Chapter XXIV: Jury.

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Seattle, August 24.

 Fazia um tempo que eu havia saído da Alemanha, não tanto tempo assim, mas um bom tempo. Afinal, o que eram cinco meses em meio a correria de Seattle?

 O sol da manhã iluminava o interior do prédio de vidro, com mais andares do que qualquer outro, o dia estava com um brisa fresca e um céu com nuvens esporádicas.

 Era exatamente esse céu que eu encarava enquanto o elevador subia cada vez mais, passando por estreitas armações de ferro que sustentavam o cilindro transparente.

 Olhei para meus pés, vendo as pessoas lá embaixo parecerem formigas minúsculas, e desejei que eu não estivesse ali, que eu não estivesse indo para aquela merda de audiência, ainda queria que tudo tivesse dado certo, mas deixei externar que só queria que tudo acabasse logo.

 Alisei a saia do meu terninho preto novamente, depois conferi os sapatos lustrosos, pensando que com certeza eu já havia arranhado.

 Minha irmã ao meu lado permanecia no celular, trocando mensagens com um cara qualquer que ela ia ver logo depois dali. Era estranho que, mesmo depois de tanto tempo, ainda sentia uma amargura em relação a ela, como se voltar a lhe confiar qualquer detalhe de minha vida fosse perigoso, incerto.

 As portas se abriram, deixando-se revelar o andar de paredes no tom mais claro de cinza e piso do que parecia ser mármore branco, ou o que fosse semelhante àquilo.

 Minha cabeça doía pela quantidade de trabalho no dia anterior, afinal, realmente não era nada fácil conseguir um bom emprego no meu ramo sendo mulher e estrangeira. Porque ainda existem uns merdas que acham que podem inferiorizar os outros por isso.

 Adentramos a recepção que mais parecia um consultório médico ou uma sala de espera da funerária. Só havia uma mulher lá, uma senhora de cabelos grisalhos presos num coque, terno num tom de púrpura e um broche de flor. O silêncio era quase desconcertante, tanto que pude ouvir nossas respirações misturadas ao som dos nossos saltos e das teclas do computador.

 Quando paramos em frente à mais velha, ela sequer se dignou a nos olhar, como se nem tivesse nos notado ali.

 A chamei, a tratando educadamente como "senhora", mas ela simplesmente fez que não ouviu. Aranella soltou um suspiro entediado, revirou os olhos e tocou em uma sineta de prata que estava bem debaixo de meus olhos e eu não havia notado. No ato, o som ecoou pelo cômodo todo e um tempinho depois, extinguindo seu eco ao a voz da mais velha perguntar o que desejávamos.

 Deixei que Aranella falasse, aliás, ela não me deu tempo nenhum para eu anunciar que havíamos chegado para o meu divórcio.

 Me acomodei em uma poltrona branca com bolas de ferro como pés. Puxei meu celular e abri em qualquer rede social que apareceu na minha frente, tentando buscar algo que fosse mais interessante que minha ansiedade.

 A mulher de coque se levantou de repente, ela alisou o terninho e saiu de trás da mesa de escritório branca, passando por nós como se não estivéssemos ali e entrando em uma porta com o número dois em algarismos romanos.

 Demorou exatamente dois minutos para que Aranella abrisse a boca.

 - Credo, quando eu ficar rica não quero ser assim não - bateu em meu braço. - Vou ficar um nojo, não é de negar, mas não quero ser assim, não.

 Eu a ignorei, não só porque estava fazendo isso havia muito tempo, mas porque qualquer coisa que ela me dissesse havia perdido a graça e a lógica. Para mim, ela era como aquelas garotas chatas do ensino médio que vêem graça em tudo e fazem piada com todos.

Black RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora