•Rikardo•
Depois de um longo dia de trabalho e planejamentos ao lado do governador ele estava de volta ao seu hábitat natural, o Quartel General da guarda da cidade. Ficava a apenas algumas quadras da fortaleza, da janela de sua sala no alto da torre central era possível ver os muros altos e escuros da casa do governador, luz flamejante produzidas por tochas mostravam os guardas da fortaleza caminhando sobre as muralhas e suas guaritas no alto das torres que a cercavam. Um vento frio com cheiro de segredos sinistros soprava lá fora, o céu era uma massa escura infinita sem lua, sem estrelas, o ambiente perfeito para a apresentação dos corvos que grasnavam ao redor de sua torre.
Uma batida seca na porta robusta de madeira da sua sala lhe roubou a atenção.
—entre!. Disse ao se virar para o interior da sala novamente.
Um guarda franzino e feio entrou, parecia nervoso e oscilante diante do Lorde da Guarda.
—sen... senhor o jantar será servido. O homem era patético em cada pedaço de sua existência, mal parecia um Alto de verdade com aquela aparência frágil, sua voz gaguejante e falha era repugnante aos ouvidos. —o capitão me pediu para... para avisá-lo.
Rikardo, maduro e polido em suas ações amaciou e guardou seu desprezo pelo jovem guarda em sua frente e apenas disse:
—eu já vou.
E assim como entrou ele saiu, sem olhar diretamente nos seus olhos, rastejando de fininho como uma barata silenciosa.
A brisa fria da noite soprou pela janela e lhe deu um beijo no pescoço fazendo-o se virar para noite de Torbelário novamente, ele também a encarou com desprezo e saiu.
No salão principal o barulho dos homens conversando, bebendo e rindo ao redor de mesas longas eram como uma sinfonia que lhe agradava os ouvidos, lustres de ferro presos no teto traziam uma iluminação parcial daquele ambiente escuro e caloroso, um pequeno estrado elevado com uma mesa grande era onde ele se sentava com seus capitães, eles eram doze ao todo. Rikardo se sentava no meio é claro, sua cadeira de carvalho enorme e pesada se destacava das outras quase como um trono.
Ao subir o estrado para se sentar todo o salão ficava em silêncio, e centenas de homens se levantavam enfileirados em suas mesas para saudar o Lorde. Um breve aceno de sua mão e toda aquela sinfonia caótica voltava a tocar, era assim todas as noites.
—como estão os preparativos para a vinda do Duque?. Perguntou Layan, terceiro capitão da cidade, um dos poucos que considerava um amigo.
—esta uma merda. Desabafou com seu tom rude, mas que para Layan já era habitual. —esse governador é um louco, ele pensa que estamos na capital.
Layan tinha longos cabelos brancos que se mesclavam a uma barba, não era velho mais também não era novo, tinha uma personalidade sagaz e uma certa propensão ao bom humor, um de seus olhos era azul claro, o outro era branco fantasmagórico e tinha uma terrível cicatriz de guerra que o atravessava até a bochecha, trazia um pouco de contraponto para sua personalidade amigável, que também poderia ser feroz se necessário.
Layan se sentava a sua direita na mesa dos capitães, pois era um dos poucos que conseguia aturar por mais de cinco minutos, seu lado direito era guardado por Ravina, única mulher capitã da guarda da cidade. Seu cabelo loiro estava sempre bem preso em um rabo de cavalo impecável, seu rosto de traços finos e simples não era tão bonito, mas também não era desagradável. Ravina não falava, era muda, mais tinha outros métodos de comunicação, e por isso ela era seu segundo capitão favorito, ela nunca imcomodava com conversa fiada, perguntas óbvias e inutilidades, além do mais vez ou outra ela aquecia sua cama em noites frias como aquela, por isso cultivava boa relação com a única mulher da guarda.
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Arautos do Caos
FantasyTodo o mundo conhecido é dominado e subjugado por uma raça de seres conhecidos como Os Altos. Grandes, fortes e invencíveis eles tomaram o mundo pra si e o fizeram virar o inferno na terra. Entre tantas dores e tragédias causada pelas ações dos Alto...