Adan parou o carro em frente ao estúdio de dança e pediu para que Juan mandasse uma mensagem para Boris.
– Você acha mesmo que isso é uma boa ideia? – perguntou Juan.
– Honestamente, eu não sei.
– Como assim você não sabe? – disse, virando-se de frente para Adan. – Você domina todas essas coisas de zonas mentais e tudo mais.
– Daquela vez foi apenas uma analogia – disse, tocando o joelho do mais alto.
– Então faz outra, quero entender melhor o que está acontecendo dentro da cabeça dele.
Adan olhou em sua volta e pegou o refrigerante de Juan.
– Imagina que todo o carro é a mente do Boris. O porta luvas é onde ele guarda todas as coreografias, os pedais são as alavancas que movem os membros, o porta-malas é a sala de comunicações e esse refrigerante é a sala de controle, onde ele tem as câmeras de segurança e o cofre onde guarda as pessoas mais importantes para si.
Adan agitou o refrigerante até que a garrafa estivesse rígida pela pressão.
– Quando os pais dele descobriram sobre tudo, Boris começou o processo de transferência. O objetivo é transferir os pais da sala de controle para outro sítio, para que não ficasse tão apertado, mas como estão lá faz muito tempo e fazem um trabalho competente, vai ser difícil tirá-los do departamento de "Pessoas que eu amo" e mandar para a ala de "Pessoas que me magoaram muito e eu preciso esquecer".
– E como é que ele vai fazer se trancou a sala de controle?
– Esse é o problema. Com a sala de controle trancada, ele não tem mais as câmeras de segurança, então, sempre que precisar de uma coreografia, tem que andar até ao porta-luvas. Ele até poderia ir à sala de comunicações para carregar o celular e ligar para a assistência técnica, mas a chave está dentro da sala de controle. Então há duas opções: a primeira, é abrir o refrigerante para liberar a pressão e se sujar com a bagunça que vai fazer, já a segunda, é esperar até onde a garrafa vai aguentar e explodir, sujando todo mundo com a bagunça que vai fazer.
Juan fazia uma careta enquanto sentia todo o seu corpo estremecer.
– Tudo bem, entendi. Você é muito bom com essas analogias – alegou com as sobrancelhas trêmulas. – Experiência própria?
Fazia muito tempo que eles não conversavam sobre a situação de Adan. O assunto do padrasto era pouco abordado, mas quando era para falar da mãe, uma barreira surgia.
Juan apenas viu essa barreira se erguer quando os olhos dele se arregalaram antes de piscar e decair as pálpebras, escondendo a preocupação com uma expressão séria no rosto.
– Eu decidi me assumir para a minha mãe – soltou, após uma densa camada de silêncio.
Juan empalideceu.
– Por que?
– Decidi abrir o refrigerante, ao invés de esperar ele explodir na minha cara. – A careta de Adan apontava para um lugar distante de onde eles estavam. – Não adianta continuar mentindo dizendo que é melhor esperar. Se tem uma coisa que a situação do Boris me mostrou, é que a minha mãe pode descobrir a qualquer momento. Seja o Jonathan contando sem querer para o pai dele e isso chegar nela, ou qualquer outra coisa. Não posso colocar meus irmãos em uma situação em que eles teriam que mentir constantemente para ela, não é justo.
– Mas também não é justo você ter que se assumir.
– Eu já sou assumido faz muito tempo. Esconder da minha mãe... não adianta tentar empurrar isso com a barriga. Eu já aceitei que ela não foi feita para estar na minha vida para sempre, e é isso. Vou me esforçar o máximo para que tenhamos uma convivência mínima e respeitosa pelo bem de Jonathan e Amara.
A mão suada de Juan alcançou sua coxa, deixando um aperto caloroso.
– Mas e se ela não quiser... você sabe.
