Capítulo 24

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A primeira vez que Boris presenciou a opinião dos pais sobre qualquer coisa relacionada a homossexualidade, foi quando tinha doze anos. Ele assistia Steven Universo no centro da sala quando viu o beijo de Rubi e Safira, fazendo seu pai se manifestar, afirmando o quanto aquilo não era certo.

Na segunda vez foi a sua mãe. Ele tinha quinze anos e estava trancado no seu quarto com Mirka enquanto ensaiavam para o recital que teriam no final de semana. Tatiana os obrigava a manter a porta aberta e, por meio desta, Boris conseguiu ouvir quando a vizinha chorava copiosamente sobre a sua filha ter fugido de casa com outra menina a uma semana e não dava sinal de vida.

Foi naquele dia que Boris teve a mesma ideia, fugir de casa e desaparecer. Ele não sabia como fazer isso, nem mesmo se a garota que fugiu possuía os mesmos motivos para abandonar os pais, mas tinha esperança de que se deixasse tudo para trás, poderia recomeçar uma vida em um lugar onde poderia ser e estar com quem quisesse.

Aos vinte e um anos, quando passou pela porta de sua casa, ele jurou ser a última vez que fazia aquilo. A raiva que sentia crescia a cada passo que dava naquele corredor minúsculo.

Seu quarto estava destruído. Cômoda quebrada, gavetas espalhadas pelo chão, portas do armário tortas por causa das dobradiças arrancadas... Seu pai se dedicou a descontar sua frustração nas suas coisas, uma vez que o saco de pancadas havia saído de casa.

Boris olhou para o espelho do armário enquanto arrancava todas as suas roupas que restavam ali. Seus olhos estavam aquosos e o seu rosto mais magro.

Não importava quantas vezes olhasse, eles ainda estavam lá. O maxilar definido e os dentes alinhados de seu pai permaneciam em harmonia com os cabelos ondulados e as pupilas pequenas de sua mãe. Todos os seus traços eram uma réplica deles, e sempre seria assim; eles sempre estariam lá.

Boris saiu de casa com os braços abarrotados de roupas amassadas.

– Está tudo bem? – ouviu de dentro do carro assim que abriu o porta-malas. – Ouvimos algo quebrar.

– Está tudo bem, Mirka, o espelho quebrou.

O loiro voltou à entrada de sua casa, puxou o saco de lixo com o resto de suas coisas e o jogou junto das roupas amassadas.

Quando abriu a porta do carro, Boris viu um rosto no início da rua. Ela estava carregando uma bolsa e várias sacolas. Mesmo distante demais para enxergar a expressão no rosto pálido, ainda era possível ver como ela abrandou os passos até parar, olhando para ele.

Com a raiva entalada em seu pescoço, Boris soltou a chave de sua casa no chão e sentou no banco, fechando a porta agradecido por ninguém questionar sobre os seus punhos estarem rosados.

Eles pegaram os irmãos de Adan e partiram para casa em silêncio.

Algo que Boris exigiu de si mesmo foi aprender as regras de quando deve tocar nos outros. Se envolver com duas pessoas neuro-divergentes o ensinou que nem todas se sentiam confortáveis sendo constantemente tocadas.

Com Juan havia três regras. A primeira era: nunca tocar; a segunda: se quiser ser tocado, espere que ele faça primeiro, e a terceira: se for tocar, comece em um lugar onde ele possa ver e avance com calma. Apenas isso. Poderia mudar conforme o humor do mais alto, mas em geral era isso.

No caso de Adan existia apenas uma regra: nunca tocar enquanto ele estiver chateado. Era só isso. Mas mesmo assim, significou muito para Boris quando o negro entrou no quarto e se deitou por cima do seu peito, abraçando a sua cintura.

– Agora você gosta de deitar por cima de uma pedra?

– Para, Boris – exigiu, se aconchegando mais –, eu não disse que eras uma pedra, disse que eras muito tonificado. – Passou a mão por baixo da camisa do loiro, sentindo o abdômen vibrar com as risadas do mesmo. – Não deve ter nem um porcento de gordura aqui.

– Eu vivo de pizza e pipoca.

– O mundo é muito injusto mesmo.

Boris sorriu e puxou a coxa do negro, o trazendo para cima de seu corpo. Os lábios macios roçaram o seu pescoço e o arrepio que percorreu seu corpo foi um diferencial agradável em comparação com a raiva.

– Eu vou me assumir – cuspiu Adan.

A mão do loiro tencionou em sua coxa, apertando-a devagar.

– Está tudo bem, Adan?

– Sim, acho que chegou a hora de fazer isso.

– Tudo bem – Boris o apertou entre seus braços.

Adan o beijou nos lábios antes de se afastar.

– Tenho que voltar. Juan e Amara estão fazendo o almoço, mas não vai dar tempo de comer, por causa da aula. Eu vou trabalhar, mas chego às oito da noite, para dar tempo de irmos jantar.

Boris levantou e o abraçou devagar.

– Obrigado.

– Tudo bem – disse, acariciando os machucados nos punhos do loiro. – Quando você estiver pronto, a gente conversa.

Adan saiu e o loiro voltou para a cama, deixando que a raiva se diluísse entre a gratidão de ter conhecido pessoas incríveis como Adan e Juan. Não conseguiu imaginar como seria ter que dormir sozinho depois daquele dia.

Quando Adan voltou para casa, já passava das oito e meia, a essa altura, Amara e Jonathan já haviam chegado na casa de sua tia. Boris e Juan estavam dormindo em sua cama. Ele tomou um banho rápido, depois vestiu um conjunto casual antes de sentar na cama, pensando se deveria ou não acordar os companheiros.

Com o braço em volta de Boris, Juan aconchegou ainda mais os seus corpos e suspirou no pescoço do loiro. Sem coragem de acordá-los, Adan, levantou e foi para o jantar. Era quase meia-noite quando o negro voltou, mas apenas se deitou quando já passava da uma da manhã.

Ele havia se assumido para a mãe logo após ter levado Jonathan ao seu quarto. A conversa foi curta, falou durante a maior parte do tempo. Amara segurou em sua mão ao decorrer de toda a chamada, até mesmo enquanto limpava as lágrimas. Seu corpo estava tão cansado que dormiu no momento em que sentiu as costas quentes do cacheado tocarem seu peito.

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