Chapter XX: Sun and Sorrows.

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Sunayna Villalobos

 Estava com raiva do sol por brilhar tão forte naquele início de tarde. Como se uma ótima notícia fosse anunciada em breve, como se o mundo fosse um lugar muito bonito, e que, por isso, ele estivesse esperando e convidando todos para viver.

 Mas eu não queria.

 Fiquei com raiva daquela enfermeira que só sabia escrever e escrever, nem para conseguir trocar o soro em meu braço sozinha ela servia. Sentia mais raiva ainda do médico, que estava sempre muito bem afeiçoado, sem nenhuma olheira. Ele não parecia o tipo de pessoa que saia de seu consultório, mas sim que era destinado apenas a fazer visitas, dar notícias ruins e ler meu estado físico por aquelas máquinas.

 Me sentia destroçada, destruída interna e externamente. Tudo em mim doía, a mágoa crescente não deixando espaço para mais nada.

 Sentia mais raiva ainda por eu mesma ter me metido naquela confusão, porque a ideia podia ter sido da Aranella, mas eu havia aceitado participar.

 O fato era que se eu simplesmente tivesse deixado aquela ideia para lá, não teria perdido um filho por ter magoado uma pessoa já ferida.

 Todos me olhavam com carinho, e eu não merecia. Tinha plena consciência de que se eu não tivesse entrado em suas vidas, não estariam ali, chorando a perda de um herdeiro do trono, lidando com uma foragida perigosa e com uma golpista debilitada.

 Não consegui prestar atenção em nada, somente em cinco palavras que eram de praxe junto com o buquê de flores: sinto muito por sua perda. Ao resto, era alheia.

 Pessoas elegantes vinham, apertavam ou beijavam minha mão, uns davam sorrisos de pena, outros tentavam dizer que tudo iria melhorar. A verdade é que eu estava pouco me importando. Eu queria ficar sozinha com minha família, só.

 Ao entardecer, quando o sol irritante se preparava para me deixar em paz, os visitantes que vinham desejar os pêsames e minhas rápidas - e indesejadas - melhoras, também tiveram o bom senso de se retirarem.

 Ouvi um longo suspiro aliviado que supus ser de Cássio, depois senti Esiko deixar um beijo em minha palma e o vi se levantar, para pedir a enfermeira que trouxesse algo para eu comer, mesmo que não quisesse.

 Algumas pessoas mais saíram do quarto, não sabia exatamente quem, mas Esiko permanecia ali. Ele ficou parado, firme nos dois pés, a postura levemente relaxada, brincando com os nós dos dedos e me encarando.

 Olhá-lo agora parecia mais difícil, afinal, eu havia perdido algo que era tão meu quanto dele.

 A certeza de que eu não servia nem para proteger meu bem mais precioso era clara. Eu não era digna de confiança, não sabia nem como fazer uma coisa que me era designada pelas leis da natureza.

 Por que eu tive que ser tão imbecil? Por que não tentei fugir e despistar Cora? Por que tive que enfrentar? Eu fui ruim até para minha própria filha.

 Senti lágrimas escorrerem, as mesmas que se recusaram a cair por causa de algum choque idiota. Finalmente elas se libertaram, rasgando e queimando toda a extensão de pele que alcançavam.

 Ouvi falar que chorar curava a alma, que apascentava o coração e amenizava as dores. Mas, ao menos para mim, só deixava tudo mais intenso, mais real. Pior.

 Esiko me abraçou com certa urgência, se sentando com cuidado no colchão do hospital ao meu lado, e me encaixando em seu corpo.

 Não tinham palavras para justificar o que eu havia feito, mas eu necessitava que ele ouvisse alguma explicação, mesmo que fosse sem nenhuma base sólida.

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