– Então eu vou trancar a faculdade e aumentar as horas de trabalho. Minha tia vai me ajudar com o que puder e Amara vai para a universidade ano que vem. Ela vai aumentar o número de turnos na lanchonete, então vai dar para completar todo o dinheiro, mesmo que a minha mãe não queira mais nos ajudar.
O cacheado jogou o seu corpo sobre as mudanças e prendeu Adan entre os seus braços. Os olhos brilhantes de Juan refletiam pelo retrovisor, então sorriu ao sentir a mão do negro afagando suas costas.
– Eu estou confortando você, não o contrário.
– Tudo bem, bebê, você está me consolando.
O mais alto se afastou e empurrou o punho fechado contra o ombro do outro.
Quando Mirka e Boris entraram no carro, conversavam sobre namoros passados. Adan dirigia em direção ao condomínio enquanto os dois loiros discutiam vividamente.
– Adan – começou Mirka – , você não acha que é normal conversar com ex?
– Depende muito. – Sua face fechou, séria. – Eu só converso com a Loren porque a gente terminou bem, e mesmo assim eu a fiz correr atrás de mim por meses para aceitar ser amigo dela novamente.
– Eu disse! – exclamou Boris. – Não é normal conversar com ex, ainda mais se terminaram faz pouco tempo.
– Vocês são uns traumatizados – disse Mirka, emburrado.
– Com certeza – assegurou Adan. – Eu já namorei alguém que me traumatizou tanto que marca até hoje todos os relacionamentos tive depois dele.
– Sério, esse amor bateu com força – brincou Juan. – Então você fez um controle de qualidade com todos os que vieram depois?
– Sim.
– Até com a gente? – Boris endireitou a postura após fazer a pergunta.
– Sim. No momento em que algum de vocês dissesse não, eu saberia que não daria certo.
– O que ele fez para você ter criado um teste de verificação para todo o mundo? – brincou Mirka.
– Estávamos namorando, e quando fomos transar pela primeira vez, ele tirou a camisinha sem eu saber...
– Merda – disse Boris.
– Foi a pior coisa que já me aconteceu na minha vida. Eu saí da casa dele direto para o hospital e lá eles me incentivaram a profilaxia antirretroviral após exposição por vinte e oito dias. Passei as primeiras duas semanas com diarreia e náuseas, todos os dias. Depois disse testei negativo para HIV, mas positivo para gonorreia.
– Meu deus – disse Juan.
– Depois disso eu tive que ligar para ele por protocolo para avisar da infecção e que ele precisaria se testar também, para não ficar passando para outras pessoas. Na primeira vez que liguei, recebi um não, porque ele se sentia bem e não iria fazer o teste.
– Imagina o tanto de gente que pegou dele – lamentou Mirka, fazendo Adan gargalhar.
– Quando eu liguei na segunda vez, a mãe dele atendeu e me contou que ele havia morrido atropelado. – O negro riu ainda mais enquanto as mãos deslizavam firmes pelo volante.
– Você é muito rancoroso – disse Boris. – Até consigo imaginar você desligando o celular e começando a rir.
– Eu não desliguei! – urrou divertido.
– Eu não acredito – falou Juan, descrente. – Você não riu na cara da coitada da senhora...
Adan segurou a sua mão e depositou um beijo nela enquanto escondia a risada.
– Eu juro que ele não vai fazer falta no mundo – disse, parando o carro na frente da casa de Boris. – Então, fica a lição, se a pessoa não aceita se testar antes de vocês transarem, é porque está escondendo alguma coisa.
Apesar de não gostar tanto de partilhar sobre esse momento de sua vida, Adan o faria diversas vezes apenas para distrair Boris, já que teria que voltar para a casa de onde fugiu. Ao descerem do carro, viram que a vaga dos pais do loiro estava vazia.
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Sour Candy
RomanceO livro conta a história de Adan, um jovem de 21 anos que se muda com seus irmãos mais novos para outro país em busca de uma vida melhor. Entre a universidade e o emprego, ele conhece dois garotos incríveis, Boris e Juan, e sente uma atração irresis...