Capítulo 9

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Mais tarde...

Maiara

Depois que nossos pais nos deixaram em casa e foram embora, eu preparei um almoço bem leve e fiz o possível pra deixar a Maraisa bem tranquila, numa tentativa de prepará-la pra notícia. Não, ela ainda não sabe que está grávida, eu pedi pro médico não contar pra eu poder pensar na melhor forma de falar isso sem que ela tenha outra crise.

Mai: irmã, senta aqui ― dou tapinhas no sofá ―

Mara: o que foi? ― senta ao meu lado ―  aconteceu algo?

Mai: então, eu conversei com o médico antes dele assinar a sua alta.

Mara: por que? o que ele queria?

Mai: ele veio me falar sobre o resultado dos seus exames... ― respiro fundo ―

Mara: deu alguma coisa grave? Fala logo, Maiara!

Mai: irmã, você tá grávida. Eles fizeram o exame duas vezes pra ter certeza.

Maraisa

Meu mundo parou. Eu não posso estar grávida, sempre foi o meu sonho, mas não dessa forma, não agora, não assim. As lembranças daquele dia horrível voltam à tona, a sensação daquelas mãos nojentas me tocando e o cheiro do álcool parecem tomar forma e isso me faz querer entrar em pânico.

Caí de joelhos no chão, puxando meu próprio cabelo com as mãos enquanto tentava controlar a respiração descompassada. Estava beirando uma crise quando a Maiara ficou de joelhos na minha frente e segurou as minhas mãos.

Mai: ei,ei, calma...

Mara: por que tudo de ruim acontece comigo? Merda!

Mai: Maraisa, você não pode se alterar...

Mara: eu não quero essa criança, Maiara! Isso é o efeito colateral da pior coisa que aconteceu comigo!

Mai: irmã, não fala assim, você sabe que essa criança não tem culpa de nada...

Mara: Eu sei que eu sempre quis isso, mas porra, não agora! Eu não tô conseguindo cuidar nem de mim mesma, a minha cabeça tá confusa e eu tô minimamente preparada pra isso, Maiara. O que as pessoas vão falar quando eu aparecer grávida e solteira? Você sabe como eles são, vai ser um prato cheio pra completarem o meu currículo de puta. Eu não quero e não posso ficar com essa criança...

Mai: calma, eu não vou te obrigar a nada, ok? Seu corpo, suas regras.

um silêncio tenso se faz presente e, por algum surto de lucidez talvez, eu me toquei do que eu tava falando, do quanto foi egoísta. Eu não posso culpar pelos meus problemas uma criança que nem nasceu, muito menos achar que ela seria a causa de mais problemas ainda. Se eu seguir com essa gravidez, serei a vergonha da minha família, mas se interromper, eu serei uma vergonha pra mim mesma.

Mara: eu preciso de um tempo pra pensar...

Mai: tudo bem, sem pressão ― sorri levemente ― como eu já falei, seu corpo, suas regras.

―┄♡┄―

Maiara

depois da nossa conversa, minha irmã tomou os antidepressivos e foi deitar. Eu arrumei a cozinha, milagrosamente sem quebrar nada e fui assistir série. Estava jogada no sofá da sala quando a campainha toca eu me levanto pra atender.

Mai: que cara de pau, hein? Tô surpresa ― falo irônica ―

― posso falar com a sua irmã?

Mai: não ―  fecho a cara ― ela acabou de tomar os antidepressivos dela e foi dormir, tá dopada infelizmente. E mesmo que não estivesse, eu não deixaria você chegar perto dela.

ele tenta entrar, mas eu o impeço. Com um sorriso irônico, cruzo os braços e faço minha melhor feição desafiadora.

Mai: quem diria, Danilo Gentili estuprador. Eu não imaginei que chegaria a um nível tão baixo ― cubro o lábio superior com o inferior ― 

Da:  você não...― o interrompo com um tapa estalado ―

Mai: você deveria ter vergonha de vir aqui depois do que fez, a minha irmã chora todas as noites, se corta, vive dopada e graças a você, ela tá destruída!

Da: mas ela...

Mai: cala a boca, ela tem motivos pra estar desse jeito.

fecho a porta atrás de mim e olho no fundo dos olhos dele.

Mai: sabe por que a Maraisa tá assim? Por que você estuprou ela e agora ela tá grávida, confusa, e com medo do que o mundo pode falar dela!

Da:  uou, calminha aí, você tá muito diferente, Maiara.

Mai: em primeiro lugar, a Maiara tirou folga, quem tá falando é a Carla.E em segundo, não foge do assunto, idiota.

Da: então você tem deixar eu me aproximar da Maraisa, afinal, eu sou o pai, né?

Mai: sinto muito em lhe dizer isso, mas... ― faço minha melhor cara de deboche ― esse cargo já foi ocupado.

Da:  foi? Quem é o pai, então?

Mai: eu. ― fico séria novamente ― posso não ser um homem, mas sou humana o suficiente pra ter princípios e o mínimo de vergonha na cara pra assumir o papel que você não tem dignidade e muito menos moral pra exercer! Pai não é quem faz, é quem cria. Faz um favor pra nós três e esquece da nossa existência, ok? Uma péssima noite pra você ― entro em casa e tranco a porta ―

Subo pro quarto da Maraisa e ao entrar, a vejo acordada, se olhando no espelho.

Mara: você acha que eu vou ficar bonita de barrigão?

Mai: espera aí, você mudou de ideia? ― sorrio levemente ―

                                                                                                                                                                                                         Mara: tem uma vida dentro de mim, metade. Eu seria uma assassina se interrompesse essa gravidez, mas...

Mai: mas o que?

Mara: falta o pai... ― abaixa a cabeça ― quando voltarmos a ativa e as pessoas souberem, vão me criticar e eu vou ficar mal de novo...

Mai: epa! Que negatividade é essa, Maraisa? E quem disse que falta o pai?

Mara: mas...

Mai: eu vou ocupar esse papel, irmã.

Mara: Maiara...

Mai: eu não vou te deixar sozinha...

Abraço ela por trás e colo as mãos em seu ventre.

Mai: de agora em diante, seremos nós três...

Mara: ― põe as mãos sobre as minhas ― nós três...



                                  










Only Human ● Carla MaraisaOnde histórias criam vida. Descubra agora