Porsche não poderia dizer estar totalmente consciente de para onde ele guiava seus corpos, sua mente repetindo um interminável e choroso "mamãe e papai" em seu ouvido. Suas pernas ficam dormentes e é difícil se manter constante em seus passos, ele tropeça com mais frequência do que consegue correr corretamente, mas ele não se importa, nem mesmo quando a dor lateja em seus músculos exaustos, não quando sua respiração é ofegante, não quando tudo ao seu redor não passa de um borrão tonto e o som dos tiros anteriores ainda fere e marca seus ouvidos, embora agora não passe de uma lembrança. Não quando ele sente vontade de espremer sua cabeça entre as mãos para parar a dor estridente que faz seus olhos arderem e atravessa sua alma.
Como uma barragem rompida, lembranças antes trancadas são despejadas diante de seus olhos no lugar das ruas, devastando em ondas dolorosas qualquer foco de para onde eles seguem caminho.
Mas ele corre, ou ele acha que faz, é difícil dizer através do torpor, Porsche é consciente de Kinn tentando o acompanhar, ainda segurando sua mão, mas ele não consegue fazer nada a respeito, mesmo que quisesse.
É somente quando Kinn o puxa para parar de correr que Porsche então desperta. Ele ofega por ar, se curvando sobre seu corpo, agarrando seus joelhos, suas pernas doem, ou seria todo o seu corpo? Kinn não é muito diferente dele, apoiado no muro próximo a eles, quase caindo no chão, o som de sua respiração sendo muito alto.
Porsche puxa uma tragada de ar torturante, que parece rasgá-lo por dentro, ele força-se a erguer o rosto e olhar ao redor para se localizar.
Oh, certo. Ele os trouxe para casa, não a de Kinn, a dele.
Ele engole em seco, sentindo sua garganta como se estivesse envolta de arames farpados, faz meses desde da última vez que pisou sequer perto desse lugar, e com tanta coisa sendo revelada, esse era o último lugar onde ele queria estar. Mas ele foi até ali praticamente inconsciente do caminho, não foi?
Ele observa através do portão branco enferrujado, o balanço confortável na árvore abaixo da árvore — ela cresceu? Parece muito maior — a grama sempre verde, alta pela falta de cuidado, a mesa e cadeiras de concreto no jardim a distância, a moto vermelha que ele tanto era apegado estacionada a poucos passos da porta, os vidros verdes das janelas que lhe dão uma boa visão de dentro. A porta da casa fechada, mas ainda intimidadora.
Tudo é tão familiar que ele teme cair de joelhos, é tão diferente que ele teme não conseguir dar mais um passo.
Toma tudo dele abrir o portão e adentrar o terreno, mas ele o faz. Kinn nenhum segundo depois dele, Porsche pode o sentir observando, seu olhar preocupado perfurando sua nuca, só que, realmente importa? Deveria. Ele queria se virar e garantir que estava bem para seu marido preocupado, mas sua cabeça latejava angustiada e ele só... não conseguia sentir nada além da dor.
Ele foi ferido? Se sim, onde estava o sangue? Pela dor, ele supõe que já deveria ter desmaiado de hemorragia. Se não, de onde vinha a aflição que esmagava seu peito, a agonia que tomava sua mente?
Ele bate a mão na lateral da cabeça com uma força levemente considerável, uma tentativa, inútil ele sabe, de fazer parar. Kinn segura seu pulso quando ele tenta de novo.
Porsche abre os olhos, que se focalizam na estrutura do balanço poucos passos dele.
" — Mãe, meu desenho é bonito?" — é sua a voz, mas não sai de sua boca. Ele observa a memória tomando forma, analisando sua versão anos mais jovem, sentada de frente para uma mulher carregando um bebê no colo.
Sua mãe na memória é tão jovem quanto era quando morreu.
" — É muito bonito. — "sua voz doce elogia sorridente" — um passarinho significa liberdade. Cheio de felicidade."
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It's just a dream when you wake up (Kinnporsche fanfic)
FanfictionAinda será apenas um sonho quando você acordar. Porsche sabe disso. Mas ele ainda sonha, de forma ingênua, viver uma vida ao lado de Kinn. É apenas um sonho. E quando Tawan volta, ele sabe que deve acordar dessa farsa. Mas então, para sua surpresa...