Cap.12 Espetáculo na rua

2 0 0
                                    

•Emet•

Seu percurso a cavalo ao lado de Kay foi inundado por silêncio oco e constrangedor, ele tinha um rosto sério que não parecia dar margem pra papo furado. Mesmo convivendo e até treinando juntos durante o último mês ele nunca tinha passado muito tempo a sós com Kay, não sabia muito como iniciar uma conversa com ele, sua cabeça até tentou formular algumas frases para iniciar um diálogo mas acabou desistindo delas, então deixou aquele silêncio esquisito permear entre eles.

—você está nervoso?. Kay quebrou o silêncio por fim, para o alívio de Emet.

—mais ou menos, e você?. Sua voz denunciava certo nervosismo.

—eu estou tranquilo. Ele parecia pleno em cima do seu cavalo, sua voz era serena, e ele não desviava o olhar do caminho. —você parece que vai vomitar de nervosismo a qualquer momento, quer desabafar?.

Queria poder discordar da afirmação dele mas infelizmente era verdade, por mais que tenha se preparado para esse momento uma tensão agonizante estava devorando seus nervos, e o fato de não ter tanta intimidade com Kay era até positivo pois o encorajava a revelar seus medos e preocupações.

—sabe eu... eu não tenho certeza se consigo matar alguém de fato, e isso tá me deixando muito nervoso, eu sei que os Altos merecem tudo o que há de ruim, eu também os odeio mas...

—você não é um assassino!. Kay completou a frase que Emet exitou.

—eu nunca matei nada na minha vida, eu sinto que vou acabar falhando quando a hora chegar. Admitiu com vergonha na voz.

—você não vai estar sozinho, eu sou um caçador, minha profissão é matar coisas, então se chegar a hora e você não conseguir terminar, eu faço!.

Emet ergueu a cabeça para Kay, eles fizeram o primeiro contato visual desde o início da viagem, e viu nele além do habitual ar sério uma expressão de confiança, por mais que ele não tenha dito com todas as palavras conseguiu sentir alí uma abertura para confiança, era um sinal de que ele teria um parceiro na hora da luta.

• ───── •✧✧• ───── •

Já em Torbelário eles seguiam a cavalo pelas ruas, Emet sentia alguns olhares recaindo sobre eles, e não sabia decifrar o que exatamente essa sensação lhe causava além de desconforto.

Pelas ruas estreitas das periferias humanas o passo tinha que ser mais vagaroso, Kay seguia na frente e ele atrás, seu maior receio no momento era encontrar algum guarda antes de chegar ao posto de vigilância, queria que tudo ocorresse exatamente como planejado. E ao que parece isso iria acontecer.

Ele e Kay estavam nos Fiapos, um outro bairro habitado por humanos, embora a maioria alí também fossem pobres a situação era menos precária que o Penico de Jó, as ruas tinham calçamento de pedra mesmo que mal feito e irregular, as casas pareciam ter uma infraestrutura um pouco melhor que um covio de baratas, e não tinha cheiro de comida podre e cadáver nas ruas.

—é aqui!. Kay anunciou enquanto parava bruscamente com seu cavalo ao fim da rua.

O posto de vigilância do bairro não passava de uma pequena casa quadrada com um andar, estacas de madeira na frente eram usadas para amarrar os cavalos grandes que os Altos montavam. A rua era grande e bem larga, e formava uma espécie de pátio na frente do posto, pessoas comuns transitavam por ela seguindo suas vidas, e não olhavam na direção do pequeno edifício quando passavam na frente.

Emet e Kay desceram de seus cavalos, não havia onde amarra-los então tiveram de deixar os bichos soltos em uma esquina estratégica para a fulga, por sorte havia mato crescendo na frente de uma casa velha e abandonada, isso iria destrair eles enquanto estivessem ocupados. Eles iriam chegar na frente do posto de vigilância a pé. Alguns passos antes disso Kay parou por um momento.

Arautos do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora