Capítulo 15: a conchinha

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Stenio não conseguia dormir. Toda vez que fechava os olhos, ele lembrava dos momentos em cativeiro.

Lembrava dos baldes de água gelada na cara, quando finalmente caía no sono; dos socos e chutes, quando respirava errado; do pão duro e do meio copo de água que o davam pra se certificar de que ele ficasse vivo e continuasse faminto. Lembrou do dia em que quase implorou para morrer...

Ele abriu os olhos pela milésima vez naquela noite, não suportando o peso que tomava conta de si quando estava de olhos fechados. O vazio, a solidão, a ausência de felicidade... Igual a quando estava no cativeiro o sufocava, mesmo que ele soubesse que estava em casa agora. Seguro.

Stenio se virou para o lado vazio da cama. O lado de Helô. Ele sabia que ela estava lá e isso o reconfortou um pouco, não o suficiente para dormir, mas o bastante para acalmar o seu peito e diminuir a crise de pânico que estava prestes a vir.

Seus pensamentos se voltaram para o momento que compartilhou com Helô mais cedo e em como ele, por pelo menos alguns segundos, conseguiu furar a barreira que ela construía em volta de si e ver os sentimentos que ela tanto tentava esconder refletidos em seus olhos. Não estava sozinho naquele sentimento, ele apenas tinha menos barreiras para transpassar do que ela.

Stenio suspirou. Sabia que Helô estava exausta, que não dormia direito há dias e que precisava descansar para trabalhar pela manhã. Ela deveria estar dormindo em sua própria cama ao invés do sofá duro, se ele não fosse um peso na vida dela e tivesse a usurpado. Se ela não queria dormir com ele, ela deveria pelo menos poder dormir em sua cama!

— Não vou ficar aqui enquanto ela tá lá! — Decidiu.

Depois disso foi uma batalha. Stenio tentou levantar por alguns minutos até finalmente conseguir, sentindo dor em cada movimento que fazia. Ele teve que parar para respirar quando finalmente conseguiu ficar de pé, mas ao invés de usar a cadeira de rodas, optou pela bengala. Sua dignidade falando mais alto do que a sua dor.

Ele foi andando a passos lentos até a sala de estar, segurando seus gemidos de dor para que Helô não soubesse o quanto ele estava se esforçando pra chegar até lá. Ele passou primeiro pela mesa que ela costumava usar de trabalho, encontrando-a vazia e seguiu até a sala, encontrando Helô dormindo no sofá.

— Vai deitar lá na cama você. — Falou se aproximando dela, sabendo que ela ainda não estava dormindo — Deixa que eu deito aí no sofá.

Ela abriu os olhos e quando o viu ali, se levantou em um pulo enquanto dava uma bronca nele.

—  Que isso? Que isso, você levantou?

— Vai dormir lá na cama.

— Que quê cê tá fazendo aqui? Stenio, cê não podia ter levantado.

— Não vou deixar você dormindo no sofá enquanto tô lá na tua cama.

— Você me ajuda! Eu vou dormir aqui...

— Não, não vai.

— E você vai dormir no meu quarto.

— Não, não vou.

— Volta agora! Eu não...

— Não vou deitar na tua cama...

— Você não podia nem tá andando, nem tá em pé

— Então vamos dormir os dois.

— Como nós dois dormir naquela cama? Volta pro quarto agora!

— Não, não vou ficar.

— Volta pro quarto agora!

— Não vou.

— Anda!

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