Sour Candy

Capítulo 5

Enquanto contornava o prédio de direito, seguindo até ao restaurante do de engenharia, Juan tentava, a todo custo, evitar que o sol queimasse seus olhos através dos óculos escuros.

Ao mesmo tempo em que se desviava das pessoas, Juan acaba se deparando com uma mesa onde um grupo estava sentado. Dentre estes se encontrava Loren e Adan.

Observando melhor, Juan se perguntou se deveria acenar ou simplesmente fingir que não os havia visto, já que todos os integrantes que rondavam o móvel estavam visivelmente cansados, enquanto olhavam para os cadernos espalhados pelo tampo de madeira.

Antes que ele tomasse uma decisão, Adan se levantou da e o olhou surpreso, antes de acenar levemente. Adan colocava a mochila em um dos ombros enquanto andava em sua direção, fazendo com que Juan se afastasse instintivamente e batesse o ombro contra a parede.

– E ai? Veio devolver a minha roupa? – perguntou Adan antes de passar por ele, concentrado no caderno em suas mãos.

Apesar do tom de brincadeira presente na voz cansada de Adan, Juan sentiu vergonha por não ter devolvido toda a roupa que havia pegado emprestada. A cabeça do crespo chegava até a altura de seu ombro, e quando ele passou, parecia mais focado em como não tropeçar enquanto continuava olhando para os exercícios.

Após um momento vendo-o se afastar, Juan decide caminhar até Adan, o seguindo até o estacionamento antes de o interromper ao segurar seu ombro com a mão.

– Adan, eu esqueci de trazer a roupa hoje, mas ela já está lavada. Se você quiser, podemos passar na minha casa e eu te dou.

Adan concordou com a cabeça. Fechou o caderno e bebeu um pouco do café em sua garrafa térmica, voltando a caminhar pelo estacionamento logo em seguida. Juan o seguia de perto, mas sem se desviar do sol desta vez, pois tinha medo de que Adan o achasse um anormal por causa da sua sensibilidade.

– Adan! – alguém grita, fazendo com que Juan desviasse a atenção do crespo e olhasse para frente, onde Boris estava apoiado no carro do mais baixo, com o telefone na mão. – Estava quase ligando para você.

– Oi, Boris, precisas de ajuda com algo? – perguntou Adan. O cansaço em sua voz estava mais evidente.

– Não, é que eu não tinha o número do Juan e não conheço o edifício de direito, por isso parei nesse, porque o Mirka me disse que o Elijah faz engenharia aqui, mas quando vi teu carro pensei em ligar para você me ajudar.

– Você quer falar comigo? – perguntou Juan, surpreso.

– Sim – disse Boris, abrindo a bolsa de treino – Eu queria te entregar hoje, desculpa por sábado. – Ele tira a calça de Juan da sua bolsa e o entrega.

Quando Juan aproximou o tecido de seu nariz, ele sentiu o cheiro doce de lavanda e percebeu que a nódoa do vômito de Boris havia desaparecido.

– Obrigado – respondeu.

– Tudo bem – disse Boris – Já era a segunda calça que eu sujava – ele acenou se despedindo. – Eu já vou indo, tenho que me apressar para chegar antes que o tempo de almoço acabe e eu tenha de ficar todo o dia com fome.

– Se você quiser, eu posso te deixar no centro, ainda vou passar na fraternidade do Juan e do Elijah – disse Adan ao subir no carro. – Por lá, deves encontrar algum ônibus que passe perto de onde estudas.

– Sério? – perguntou Boris, sorrindo. – O meu estúdio fica no centro, então se você conseguir me deixar lá já seria ótimo.

– Sobe – disse Adan, simples.

Antes de subir no banco traseiro, Juan viu Boris contornando o carro para se sentar ao lado de Adan.

Quando eles saíram do estacionamento e seguiram para a via principal, o painel do carro exibiu uma música. A voz de Taylor Swift resoou dos altifalantes antes de Adan esticar o braço e atender a chamada.

– Boa tarde, aqui quem fala é a Marina Sanchez, secretária da Vancouver Junior's. Seria possível falar com o senhor Adan Santos, encarregado de educação do estudante número 2022492, Jonathan MacGreen – disse uma voz mecânica saindo de todas as direções do carro.

– Sou eu! – a voz tensa de Adan ecoou enquanto o mesmo não desviava os olhos da estrada.

– Boa tarde, senhor Adan, gostaria de informá-lo que alguém deseja levar o estudante número 2022492, assegurando ser um parente próximo, o senhor deseja autorizar a saída?

– É a minha irmã? – perguntou rápido.

– Não, senhor – disse a voz mecânica. – É um homem. Devo autorizar a saída?

– Não! – disse antes de respirar fundo. – Chegarei em alguns minutos.

Adan estacionou o carro e ligou para Amara, voltando à estrada enquanto chamava, se afastando do centro sem avisar a Boris ou a Adan.

– Adan – disse Amara assim que atendeu.

– Amara, você mandou alguém ir buscar o Jonathan? – perguntou em português.

– Não, o que aconteceu?

– Uma secretária me ligou dizendo que alguém queria levar o Jonathan! Estou indo para lá agora – disse, em uma mistura confusa de português e Nganguela.

– Tudo bem, encontro você lá.

Juan não entendia nada do que o negro dizia, sendo algo bem distante do inglês ou francês que eles sempre conversavam, sendo algo próximo do espanhol, mas ainda estranho demais para ele entender. A única coisa que sabia era que Adan estava chateado e que já não iriam ao centro.

Apesar da mudança de destino, Juan não se atreveu a dizer nada, pois a situação o havia pego de surpresa. Quando olhou para Boris, viu o loiro olhando para a janela, visivelmente desconfortável no reflexo.

Eles seguiram em silêncio até chegarem ao destino. Adan parou por um tempo, percebendo finalmente que não estava sozinho no carro.

– Eu tenho que tratar de algo rápido – disse o negro.

– Tudo bem – disse Boris, respondendo por Juan, que permaneceu calado.

Adan deixou o carro e saiu a passos rápidos até a escola do outro lado da rua movimentada. Ele passou pela entrada, caminhando até a zona de administração e seguindo para o gabinete do inspetor. Ao chegar na secretaria, percebeu uma mulher sentada perto da porta.

– Boa tarde – disse Adan em português, confundindo as palavras em sua mente, mas logo corrigindo para o inglês ao notar o rosto confuso da secretária. – Vim falar com o inspetor.

– Quem deseja? – perguntou a mulher sentada, a mesma voz que havia ligado para ele.

– Adan Santos, encarregado de Jonathan MacGreen.

– Pode entrar – disse ela desistindo de levantar o telefone em sua secretaria para avisar o inspetor –, estão esperando por você.

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