Esperança?

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O dia amanheceu na floresta, as três já estavam acordadas se preparando para seguir viagem até Denver. Não sabiam exatamente o que iriam encontrar mas agora tinham um pouco mais de fé que poderia ser um lugar seguro, a esperança as manteve acesas e um pouco mais determinadas a conhecer um passado do professor que desconheciam. O futuro era uma completa incógnita, mas naquele fim de mundo em que se encontravam nada as impedia de tentar, certo?

Butter estava um pouco cansada pela noite mal dormida, depois daquela conversa na fogueira sua cabeça estava a mil e não teve sono nenhum, por isso se ofereceu para ficar no primeiro turno da vigília noturna. Elas se revesavam em turnos de três horas contadas pela ampulheta de Butter, ela se revesou com Blossom e Bubbles apenas uma vez, então dormiu talvez umas três horas mas que deveriam ser seis. Quando passava o turno demorava a dormir, e quando o pegou de volta viu que não conseguiria dormir mesmo então não trocou mais de turno dando a elas horas a mais de sono.

As duas viram o semblante cansado dela mas não questionaram, sabiam que ela daria conta de se manter acordada para aquele dia, mas seria bem mais lenta. Blossom anotou mentalmente para na noite seguinte, seja lá onde estivessem, dividiria o turno apenas com Bubbles e deixaria a morena dormir. Sempre tão na dela....

Logo as três já estavam prontas então partiram em viagem rumo ao desconhecido de Denver, seria o dia inteiro de caminhada com poucas pausas mas com sorte chegariam na manhã seguinte e assim que se instalassem começariam a procurar pela misteriosa entrada do tal Refúgio que, segundo o professor, ficava nos arredores da capital mas não sabia exatamente onde. Mas Blossom se animava mesmo assim, se procurassem com certeza uma hora a achariam, e elas não tinham pressa mesmo, estava esperançosa.

Atrás dela Bubbles seguia no seu ritmo alegre de sempre, curtindo o sol e as árvores respirando a natureza. Reparava em cada detalhe da vegetação e nos pequenos animais que encontravam de vez em quando, estava feliz. Pensava no professor e na história que ouviu dele ontem à noite, desde que saíram de Dallas sem ele a loira evitava a qualquer custo pensar nele  ou no fato de sua morte propriamente dita.

Não que não sentisse falta dele, totalmente pelo contrário, ela o amava tanto que bloqueou os pensamentos sobre ele pois tinha impressão de que se pensasse mesmo naquilo tornaria tudo real. E também sabia que se pensasse no fato de que seu pai estava morto e nunca mais o veria de novo, no fato de que ele foi devorado pelos zumbis no que provavelmente foi uma morte lenta e torturante e que ele, dentre todas as pessoas na face da terra, não merecia ter tido uma morte tão brutal e lenta, que não o abraçou uma última vez, que suas últimas palavras pra ele foram "Pai, me passa a água por favor?" e principalmente que estava sozinha no mundo tendo apenas suas duas únicas irmãs. Se parasse para digerir tudo isso naquele momento, iria preferir estar morta também.

Mas ele estava morto, fato. Não tinha volta e nem contestação, ele morreu, já era. Uma hora teria que lidar com esse fato, e ela estava evitando a todo custo até ontem à noite. Assim que Butter citou o nome dele pensou que aquela conversa certamente terminaria com elas três chorando e ela especialmente sentindo uma dor tão profunda que não aguentaria no peito, mas não foi o que aconteceu, pelo contrário, elas se lembraram dos ótimos dias que viveram no quartel e uma das muitas peripécias que viveram naquela rua em sua casa. E terminou com Blossom contando quanta esperança ele tinha de que tudo daria certo e que  enfrentariam aquilo juntos, isso encheu o peito dela de calor e pela primeira vez em três meses não lembrou dele com dor ou pesar, mas com um amor imenso e uma saldade gostosa.

Não desanimaria agora, suas irmãs precisavam dela, ela manteve a alegria e o bom humor até agora pra ajudá-las a suportar essa árdua caminhada, e se ele teve esperança até o fim, ela também teria.

O RefúgioOnde histórias criam vida. Descubra agora