Diz pra mim

Capítulo V - Indiferença

Tinha de se apressar, não podia deixar Mikoto esperando. Por isso, mesmo não sendo mais uma criança, pôs-se á correr pelo distrito com o pacote nas mãos. Parou por um segundo para recuperar o fôlego e a compostura antes de adentrar o aposento da Uchiha.

– Aí está você Sakura! Por favor, me ajude á vesti-lo.

– Hai, Mikoto-sama. –assentiu desembrulhando o quimono e seus componentes para logo auxiliar a morena.

Nesses oito anos que se passaram, era Sakura quem cuidava das finas vestimentas de Mikoto, lhe penteava a imensidão que eram seus cabelos negros, ouvia seus desabafos e com isso, conhecia o lado mais frágil da mulher. E embora não recebesse nenhuma quantia por isso, sabia que o carinho quase materno que ganhava da Uchiha e o verdadeiro lar que a acolhera, pagavam e mereciam sua eterna gratidão.

– Sabes do Sasuke? –indagou enquanto terminava de arrumar o penteado.

– Está treinando com Naruto. –respondeu, mesmo tendo superado o trauma da noite em que perdera seus pais, Sakura conservava-se silenciosa e só falava algo quando era solicitada.

– Esses dois só sabem fazer isso! Aposto que nem se alimentaram, pode cuidar disso Sakura? Hoje é um dia cheio, mal acredito que meu filho ficará noivo da princesa. –os olhos de Mikoto tinham um brilho intenso.

Era bom vê-la daquela forma, já que os Uchiha vinham enfrentando muitos problemas desde a morte de Shisui, oito anos antes. Até hoje não haviam descoberto o assassino de negro que Sakura tinha visto e que, de vez em quando aparecia em seus piores pesadelos, sufocando-a enquanto dormia. Os ataques dos samurais desconhecidos também se repetiram, embora tivessem sido poucos nesse período extenso, foi o suficiente para que Imperador questionasse o poder dos Uchiha.

As diferenças entre Fugaku e Madara só aumentaram, mas o irmão mais novo contava com o apoio da grande maioria de seus soldados, permanecendo no poder. Desde então, a organização havia mudado, as medidas de proteção e treinamento se tornaram mais rígidas e até mesmo seus herdeiros diretos arcaram com as consequências. Itachi estava sempre junto do pai e com a perda de Shisui, havia tomado o posto de estrategista para si, de modo que não tinha mais que liderar pelotões de guarda e sim, comandar e distribuir o exército Uchiha por todo país.

Para Sasuke, Fugaku teve outros planos. Enviara o filho junto de Kakashi para cobrir as províncias do norte alegando que somente quando o caçula saísse de baixo das saias da mãe se tornaria um homem de verdade. Agora que o filho tinha voltado, era hora de cumprir com a palavra dada ao Imperador e finalmente garantir a ascensão Uchiha.

Sakura assentiu, passou na cozinha e pôs-se á caminho do dojo com uma bandeja e duas tigelas nas mãos. Ao entrar no local, vira vários guerreiros trocando golpes entre si e por fim, vira os dois que procurava.

Suas espadas chocavam-se uma contra a outra violentamente, a dupla se encontrava tão concentrada que Sakura não se atreveu á interferir, apenas assistiu-os.

Naruto tinha determinação pura em seus olhos azuis. Ele não acompanhou Sasuke em sua temporada fora, de modo que assim pudera nutrir pelo loiro uma boa amizade, pois sabia que Naruto era como ela, um órfão quase sozinho no mundo. Além disso, o mesmo era honesto, franco e mesmo que agora fosse um adulto, continuava divertido e sorridente como uma eterna criança.

Já os olhos de Sasuke não transmitiam nada. Na verdade agora, o olhar ônix parecia ainda mais negro do que antes. Ele também havia deixado de ser um rapaz e se tornara um homem como os outros de seu clã, tal como seu pai. Parecia mais calado, reservado e indiferente.

No dia de sua chegada, Naruto o ergueu nos braços e levou uma bronca ríspida do amigo. Até mesmo Mikoto o recebera cheia de carinho, mas o filho não havia retribuído com o mesmo fervor, segundo ela própria lhe confidenciara. Com Itachi, seu tratamento tinha se tornado mais restrito, quanto ao pai, se tratavam de igual para igual, ou seja, com total frivolidade.