Trust Me

56 - Santuário

Meus olhos estavam fixos na frente, mas sem nada ver. Repousando sobre as minhas pernas, estava aquele odioso taco que Negan usara para matar os meus amigos... ainda com o sangue deles.

Minha mente não parava um minuto. Eu tinha de achar um jeito de acabar com aquilo, de tirar o Daryl das mãos daquele povo e de matar o Negan. Tal como Rick falara na noite anterior "podia não ser hoje, nem amanhã... mas eu iria matá-lo".

E depois senti o peso da verdade de novo sobre mim, me arrastando para o mais fundo abismo.

Abe e Glenn morreram. Daryl fora levado.

Senti o caminhão negro parando e obriguei minha mente a regressar na realidade.

Na nossa frente, estava um grupo de zumbis.

Negan me olhou, sorrindo, e indicou eles. - Acaba com eles.

Encarei ele, odiando com todas as minhas forças. - Com o quê? Você ficou com o meu bastão.

Ele indicou a Lucille. - Usa ela, mas não quebra. E nem faz nada estúpido, basta eu pegar no rádio e seu amiguinho já era.

Abri a porta, sempre olhando Negan.

- Vai se fuder. - E saí.

Rodei o taco na mão, me adaptando ao peso. Era mais pesado do que o meu bastão, mas serviria para matar aquele desgraçado do mesmo jeito.

Matei um, depois dois e três zumbis, me afastando das suas mãos podres, e foi quando a voz de Negan chegou até mim.

- Pela forma como o nosso Daryl te protegeu, não me fala que ele anda comendo você? Porque se não andar, é um baita de um burro! Você é incrível, Vermelha.

Parei, segurando a Lucille com força e depois girei, olhando o caminhão negro.

Avancei para ele e vi Negan fechando o vidro e sorrindo, passando a lingua pelos lábios. Ergui o taco e bati com o punho no vidro, quebrando, para surpresa de Negan.

Soltei a Lucille no chão, abri a porta e puxei ele pelo braço. Não pensei nas consequências, só na vontade de tirar aquele homem da face da Terra.

Ele tentou se libertar e eu segurei ele pelos braços, impedindo que me atingisse, e lancei a cabeça na frente, batendo no seu nariz. Negan perdeu o equilíbrio e caiu no chão. Sentei em cima dele e soquei seu rosto, sua cabeça, qualquer lugar que conseguisse chegar.

Bati uma e outra vez, mas aquele diabo deveria ter algum anjo da guarda muito bom, porque uma pick up chegou e alguém saiu, correndo e gritando.

- Tira ela de cima de mim! - Gritou Negan.

Senti mãos me segurando e empurrei o homem, continuando a atingir Negan, até que senti uma arma encostar na minha cabeça.

- Solta ele, ou eu dou ordem para matarem o caipira!

Parei, respirando rápido e olhando o rosto ensanguentado do Negan. Ergui as mãos, cerrando os dentes de ódio, e deixei que aquele homem, que vi ser o Simon, me puxasse para cima, me segurando.

Negan levantou, limpando o nariz e me olhando, seus olhos quase flamejantes. Ele se aproximou de mim, encarando.

- Eu deveria matar você por esse ato. Ou então castigar da forma mais cruel de todas. - Negan me deu um sorriso. - Mas eu tenho o Daryl, e já percebi que ele é importante. - Balançou o corpo. - Acho que sei uma forma de machucar você, sem nem encostar um dedo nesse seu rosto bonito.

Tentei me libertar das mãos do Simon, mas sem sucesso. - Não chega perto do Daryl. - Falei.

Ele riu, passando a língua pelos lábios.

- Já cheguei. Tenho você também e isso - Sorriu. - Isso machuca ele. - Olhou para Simon. - Coloca ela no caminhão, vamos embora.

- Mas e se ela atacar de novo?

- Ah não vai atacar. Né, ruiva?

Fiquei em silêncio e Simon me conduziu até á porta do caminhão. Entrei e fiquei olhando a frente, enquanto Negan entrava e dava a partida.

Lucille ficou sob as pernas dele, como uma ameaça silenciosa.

Depois de algum tempo, uma fábrica se ergueu na nossa frente, grande, com muros e uma vedação em redor.

Negan levantou o dedo. - Bem vinda ao Santuário, Zoe.

Olhei em redor, enquanto o portão abria e a gente entrava. A van que trouxera Daryl já estava lá, mas estava vazia.

Senti um aperto no peito. Onde estava o Dixon?

Negan parou e me sorriu, erguendo o taco.

- Sai.

Saí e esperei que Negan desse a volta, chegando até mim.

Ele começou a falar, indicando os zumbis na vedação, e depois me levou para dentro do Santuário, pedindo a um Salvador para nos acompanhar, não fosse eu tentar alguma coisa.

Percorremos vários corredores frios e sinistros, até que parámos de frente de algumas portas... E Daryl estava lá, sem roupa, de pé na frente da porta aberta.

Um homem loiro, o mesmo que mirara a sua cabeça com a besta, estava com uma arma apontada na sua cabeça.

Daryl me olhou e toda a sua postura mudou.

Negan sorriu. - Olha só quem eu trouxe. - Ele se aproximou do meu ouvido, sorriu. - Não fica toda animadinha, aqui dentro temos uma regra: ninguém pode transar a não ser eu.

Queria gritar, mas me mantive calada, olhando Daryl, enquanto ele segurava o meu olhar como se pedisse desculpa por estarmos naquela situação.

Negan fez sinal para o loiro colocar Daryl na cela e ele empurrou o caipira.

- Não se preocupa, Daryl, a ruiva estará na cela do lado.

Daryl deu um passo em frente e o Salvador, que mais tarde soube que se chamava Dwight, encostou a arma na cabeça dele.

Dei um passo em frente, mas Negan segurou o meu braço.

- Vai para dentro, Daryl. - Disse ele. - Fica calmo, eu não vou tirar a roupa dela. - Sorriu. - Ainda.

Daryl respirou fundo e vi seu olhar se tornar frio, mas ele recuou para dentro da cela e Dwight fechou a porta.

Negan se colocou na minha frente.

- Agora nós. Daryl é diferente, ele precisa aprender que matar os meus homens tem consequências. Mas você... Eu até perdoo as vezes que você me desafiou e bateu, se você aceitar fazer parte dos meus Salvadores. - Indicou a cela. - Nem precisa ficar presa.

Encarei ele. - Acho que deixei claro onde você pode colocar seus Salvadores.

Negan riu. - Puta merda, que eu gosto de você. Tá, tudo bem. - Fez sinal ao homem que viera com a gente e ele me empurrou para a cela do lado do Daryl. - Espero que goste do seu novo quarto, ruiva. E que não demore muito a mudar de ideia.

A porta se fechou e escutei o trinco. E foi aí que não aguentei mais.

Perdi toda a pose de durona e caí de joelhos no chão, chorando silenciosamente.

Eu nunca mais veria o Abe e o Glenn, eles haviam morrido por conta da minha estupidez e Daryl estava ali, preso, sendo humilhado...

Me arrastei até um canto e puxei os joelhos até o peito, apoiando os braços sobre eles e escondendo o rosto, chorando até perder as forças.