Cap.08 Mil pétalas

7 0 0
                                    

•Kay•

A vida na mansão não estava sendo como imaginava, de dia não tinha muita coisa pra fazer, de noite era igual de dia, estava entediado, e mais do que isso, dois dias vivendo naquela casa bonita e luxuosa provaram que ele não era o tipo de pessoa que nasceu pra ficar parado por muito tempo. Embora os serviços que pegava em Torbelário não fossem os trabalhos mais dignos nem os mais fáceis, ainda sim era algo ele podia fazer pra se sustentar. Caçar bandidos, golpistas, devedores, maridos e esposas traidores não era tão diferente de ir pra floresta caçar um veado ou javali, a adrenalina e os instintos de caça eram os mesmos.

Andando pela casa ele encontrou na ante sala de transição uma cristaleira contendo algumas garrafas de bebida, e se serviu de uma dose de uísque. Aquela casa era linda, um verdadeiro palácio por dentro e por fora, mais aparentemente ainda não era o bastante, talvez não devesse ter aceitado a proposta daquele Deus Alto esquisito. Ele havia prometido dons que possibilitariam a luta contra um Alto, mais até o momento nada de diferente lhe ocorreu depois que levou a picada da cobra. Na sala mobiliada ele sentou sobre uma das poltronas confortáveis enquanto apreciava seu uísque, sozinho e em silêncio. Nuank ia subindo distraído a escada do hall, ele era o único ali com quem tinham alguma ligação, e nem era exatamente o tipo de ligação que queria.

—ei!. Chamou sua atenção antes que ele subisse escada à cima. —vem cá.

Ele veio caminhando calmamente, trazia um livro enorme de baixo do braço, sentou-se em um dos sofás perto dele.

—oi tá tudo bem?. Perguntou como se já tivesse lido seus pensamentos.

—hmm... Não sei, eu tô meio entediado aqui. esticou as pernas pra ficar mais a vontade na poltrona. —você me acharia louco se eu quisesse voltar pra Torbelário?.

—sim, com certeza sim. A risada rompeu dos dois ao mesmo tempo.

—falando sério, eu tô meio incomodado, não gosto de ficar parado por muito tempo sabe, e agora que eu tô aqui nessa casa linda onde eu não preciso fazer nada eu me sinto um bosta, em Torbelário todos os dias eu tinha que arrumar um serviço pra ser meu ganha pão de cada dia, e de alguma forma isso me preenchia. Deu uma última golada acabando com seu uísque.

—se você gosta do trabalho que faz, e quer voltar a trabalhar então vai, Torbelário tá a trinta minutos daqui, Sybian deixou claro que nós não somos obrigados a nada, você é livre pra ir e vir quando quiser. Nuank falava calmo, um leve sorriso dançava em seu rosto entre uma palavra e outra, não parava de olhar para aquela boca.

—eu pensei que fosse obrigatório ficar aqui e fazer... sei lá o que vocês fazem durante o dia. Uma risada involuntária escapou dele, e Nuank também riu.

—você já conheceu o Estin né?.

—o outro Alto, é já o vi, ele é um deus também?.

—não, eu acho que não, ele é algum tipo de servo do Sybian, ele vai nos treinar para ajudar a controlar as habilidades, a magia que Sybian nos deu.

—você já usou a... sua magia, já sabe como funciona?.

—ainda não, ele ainda não me treinou e eu ainda não sei como fazer para usar. Ele desviou o olhar por um estante, como se sentisse vergonha daquilo. —ontem eu vi o treinamento do Emet, foi incrível, ele tem poderes de fogo, então eu sugiro que pelo menos você tente praticar com Estin e conhecer suas habilidades antes de voltar a caçar pessoas nas ruas de Torbelário, eu não duvido que você já era um bom caçador antes, talvez agora com novos talentos você fique melhor ainda.

—e como eu faço isso, tenho que ter hora marcada com ele?. Seu bom humor ficou aflorado depois do drink de uísque.

Nuank lhe lançou um sorriso e um olhar debochado, não deu tempo de pensar, ele pulou do sofá e o arrastou pela mão arrancando-o da poltrona de onde estava. Nuank começou a levá-lo para os fundos, nunca tinha ido a essa parte da casa, não estava familiarizado com nada ali.

Arautos do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora