Chapter I: Formalities.

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Before

 A chave estava velha e o trinco quebrado. Minhas mãos estavam cheias de pastas, relatórios e outras porcarias mais, fúteis o suficiente para me fazer querer vomitar naqueles papéis e depois jogar pela janela.

 Mas eu não tinha uma desculpa muito boa caso aquilo acontecesse, e eu não podia ser demitida.

 Apoiei o joelho na madeira, a forçando para trás, para que a fechadura ficasse rente ao restante grudada no batente. Consegui destravar, mas não foi o suficiente.

 Bati o quadril na madeira velha, forte demais para que ela se recusasse a ser aberta.

 Quase caí, o pior de tudo foi quase ter quebrado a porta e ter amassado aquelas porcarias nos meus braços. Embora a realidade fosse que eu não ligava.

 Olhei para o sofá a um metro e meio de distância, buscando a moça de cabelos azuis ali deitada, ou na poltrona velha assistindo a algum canal patético demais que não era preciso pagar para ter.

 Não a encontrei.

 Olhei para a mesa de jantar quadrada onde as duas cadeiras estavam ocupadas com livros e mais papéis.

 Depositei os que eu segurava ali, sem nenhuma pretensão real de conferir os dados depois.

 Encontrei o vidro fino da janela levemente trincado, o que indicava uma possível catástrofe quando o inverno começasse, sem ter alguma proteção contra o gelo.

 Respirei fundo, preciso dar um jeito nisso.

 Virei-me para ir até a cozinha, que era separada do único cômodo por um balcão de cimento. Foi ali que encontrei a moça que tanto procurava.

 Ela estava de fone então provavelmente não tinha ouvido minha entrada triunfal após quase estourar a porta. A camiseta larga do seu ex namorado e os cabelos desgrenhados indicavam que não havia saído de casa naquele dia.

 Sem nenhum aviso prévio, passei para dentro do quadrado que nos servia de cozinha, abri a geladeira, retirei o resto de uma marmita que havia lhe feito e coloquei no microondas.

 Ela olhou para mim, mas não disse nada, continuou a lavar alguns legumes na pia.

 Fui até o fogão, decidida a esquentar um pouco de leite para colocar achocolatado, e foi nesse momento que minha irmã me encarou de novo, com aquele olhar julgador que eu detestava.

 - O que foi? - Indaguei, ignorando a intimidação. - Quais bocas estão funcionando?

 - A dois e a três. A gente precisa mandar esse fogão pro concerto - deu de ombros.

 - Com qual dinheiro?

 - Com o que você vai ganhar daqui a pouco - ela sorriu, como se aquela quase discussão fosse a oportunidade que ela estava esperando para começar a falar.

 Revirei os olhos, enquanto ela começava:

 - A gente vai ganhar uma puta grana, maninha, eu só tô esperando - ela deu um giro no próprio eixo, fazendo a meia velha desfiar ainda mais. - A gente vai sair dessa merda! - Sorriu, mais contente ainda. - Alguma evolução com o gostosão?

 Fiquei calada, não queria contar do ocorrido daquela tarde, provavelmente ela iria me matar por saber que minha atenção foi chamada.

 Dei de ombros, desinteressada, para que só então ela começasse realmente a me reclamar por não estar tomando nenhuma iniciativa com meu chefe.

 A verdade era que eu estava sim. O problema talvez fosse eliminar a concorrência, que, por sinal, não era nada fraca.

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