Capítulo 11: O embarque

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Como é? — Helô questionou descrente, não acreditando no que tinha ouvido. — Está me dando uma ordem direta para não ir até Portugal?

O homem hesitou, trocando o peso de uma perna para a outra nervosamente, ao encarar o semblante irado de Helô. Conhecia a delegada como uma policial linha dura que apenas no talento, conseguia extrair tudo de quase qualquer um. Ela tinha derrubado uma máfia de tráfico internacional de pessoas, chegou até o topo da cadeia da Polícia Federal antes de decidir voltar para a Civil com uma nova especialização. Ele era o seu superior em cargo, mas morria de medo da delegada. Todos morriam.

— Não. — negou prontamente — Só estou dizendo que você está envolvida em uma grande investigação e não acho que seja o momento certo para uma viagem.

Helô respirou fundo, se controlando para não avançar em seu chefe.

Era inacrê que estava ouvindo aquilo!

Tinha dado seu sangue por aquela delegacia desde quando a assumiu há quase dois anos. Reestruturou todo o sistema que estava corrompido, colocou policial preguiçoso pra trabalhar e transformou aquela delegacia em uma das melhores da cidade.

Além disso, sua delegacia era a que tinha mais prisões do que qualquer outra da região desde que ela assumiu!

Era muito boa em seu trabalho! A melhor!

"Eu sempre soube que você não seria qualquer delegada, você seria A delegada".

Helô fechou os olhos, lembrando do momento que compartilhou com o advogado naquele primeiro jantar que tiveram desde que se reencontraram,  em sua casa. Lembrou de como seus olhos transmitiam orgulho dela por ter chegado a onde chegou, por ter realizado o seu sonho e seu coração se contraiu novamente.

Helô sempre sonhou em ser delegada! Nunca passou pela cabeça dela ser qualquer outra coisa senão uma delegada de polícia. Acreditava veemente que assim poderia trazer justiça aqueles que não tinham voz, que podia ajudar as pessoas de alguma forma. Agora temia que não pudesse salvar a única pessoa que realmente importava... Stenio. E isso a deixava mais apavorada do que qualquer coisa.

Se não pudesse salvar Stenio... Se não pudesse ter sucesso nessa única coisa... Seu sonho não significaria nada, toda a sua vida empenhada em lutar por justiça teria sido por nada.

Não tinha mais tanta certeza se merecia seu distintivo ou as palavras dele... Da única pessoa que sempre esteve ao seu lado.

Senhor — começou, sua raiva escorrendo pela palavra — Eu estou bem ciente de todas as minhas responsabilidades e posso te garantir que meus comandados tem instruções claras de como agir enquanto eu estiver fora.

— Essa delegacia...

— Vai sobreviver muito bem sem mim. — o cortou.

Sabia que não deveria, sabia que deveria se controlar melhor, afinal, ele era o comandante geral da polícia civil do Rio de Janeiro, um cargo que tinha sido oferecido há Helô quando retornou a civil, mas que ela recusou. Gostava de dar ordens, é claro. Mas não queria ficar enterrada em trabalho burocrático enquanto podia estar nas ruas.

Helô respeitava o homem que estava na posição, sabia que era muito justo no que fazia... Mas Helô tinha perdido totalmente a capacidade de pensar racionalmente sabendo que a cada minuto que estava ali, Stenio, podia não estar.

— Treinei meus comandados muito bem, posso te garantir.

— Não tenho dúvida disso, Heloísa. — o homem suspirou, derrotado — O que tem de tão importante em Portugal pra você largar o seu trabalho desse jeito?

Where's My Love - Steloisa Onde histórias criam vida. Descubra agora