Cap.03 Serpente Branca

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•Nuank•

Seu corpo estava completamente paralisado, medo profundo e ancestral era tudo o que sentia em cada extensão do corpo, alí não haveria escapatória, esse seria o seu fim. Era um Alto, um maldito de um Alto, não tinha chances de lutar contra ele, não teria como defender a si ou a Cosmi, esse seria o fim de ambos.

—ele não estava aqui da primeira vez que eu vim. Disse Cosmi se explicando.

O Alto começou a descer as escadas lentamente, ele era puro poder em cada movimento simples e sútil. Nuank ainda estava paralisado, esse era o fim, haviam caído na armadilha de um Alto e morreria na casa dele. Uma torrente de lágrimas começou a brotar dos olhos de Nuank, era o pavor consumindo cada delicioso pedacinho da sua sanidade, ele sentia a morte iminente e o seu corpo reagia sem reação, paralisado, apenas esperando o momento do fim. O Alto se aproximava cada vez mais deles, provavelmente tinha mais de três metros, era o maior Alto que já tinha visto, os olhos eram azuis de um jeito sobrenatural brilhantes como estrelas, cabelos brancos como a lua, lisos e compridos caiam por costas e ombros como uma cortina de luar prateado, as orelhas cumpridas e pontudas tinham pequenos brincos prateados. Suas vestes eram esquisitas, parecia uma espécie de armadura só que não parecia ser de metal, o peitoral branco tinha listras pretas que formavam um símbolo abstrato no peito, as calças pretas tinha listras brancas nas laterais, botas pretas longas até os joelhos presas com fivelas de metal, seu acessório mais assustador estava envolto no pescoço como se fosse um colar, era uma serpente branca da cor de neve recém caída, os olhos dela eram azuis assim como o do Alto, era hipnotizante e assustador. Nuank já estava em estado de síncope quando o Alto parou bem na sua frente, o rosto dele estava a alguns metros de altura do seu, e não ousou olhar para cima para encara-lo.

—o tamanho é o que te assusta?. Falou o Alto, sua voz era serena como o canto da noite entoado por grilos e corujas. —se quiser posso ficar do tamanho humano, para tranquiliza-lo.

Nuank não respondeu, não o olhou, não respirou. E então bem ali diante dos seus olhos, ele viu aquela criatura diminuir, retroceder até ficar da altura de um homem humano, ele calmante levou a mão ao queixo de Nuank e ergueu seu rosto, ele definitivamente era lindo, e assustador, ele era feito de contraposições, era tudo e também nada, era luz e sombras, amor e ódio, tudo isso em perfeito equilíbrio, era como contemplar a face de um Deus.

—pobre criança traumatizada. Disse ele solenemente.

A visão se escureceu e Nuank não conseguiu manter a consciência desperta.

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Lentamente as pálpebras pesadas iam se abrindo, e aos poucos ia se acostumando com a luz ambiente, o som baixo do fogo na lareira foi o que despertou sua memória rápido, abriu os olhos de vez engolindo a luz e viu onde estava, era a sala mobiliada, estava deitado sobre um dos sofás de veludo púrpura. Não havia sido um sonho, ou pesadelo, a casa era real, o que quer dizer que o Alto...

—não se preocupe, ninguém vai machucar você. Era ele, o Alto, sentado em uma poltrona com as costas pra lareira.

—onde está Cosmi?. Passado o momento inicial de pavor intenso havia recobrado sua sanidade, agora já tinha coragem pra dirigir a palavra ao Alto.

—está fazendo a coisa que ele mais gosta, comendo. O Alto apontou para a direção da outra sala, e lá estava Cosmi, sentado se servindo de um banquete que agora estava presente na mesa. —passado seu momento de pânico, gostaria de conversar com vocês, os dois.

—o que quer? Que tipo de brincadeira é essa?. Mostrou um pouco de raiva na voz.

—não é uma brincadeira, não exatamente. Agora que ele estava do tamanho de um humano, até apresentava alguns comportamentos semelhantes, do tom malicioso na voz até a postura descontraída na poltrona. —eu gostaria de explicar quem sou eu, e o que eu quero de vocês.

Arautos do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora