Capítulo 1

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Maiara

 Há algum tempo, eu venho notando algo errado na Maraisa. Nos shows, ela diminuiu as doses e parou com os selinhos, sempre com a desculpa de estar um pouco indisposta ou não querer desmanchar o look. Fora dos palcos, se tranca no quarto, dizendo estar cansada e querendo ficar sozinha. Nessas últimas semanas eu percebi que ela tem demorado mais pra sair do banho do que de costume, além de sempre mentir pra mim quando pergunto se tá tudo bem. Como eu sei que ela mente? Simples, intuição de gêmea.

Então, pensando em talvez, animar um pouco a minha metade, decidi tirar 10 dias de folga e fazer uma viagem pra Las Vegas com os nossos amigos. Mas parece que a minha ideia não deu certo, ela não se animou nem um pouquinho e veio em silêncio durante toda a viagem. Chegamos no hotel, e depois de mexer uns pauzinhos, o Bruno conseguiu que eu e a Maraisa ficássemos no mesmo quarto.

Ou eu descubro o que ela tem ou não me chamo Maiara Carla.

Maraisa

a Mai inventou essa viagem pra Vegas e eu só aceitei vir pra não desapontá-la. Minha vontade era passar esses 10 dias trancada no meu quarto, sem pensar em mais nada. Chegamos no hotel e eu vou dividir quarto com ela, aposto que é mais uma das que ela apronta. Bem, entramos no quarto, joguei a mochila em um canto qualquer,  peguei minha necessarie e entrei no banheiro.

Ligo a torneira e tiro meu moletom, colocando os braços sob a água corrente. Na pia, escorre água com pingos de sangue, pois alguns cortes são recentes. Respiro aliviada, não aguentava mais esconder isso embaixo das mangas, elas sufocam a pele e os pelinhos do algodão incomodam um pouco.

⎯  Maraisa!

Mara: tô indo!

ouço minha irmã me chamar e agilizo o processo. Seco com cuidado usando a toalha, pego a base e vejo que ela está quase no fim.

Mara: droga...

coloco o suficiente pra tapar os cortes e uso a esponjinha espalhar tudo. Me certifico que os dois braços estão devidamente disfarçados, guardo as coisas e saio como se nada tivesse acontecido.

Mara: fala, irmã. ― deito na cama ―

Mai: tá tudo bem mesmo? Você não parece muito no clima de uma viagem só por diversão. ― arrumando suas coisas no closet ―

Mara: eu só tô cansada do vôo, só isso ― forço um sorriso ― eu vou dormir um pouco, tá? Aí eu vou melhorar...

me virei pra parede e puxei o lençol. Alguns instantes depois, ouvi o barulho da porta se fechando e soltei as lágrimas que estava segurando. Eu odeio mentir e omitir as coisas da minha irmã, odeio não ser verdadeira e transparente com ela, mas é um mal necessário. Não posso deixá-la preocupada ou triste, ela tá na melhor fase da vida dela e não pretendo estragar isso. Maiara finalmente está em paz consigo mesma e se libertando, é o momento dela.

Eu aguento isso sozinha. Eu dou conta. Nunca precisei de ajuda, e não é agora que vou precisar.

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a noite chegou e com ela a empolgação da Maiara pras baladas de Las Vegas. Repeti o processo de esconder os cortes com base e esperei o Bruno vir me arrumar. Respirei umas trinta vezes antes de colocar o vestido que ele tirou da minha mala, pois também tinha cortes cobertos com base nas minhas coxas e o tecido do vestido era muito transparente. Quando começou a me maquiar, ele reparou em alguma coisa em meus braços que eu devo ter esquecido de esconder e me olhou com um semblante surpreso e ao mesmo tempo preocupado.

Bru: você...

Mara: sim. Nem pense em contar pra Maiara, por favor. Fica só entre a gente.

Bru: minha boca é um túmulo ― me olha sério ―





Only Human ● Carla MaraisaOnde histórias criam vida. Descubra agora