05| Belle Kadyrova

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"- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também, mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu."
Caio Fernando Abreu

Há somente duas razões para alguma amiga sua agarrar subitamente o seu braço: um, ela quer muito saber alguma coisa, ou dois, ela quer muito contar alguma coisa

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Há somente duas razões para alguma amiga sua agarrar subitamente o seu braço: um, ela quer muito saber alguma coisa, ou dois, ela quer muito contar alguma coisa. Rezava para que este caso fosse o segundo tipo.

Eu tinha acabado de pagar por um café preto com açúcar quando Beatrix agarrou meu braço, ficou com um sorriso cínico no rosto olhando a paisagem, mas era bem óbvio que queria falar algo; ela não é boa em disfarçar.

- Você deveria parar de beber essa coisa - ela disse, sabia que apenas para quebrar o gelo, procurando um jeito de chegar ao ponto que realmente queria.

- E o que tem? - perguntei, levando o copo à boca.

- Essa coisa faz mais mal que bem para o seu corpo - ela respondeu, com o nariz franzido.

- Para o meu psicológico, isso faz maravilhas.

Experimenta ter pesadelos que te obrigam a não dormir bem por dias seguidos, que você também vai estar dependente desse líquido forte e escuro.

Beatrix me olhou como se eu fosse um caso perdido, que ela deveria deixar de tentar converter à vida do zero café, mas parece ter aceitado tão facilmente assim a desistência principalmente porque já quebrou gelo o suficiente para dizer o que queria desde o início.

- É verdade que você está morando com o Alex? - soltou de vez, me pegando de surpresa mesmo que eu já esperasse por isso.

Eu queimei minha língua com o café, mais um pouco e eu poderia tê-lo feito passar pelo nariz, talvez se ela soubesse do lance no elevador e me indagasse sobre isso, eu o teria feito.

- Hum - respondi com um murmuro, usando o copo para esconder metade do meu rosto ao levá-lo à boca.

Finalmente consigo entender porque ele é tão apegado assim a este som para uso de respostas, além de ser prático ele depende da interpretação do ouvinte; eu poderia simplesmente fingir que eu não estava alegando nada, a pessoa que quis entender que eu concordava com aquilo.

- Dio mio¹, que legal! - exclamou, empolgada, puxando-nos para a mesa de sempre, dessa vez vazia exceto por nós duas. - Como está sendo a experiência?
Eu não havia parado para pensar sobre isso ainda, não me permiti pensar, já que há diversas perguntas em minha cabeça para as quais eu quero uma resposta, mas sei que não vou ter. Acho que eu estou tentando fazer meu cérebro entender que essa é uma situação corriqueira enquanto fujo de ter que verdadeiramente enfrenta-la.

Já faz uma semana desde o episódio no elevador, eu tenho evitado Alex desde então, ele me evita também, então nossos encontros são raros. Ele realmente tem cumprido o que "prometeu", até agora, e me faz ter pelo menos três refeições por dia, mesmo que não esteja presente na maioria delas. Estou tentando ter uma base maior de como é a sua rotina, para evitar encontros indesejados, na quinta passada acabamos nos esbarrando quando eu saia do banheiro, eu tinha esquecido de levar minha roupa para me trocar lá, foi uma situação estranha que durou menos de um minuto, ele simplesmente me deu as costas e saiu, e eu agradeci aos céus por isso.

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