Brincar com o passado.

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Suas mãos tremem, embora não esteja frio.

Cerradas em um aperto tão forte que já chega a romper a pele, elas se pressionam contra seu peito, enquanto ele se encosta fracamente na coluna em suas costas e se deixa respirar relutantemente. Tudo ao seu redor é pintado de vermelho, que sangra pelos locais onde a luz não alcança e se mistura ao preto da escuridão.

Pete fecha os olhos, e mais uma vez se lembra do porquê ele decidiu fazer isso.

Por Porsche e Kinn, pelos filhos deles, e por... por ele mesmo, embora uma parte de si se contorça ao admitir.

Então ele espera, impacientemente, na escuridão vermelha daquele beco. A cicatriz em sua mão doendo como se houvessem pregos rasgando cada camada de sua pele de dentro para fora, abrindo a ferida sarada e deixando-a pingando em vermelho que se mistura com o restante em seu arredor.

Arm fala em seu ouvido, perguntando do outro lado da escuta, se Pete já localizou ou identificou algo suspeito, ao que Pete nega.

Ele fecha os olhos e respira, aguçando seus ouvidos e tentando, quase em vão, acalmar seu coração acelerado ao ponto de doer.

Não demora para o som de passos consumir o silêncio solitário do beco, se juntando a ele no local demarcado.

Pete não precisa olhar para saber de quem se trata, ele consegue sentir isso em todo o seu corpo trêmulo. E quando a nova pessoa fala, sua voz soa tão ansiosa quanto Pete pensa que sua própria soaria.

— Pete...

A voz o chama ofegante e hesitante, pingando saudade, parecendo tentar camuflar o nervosismo, e Pete quase não consegue conter seu estremecimento a tempo.

— Você... — Pete sente os olhos da pessoa vagando por seu corpo e o analisando com firmeza, quando, supostamente satisfeito com seja lá o que encontrou, continua com um aceno de cabeça — parece bem. Isso é bom.

— Estou bem. — Pete finalmente fala, ainda sem abrir os olhos, preferindo o escuro a visão que teria caso abrisse, sua voz é ríspida — Por que? Como pensou que eu estaria, Vegas?

— Não pensei nada, apenas esperei que estivesse bem.

Pete abriu os olhos, sua visão levemente embaçada, e virou seu rosto na direção em que Vegas se encontrava, embora não se desse o trabalho de olhar diretamente nos olhos do outro.

— Foi pra isso que pediu pra me encontrar? Garantir que não tinha me quebrado irreparavelmente?

— Pete...

— Você sabe o quê? Dê-me logo a informação que vim buscar e saia do caminho. — Pete cruzou os braços, escondendo as mãos trêmulas, ainda encostado na coluna — Não atrapalhe ainda mais, por favor.

A última parte saiu em um sussurro incerto, e talvez tenha sido isso, sua hesitação, que tenha dado confiança a Vegas, por que ele se aproximou um passo a frente e então parou novamente.

— Vou te dar o que quer, apenas — ele respirou fortemente — fale comigo, sim?

— Como você chama isso? — Pete gesticulou para o ar entre eles.

Vegas o ignorou:

— Você está com raiva de mim.

— Não quero falar sobre isso.

— Você está com raiva de mim — Vegas deu outro passo — porque eu quebrei o que prometi.

Pete desviou o olhar, encarando o nada e o tudo em simultâneo, a cicatriz em sua mão ardia como fogo. Ele respirou balançando a cabeça, bem ciente dos olhos de Vegas cravados em si, e murmurou:

It's just a dream when you wake up (Kinnporsche fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora