando que ele fosse embora.

– Estou falando contigo – gritou, pegando a bolsa de cima da mesa de cabeceira e jogando no filho.

O tecido áspero atingiu seu rosto e depois caiu no chão, derrubando tudo o que estava dentro, incluindo a sacola do hospital junto das cartelas de comprimidos, a receita e o resultado dos seus exames.

Mesmo com os olhos ardendo pela umidade, Boris se manteve firme não desviando o olhar da parede, nem quando o seu pai se agachou para apanhar os papéis que estavam no chão.

– Seu merda – disse Nikolai em russo, saindo de seu quarto com o papel em mãos. – Eu te avisei, Tatiana, esse merda já apanhou alguma coisa. Está se entupindo de comprimidos... – A porta do quarto de seus pais bateu com força.

Com o desespero martelando em sua garganta, Boris suspirou trêmulo. Ele revirou sua bolsa e a encheu com algumas das roupas que estavam no armário. Quando estava saindo e viu as cartelas no chão, decidiu as levar consigo.

Andando pelo condomínio escuro, Boris teve que se identificar mais de uma vez quando os guardas o viram durante as suas vistorias. Dez metros se tornaram cem e depois mil. A neve congelava suas pernas quando ele bateu na porta de madeira, que foi aberta por Amara, que o olhou assustada.

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