•Nuank•
Quando acordou a primeira coisa que percebeu era que aquele sorriso bobo ainda estava estampado em seu rosto, orgulho próprio era o que fervilhava nas veias agora. Embora ainda fosse uma coisa pequena, uma única parcela de suas habilidades, já era mais que o suficiente para se orgulhar.
Ainda estava cedo quando desceu as escadas e foi para a mesa de café da manhã da sala de jantar. Apenas Cosmi estava presente.
—bom dia. Desejou ao amigo.
—pra você também. Cosmi sorrio mais com os olhos do que com a boca. —aí eu estava pensando, agora que cada um de nós já domina pelo menos o básico de nossas habilidade, podíamos começar a fazer alguma coisa né?.
—como assim fazer alguma coisa?. As sobrancelhas totalmente franzidas pra'quela frase.
—você sabe o que eu quero dizer, quando é que a gente vai começar a socar as caras de alguns Altos?.
—Cosmi!, não é tão simples assim, nós precisamos estar muito preparados quando formos enfrentar um Alto de verdade. Não tirou os olhos de Cosmi enquanto falava, e também não parou de servir seu café. —nós não podemos ser precipitados, não há motivo algum para pressa, então eu sugiro que a gente fique aqui e treine o máximo possível, até termos um controle excepcional sobre nossas habilidades, e depois...
Um barulho vindo do hall lhes chamaram a atenção, a porta foi aberta e alguém entrou. Ele não demorou a surgir no campo de visão de Nuank e Cosmi, era Kay. Estava abatido e visivelmente machucado. Nuank se levantou de imediato e foi vê-lo, Cosmi foi logo atrás.
—oi, como você tá?. A voz se tornou macia e mansa como nuvens de primavera. —você tá machucado.
O olhar dele estava fixo no chão quando falou:
—desculpa... por ontem, por ter perdido a cabeça. O timbre estava mais rouco e grave do que de costume.
—não é a mim que você deve desculpas.
—onde está o outro Alto?.
—ele ainda não chegou, mais depois você poderá falar com ele. Queria se aproximar de Kay e erguer seu rosto, mais estava com receio. —você devia ir descansar um pouco, Estin vai estar aqui mais tarde e você poderá falar com ele.
Ele não respondeu mais, apenas seguiu cabisbaixo na direção da escada, não encarou Nuank uma vez se quer, talvez estivesse com vergonha, e talvez fosse melhor dar a ele o tempo de que precisava.
—não tenho certeza se confio nele. A fala de Cosmi trazia um tom sério que raramente era visto na voz dele.
—ele está aqui por um motivo, assim como todos nós, Sybian o escolheu.
De pé ali no hall ele e Cosmi assistiram Kay desaparecer escada à cima.
•Kay•
As dores no corpo o lembraram que ainda estava vivo, algumas eram mais latentes que outras, a da cabeça era a pior delas. Depois que chegou da sua noite de expurgo em Torbelário, não tinha forças para encarar Nuank e aqueles olhos farejadores, estava cansado, envergonhado, dolorido. Durante a breve visita na cidade ele conseguiu trabalhos fáceis e rápidos, caçou ladrões medíocres, lutou contra um cozinheiro de taberna que tentou arrancar seus dedos com um cutelo, espancou um salafrário que tentou roubar seu cavalo, usufruiu dos serviços de uma prostituta que depois tentou lhe roubar também e teve de lutar com ela. Nada daquilo tinha sido gratificante, na verdade no alto da madrugada quando quando perambulava pela sarjeta se deu conta que nada daquilo o satisfazia. As memórias lhe tomaram por completo, as lembranças de infância de quando ia com o avô e o pai caçar na Floresta Verde, aquela era a sua casa, era a sua vida até os Altos chegarem, trazendo a bandeira de um novo reino e em baixo dela a morte.
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Arautos do Caos
FantasyTodo o mundo conhecido é dominado e subjugado por uma raça de seres conhecidos como Os Altos. Grandes, fortes e invencíveis eles tomaram o mundo pra si e o fizeram virar o inferno na terra. Entre tantas dores e tragédias causada pelas ações dos Alto...