- Dá licença! Dá licença! - Bubbles falava por cima das dezenas de vozes no corredor pequeno.
- Minha filha! - Um pai gritava desesperado prensado em um corredor com vários feridos - Onde está minha filha?!
- Ugh! - Bubbles quase foi atropelada por um ex-caminhoneiro forte e robusto com um menino nos braços.
- Sai da frente! - Ele rosnou para Bubbles. Uma mulher, provavelmente a esposa e mãe da criança, vinha logo atrás do homem completamente em prantos. O casal passou como uma onda pelas várias pessoas que lotavam o salão de entrada, o homem começou a reclamar alto sobre alguma coisa e a mulher pareceu que ia chorar mais, começou um atrito entre eles porque ele aparentemente queria levar o garoto embora dali e a mãe insistia que ficassem.
- Nunca deveríamos ter saído de lá! - O homem gritava - A ideia foi sua de vir pra esse fim de mundo! Agora olha como está o nosso filho!
- Por favor não! - Ela tentava impedir o marido de sair pela porta abarrotada - Ele está machucado! Não leva ele pra longe!
- Me solta! - Ele deu-lhe um empurrão que a fez bater na parede.
Ainda meio atordoada, ele aproximou-se dela ainda na parede, seu corpo grande e intimidador cobria ela inteira. Soltou um som grave e ameaçador:
- Meu filho não vai morrer num inferno desses! Estávamos seguros em Atlanta e você que quis vir pra cá! A culpa é sua! - Apontou o dedo na cara dela e saiu feito um touro atropelando as duas portas de entrada.
A mulher caiu sentada no chão apoiada na parede chorando copiosamente, nesse ponto a garota já tinha se distanciado demais para entender o desfecho, e a própria multidão havia a engolido pra que pudesse voltar. Em outras situações certamente teria parado no local pra tentar consolá-la, mas Bubbles já estava estava à caminho da própria urgência, as pessoas acamadas no corredor do hospital dificultavam muito o trânsito rápido de quem precisasse passar, várias famílias lotavam a ala médica na busca por tratamento ou por um parente perdido, um caos generalizado.
Ela passou por um corredor em "L" que dava acesso à ala de feridos, mas antes mesmo no próprio corredor já haviam pessoas feridas espalhadas por sua extensão, ela passou por cima de um rapaz jovem com um rosto deitado nas pernas de uma senhora, talvez a mãe, ambos no chão com uma cara muito abatida. O rapaz de olhos fechados trincava os dentes pra conter a dor, ele se encontrava deitado pois havia um corte extenso na sua coxa direita e até sua calça jeans estava rasgada na área do corte, não muito fundo para ser preocupante, mas com certeza estava doendo muito.
"Calma filho, calma, vai ficar tudo bem" a senhorinha sussurrava acariciando os cabelos dele na esperança de confortá-lo, mas não estava adiantando.
Naquela cena, Bubbles se viu obrigada a parar seu caminho e fazer alguma coisa, que seja pra ela não ficar com a consciência pesada mais tarde, ela parou na frente dos dois e se agachou olhando para a senhora.
- Aqui, tome - Ela pegou um rolo de gase e rasgou uma quantidade generosa enrolando-a na mão. Deu tudo à senhora e disse por fim - Enrola isso envolta da perna dele cobrindo todo o corte e amarre na parte de trás da coxa, vai estancar o sangramento - Sorriu gentilmente para a senhora para tranquilizá-la, ao final mostrou a ela como fazer o curativo.
- Oh! O-obrigada senhorita - Balbuciou ela.
Mas Bubbles não escutou a última parte, já tinha se levantado e partido às pressas pro interior da ala de feridos. Abriu as portas duplas do setor e adentrou o recinto, o caos ainda maior que se encontrava ofuscava totalmente o visto do lado de fora.
Eram muitas pessoas, muitas pessoas mesmo, entre familiares e feridos só se distinguiam os poucos funcionários, que passavam correndo para lá e pra cá entre as macas e colchões tentando atender a todos. Havia muita gente pelo chão também, era preciso estar atento pra não pisar em ninguém. Gemidos, sussurros, conversas, lamentos, sons de criança, tudo se misturava num ruído constante que preenchia o ambiente. Desde o começo da manhã até aquele momento nunca ficava parado, a cada tempo chegavam mais pessoas necessitando de tratamento, umas mais graves, outras com machucados breves, mas certamente nenhuma tão grave quanto a que estava se direcionando.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Refúgio
JugendliteraturNesta releitura das três meninas que marcaram nossa(minha) infância, os Estados Unidos foi devastado por um vírus estranho, ele transforma seu hospedeiro numa espécie de zumbi que ataca todos a sua volta. Ninguém sabe de onde veio ou como foi cri...