Capítulo 19

11 5 0
                                    


Juan estava em frente ao espelho do banheiro olhando para o rosto coberto de espuma de barbear enquanto prendia seus cachos para que eles parassem de interromper sua visão. A toalha em sua cintura foi descartada e ele apoiou o seu abdômen na pia enquanto passava a gilete, devagar para não se cortar, pelo maxilar definido.

Era quinta e faltava pouco para Boris e Adan chegarem. Devido às tensões que ocorreram no início da semana, e ao fato de Adan ter passado a trabalhar também durante a hora de almoço, os três decidiram que iriam se ver todas as noites.

Apesar de, por um lado, ser muito bom para Juan, pois ele ficaria com saudades se tivessem que se ver apenas nos finais de semana, se ver todas as noites significava que ele seria obrigado a se arrumar antes de vê-los.

Era diferente quando se juntavam na hora do almoço, ninguém estava bonito depois de passar horas em uma sala de aula, ou num estúdio de dança. Juan poderia ir com os cachos todos amassados e veria Boris com o cabelo úmido de suor. Adan passava tanto as mãos pela cabeça que não havia maneira dele sequer reparar em um cabelo bagunçado.

Mas na terça, de noite, Juan se vestiu da mesma maneira de sempre e se sentiu envergonhado ao ver Adan tão bonito dentro do carro. A pele do negro estava tão hidratada que todas as luzes que se chocavam com ele, refletiam como um flash. O cabelo definido e o perfume amadeirado fizeram Juan se sentir sujo, feio e mal vestido. O sentimento piorou quando ele olhou para Boris e viu que o loiro estava com o cabelo curto preso, aquilo valorizava mais o seu rosto quadrado e os olhos claros.

Eles haviam combinado de não se arrumarem demais porque era apenas para se verem por um tempo e mais nada, mas Juan, por ser o mais alto, parecia um grande trambolho no meio dos dois homens lindos de tão destoante que estava. Se antes Juan achava que era normal estar levemente desarrumado, agora ele fazia questão de se arrumar o máximo que podia para chamar a atenção deles.

Vestido em seu quarto, o cacheado procurava por roupas quentes, mas que o permitissem caminhar livremente. Já fazia quase uma semana que não nevava, mas ainda estava frio. Ele não iria levar um casaco, pois gostava quando Boris lhe entregava o seu.

Na terça, quando eles foram andar pelo parque, as coisas estavam estranhas. Uma coisa que Juan aprendeu após passar tanto tempo com Boris era que ele sempre pensava demais e verbalizava pouco, mas era necessário deixar que terminasse de juntar as peças na mente dele antes que falasse sobre, então o assunto: "Pais descobriram que beijo rapazes" estava fora de questão.

As coisas eram um pouco diferentes com Adan. Ele tinha um raciocínio rápido e não havia tanta dificuldade de falar o que sentia, mas eram nesses momentos que os seus traços neuro divergentes vinham à tona, como a impulsividade. O mais alto entendia o quanto era frustrante perder o controle, uma característica que você passa tanto tempo tentando esconder, por ser um sinal que te diferencia da grande maioria das pessoas, ainda mais na frente dos outros.

Uma expressão de medo se formou no rosto de Adan quando ele se eriçou pelo simples fato de Boris ter o tocado, deixando claro que se sentia mal. Juan sabia o sentimento de impotência que causava não conseguir esconder a neuro divergência em um momento de frustração, então tirou o casaco e entregou para Boris, pedindo que ele colocasse nos ombros de Adan sem o tocar, pois assim ele entenderia que o loiro compreendia o que estava sentindo e que estava tudo bem.

Na quarta eles não saíram, apenas ficaram no quarto de Juan o ajudando a escolher um novo especialista da lista Adan e depois assistiram um filme. O assunto: "Não posso me assumir para minha mãe e o meu ex-padrasto quer reduzir a pensão do meu irmão", também foi deixado de lado.

Juan passou um pouco de perfume no pescoço e no peito, para que Boris e Adan pudessem sentir assim que o abraçasse. Seu celular tocou e ele o levou a orelha rapidamente. A linha estava muda do outro lado, até que um suspiro soou alto em sua orelha, o fazendo se afastar um pouco, antes de olhar para a tela e ver o nome Carlos.

– Pai?

Juanito, como estás? – disse em espanhol.

Juan deu de ombros, e o fato de seu pai não ter uma resposta não o incomodou.

Você vem para casa no fim do semestre?

– Não!

A Grace gostaria muito de te conhecer, filho.

– Eu não vou conseguir sair daqui por um tempo, pai. Vou começar a me consultar com um novo psiquiatra – disse saindo do quarto.

Você ainda não começou a se consultar? – questionou surpreso.

– Não, a maioria dos especialistas só têm experiências com crianças, foi difícil encontrar um. Pai, eu tenho que ir – disse Juan, desligando o celular ao ver Adan parando o carro. Boris estava sentado ao lado dele.

Juan deu um beijo no loiro e subiu no banco de trás.

– Nossa, como você está arrumado – disse Boris.

– Obrigado. Só tomei um banho rápido e vesti a primeira coisa que encontrei.

– Pronto? – perguntou Adan do banco do motorista. Dessa vez, eles iriam a um drive-in.

– Sim, vamos, por favor – disse Juan, afivelando o cinto.

Sour CandyOnde histórias criam vida. Descubra agora