Chapter XXII: What if everything could still be different?

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 Cássio adentrou o quarto como um furacão. Seu terno que deveria estar perfeitamente alinhado estava amassado, os cabelos levemente desgrenhados e o olhar atordoado.

 Ele falava algo em mandarim no telefone enquanto olhava para o relógio. Apoiou alguns papéis na pequena mesa na salinha do quarto, escrevendo letras rapidamente com uma caneta confeccionada por Renane.

 Quando enfim pareceu se despedir, virou-se de supetão para Emília, ainda tranquilamente parada na porta de acesso, como se risse do nervosismo do amigo.

 - Estão precisando de você.

 - É claro que sim, quando foi que não precisaram?

 - É, sério, Mila - replicou ao apelido e virou-se para mim. - Vai ficar bem sozinha?

 - Claro que sim - a governanta respondeu por mim.

 Anui com a cabeça sob o olhar preocupado do advogado e, após Emília pegar a bolsa, observei ambos saírem rápido.

 A casa estava ficando vazia novamente, com apenas alguns empregados perambulando só quando preciso pelos corredores. O rei, o príncipe e o duque tinham coisas importantes para fazer novamente. O mundo girava pleno, afinal. E era muita ousadia querer ser o centro dele.

 Por isso, passar o restante das horas na sala de cinema, não prestando atenção em nenhum filme sequer, me trouxe novamente a culpa na consciência.

 Olhava o celular, mas na tela de bloqueio tinha uma foto da minha barriga e de Esiko a beijando e a tela de fundo era das colunas de Ballenstedt cobertas por neve. Tudo me fazia lembrar do quanto eu havia errado.

 Quando o relógio no alto da parede indicou que já eram seis e vinte da tarde, me limitei a caminhar até a janela e espionar o crepúsculo com camadas roxas escorrendo como tinta pelo fundo alaranjado. O céu no alto já estava salpicado de estrelas e a lua devia estar em algum lugar fora do meu alcance.

 Esiko havia me perguntado no dia anterior o motivo de eu estar tão quieta ultimamente. Respondi parte da verdade: que demoraria para eu me recuperar de tudo, que ainda estava doendo. Mas eu também não queria me apegar mais, e tornar tudo ainda mais difícil.

 Subi as escadas, pulando um ou dois degraus e me embrenhado no meu quarto. Deixei a porta de acesso aberta, indo e vindo do quarto de Esiko, trazendo mais e mais roupas de lá e as colocando na mala.

 Estava trêmula, estava triste e cansada, com dor e confusa, mas nada ali podia me apresentar uma solução tranquila.

 Não reparei quando o moreno de roupa branca chegou, nem muito menos quanto tempo ele gastou parado na porta de acesso, tentando entender por conta própria porque eu fazia as malas.

 Só quando o baque seco dos seus tênis brancos para o jogo de golf se espalharam no quarto, que pareceu dar eco, foi que, num sobressalto, notei sua presença.

 Seus olhos confusos me encararam, depois minhas mãos paradas, as malas e voltaram às minhas íris castanhas, enquanto eu pateticamente já pensava em mil desculpas diferentes.

 - O que você está fazendo? - Indagou, enfim.

 - Você não devia voltar só no final da tarde? - Quase gaguejei.

 Ele me ignorou, jogou o equipamento para golf no chão e caminhou até mim. Ainda confuso tocou meus ombros enquanto encarava as malas abertas.

 - Você não vai embora - disse tão firme, que reconheci que era uma ordem.

 - Eu pre... - respirei fundo, eu tinha que parar de querer chorar alguma hora, afinal. - Eu preciso, não tem motivo para me manterem aqui.

 - Você ficou maluca?! - Ele me fez encará-lo. - Claro que tem! Eu...

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