Cássio adentrou o quarto como um furacão. Seu terno que deveria estar perfeitamente alinhado estava amassado, os cabelos levemente desgrenhados e o olhar atordoado.
Ele falava algo em mandarim no telefone enquanto olhava para o relógio. Apoiou alguns papéis na pequena mesa na salinha do quarto, escrevendo letras rapidamente com uma caneta confeccionada por Renane.
Quando enfim pareceu se despedir, virou-se de supetão para Emília, ainda tranquilamente parada na porta de acesso, como se risse do nervosismo do amigo.
- Estão precisando de você.
- É claro que sim, quando foi que não precisaram?
- É, sério, Mila - replicou ao apelido e virou-se para mim. - Vai ficar bem sozinha?
- Claro que sim - a governanta respondeu por mim.
Anui com a cabeça sob o olhar preocupado do advogado e, após Emília pegar a bolsa, observei ambos saírem rápido.
A casa estava ficando vazia novamente, com apenas alguns empregados perambulando só quando preciso pelos corredores. O rei, o príncipe e o duque tinham coisas importantes para fazer novamente. O mundo girava pleno, afinal. E era muita ousadia querer ser o centro dele.
Por isso, passar o restante das horas na sala de cinema, não prestando atenção em nenhum filme sequer, me trouxe novamente a culpa na consciência.
Olhava o celular, mas na tela de bloqueio tinha uma foto da minha barriga e de Esiko a beijando e a tela de fundo era das colunas de Ballenstedt cobertas por neve. Tudo me fazia lembrar do quanto eu havia errado.
Quando o relógio no alto da parede indicou que já eram seis e vinte da tarde, me limitei a caminhar até a janela e espionar o crepúsculo com camadas roxas escorrendo como tinta pelo fundo alaranjado. O céu no alto já estava salpicado de estrelas e a lua devia estar em algum lugar fora do meu alcance.
Esiko havia me perguntado no dia anterior o motivo de eu estar tão quieta ultimamente. Respondi parte da verdade: que demoraria para eu me recuperar de tudo, que ainda estava doendo. Mas eu também não queria me apegar mais, e tornar tudo ainda mais difícil.
Subi as escadas, pulando um ou dois degraus e me embrenhado no meu quarto. Deixei a porta de acesso aberta, indo e vindo do quarto de Esiko, trazendo mais e mais roupas de lá e as colocando na mala.
Estava trêmula, estava triste e cansada, com dor e confusa, mas nada ali podia me apresentar uma solução tranquila.
Não reparei quando o moreno de roupa branca chegou, nem muito menos quanto tempo ele gastou parado na porta de acesso, tentando entender por conta própria porque eu fazia as malas.
Só quando o baque seco dos seus tênis brancos para o jogo de golf se espalharam no quarto, que pareceu dar eco, foi que, num sobressalto, notei sua presença.
Seus olhos confusos me encararam, depois minhas mãos paradas, as malas e voltaram às minhas íris castanhas, enquanto eu pateticamente já pensava em mil desculpas diferentes.
- O que você está fazendo? - Indagou, enfim.
- Você não devia voltar só no final da tarde? - Quase gaguejei.
Ele me ignorou, jogou o equipamento para golf no chão e caminhou até mim. Ainda confuso tocou meus ombros enquanto encarava as malas abertas.
- Você não vai embora - disse tão firme, que reconheci que era uma ordem.
- Eu pre... - respirei fundo, eu tinha que parar de querer chorar alguma hora, afinal. - Eu preciso, não tem motivo para me manterem aqui.
- Você ficou maluca?! - Ele me fez encará-lo. - Claro que tem! Eu...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Black Rose
RomanceUm novo emprego. Uma oportunidade. Uma nova vida. Do subúrbio de Seattle, uma jovem começa em seu novo emprego em uma das maiores empresas de marketing do país com um único objetivo em mente: ficar rica, custe o que custar. Entretanto, conquistar...