Estava com tanta dor que achei que ela não seria capaz de aumentar, mas meu nervosismo provocou isso. Não ter tomado o remédio antes de descer foi meu erro.
O ar lá dentro parecia tenso, como se muitas pessoas estivessem à deriva num mar revolto e eles soubessem que logo iriam morrer. Mesmo com a porta nos separando, senti meu estômago embrulhar.
Dei alguns toques na porta, tentando parecer o mais tranquila possível, mas qualquer coisa se assemelhava ao estrondo de um relâmpago.
Não houve voz alguma anunciando que eu podia entrar, mas mesmo assim o fiz, e senti como se chamas me queimassem lentamente, como labaredas passando por todo meu corpo.
A sala estava uma bagunça, a única coisa que ainda estava inteira sob o conjunto de três escrivaninhas onde avô, pai e filho trabalhavam eram os computadores e alguns livros.
No instante em que entrei por completo no cômodo, olhares furiosos viraram-se para me encarar.
O rei Egon estava com o terno perfeitamente alinhado - como sempre -, apertava os quadris com as mãos na cintura e sua expressão não era nada contente.
Esiko segurava o braço do pai, como se o prendesse no lugar, dando a entender que o que quer que estivesse acontecendo, eu tinha interrompido.
Andreas apertou os olhos, a respiração pesada, como a de um touro bravo, a mandíbula cerrada, os punhos se fechando, isso tudo ao notar que eu estava ali.
Ele empurrou o filho tão bruscamente que pareceu até que Esiko era um menininho de pouca idade, caindo de mal jeito sobre uma cadeira de escritório.
Diminuindo o espaço entre nós muito rapidamente, Andreas agarrou meu pulso, não conseguindo olhar para meu rosto, e, ignorando meus protestos, me arrastou até uma mesa perto da janela.
Ele me atirou no sofá preto, exatamente como fizera com o filho. O encarei sem entender, ignorando os milhares de papéis espalhados pela madeira da mesinha de centro.
Com raiva, ele grudou a mão na minha nuca, virando meu rosto para a papelada, me obrigando a encará-la.
O loiro não disse nada. E nem precisava. Tudo ficou claro: ele havia me descoberto. As tentativas de Egon "consertar" o neto havia falhado.
Peguei os papéis em mãos e consegui enxergar finalmente o nome "contrato de casamento", depois todo um relatório em letras visíveis e notas anexas com datas específicas, descrições de coisas que eu fiz e de todos os passos que Esiko dera.
Aquilo era uma carta de confissão que nem eu mesma sabia ter assinado. O pior de tudo era que, diferente de alguns casos, confessar não faria a menor diferença. De qualquer jeito, eu não tinha esperança de que não fosse ao menos presa.
- Saia da minha casa! - o príncipe gritou, de repente.
Sobressaltei com o susto e me encolhi no exato instante que ele agarrou meu braço novamente, me arrastou até perto da porta e me largou lá.
Seus olhos haviam se tornado cinza, frios, ferozes e brutais, uma veia saltava de sua testa, vira claramente sua vontade de quebrar meu pescoço. Decepção era a palavra que estava estampada em seu rosto.
Não consegui me mover, como se tivesse sido colada ao chão, o que provocou mais ainda o loiro, como uma afronta.
- SAIA DA MINHA CASA! - Ele berrou mais alto, apontando para a porta.
- Alteza, ela não está em condições de deixar o palácio. Para onde ela vai?
- Não me importa, Cássio! - novamente gritou. - Eu não ligo!
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Black Rose
RomanceUm novo emprego. Uma oportunidade. Uma nova vida. Do subúrbio de Seattle, uma jovem começa em seu novo emprego em uma das maiores empresas de marketing do país com um único objetivo em mente: ficar rica, custe o que custar. Entretanto, conquistar...