Chapter VI: Serious conversation.

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 Revirei os olhos novamente e encarei o jardim tomado pelo breu da noite através da janela. Bufei, cansada de mais discussão, uma ofensa atrás da outra, metralhando.

 Minha cabeça latejava, reclamando e implorando o descanso que não teve durante todo o dia.

 Emília me acusava para Esiko, que permanecia sentado em sua poltrona comodamente, me encarando. Eu não havia aparecido para o almoço e nem para o café da tarde.

 Omiti a parte de que passara a tarde toda ajudando Eve com as vendas na loja e que havia ganhado até uma rosa de uma garotinha que, contra vontade, teve que ir fazer um vestido para sua formatura do Ensino Fundamental, eu particularmente deixei aquele lugar mais divertido para ela.

 Fiquei calada também sobre o fato de não ter aceitado o dinheiro que Emília me entregara, fui acusada de estar fazendo drama para chamar a atenção, "dando uma de gostosa", segundo a própria governanta.

 Novamente, ela falou sobre como eu era imprudente e teimosa. Reclamando outra vez sobre eu não ter sequer a boa fé de lhe mandar mensagem para avisá-la que me atrasaria para as refeições.

 - Ela vai ficar sem essa merda de celular e vai ser vigiada vinte e quatro horas, não quero nem saber - dessa vez, meu olhar espantado encobriu o de desinteresse. - Ela está me enlouquecendo em apenas um dia, o tanto que você não me enlouqueceu nesses vinte e oito anos, Esiko.

 Quis rir, e muito, ao tempo que quero mais que tudo quebrar a cara dessa maluca riquinha de merda.

 Ela quer me tirar a única coisa que me permite não pirar nesse hospício chamado palácio, quer me privar de falar com a única pessoa que me entende. Porque duvido muito que um deles me deixe ligar para Aranella no meio da madrugada usando o celular deles.

 Vi o Cássio concordar com um aceno de cabeça, o que me deixou mais irritada ainda. Claramente ele não estava de serviço, a julgar por suas roupas casuais, então porque está aqui?

 - Se ela tem celular, é pra responder! É pra usar! Agora também vai ficar sem.

 Me levantei de repente, detendo o olhar de todos. Cruzei os braços e neguei com a cabeça aquela infantilidade.

 - Quer saber? - Comecei. - Eu não tenho mais doze anos, Emília! Você não é minha mãe e o Cássio não é meu pai! - O moreno ergueu as mãos, imparcial. - Vocês não podem e não vão tirar meu celular e meu livre arbítrio, porque sei que esse país aqui também tem regras e que elas servem muito bem para os membros da realeza.

 A morena me fuzilou com o olhar, enquanto o advogado ainda se mantinha imparcial, apenas olhando sem interesse para os próprios pés. Ele sabia que eu tinha razão.

 - Eu não sou uma idiota qualquer! - Prossegui. - Eu sei dos meus deveres e também tenho consciência do que eu posso ou não fazer. Se vocês estão achando ruim, ótimo! Por que eu não me importo mesmo se vocês gostam de mim. E digo mais, só cheguei na hora do jantar porque não queria ficar incomodando ninguém da vila.

 Esiko bateu palmas antes que uma nova discussão com a governanta, que já estava abrindo a boca para protestar, se iniciasse.

 Ele se levantou devagar, charmosamente, abotoando o blazer como se fosse a coisa mais importante do mundo para ele. Essa merda de boas maneiras me irrita.

 Não saindo do lugar, ele se curvou um pouco, em desafio.

 - Acabou seu showzinho?

 - E você, pelo visto, vai começar o seu - devolvi.

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