O Refúgio

O que há nas Tendas?

A noite incrivelmente foi fria naquele dia, não fria no sentido ruim da palavra, uma brisa morna e fresca soprava pelas ruas enquanto Buttercup retornava para o Hotel de Santino pela rua solitária no leste da cidade. Ela voltava andando subindo a leve inclinação da rua sentindo as panturrilhas doerem um pouco, seu corpo todo estava dolorido mas não por motivos desagradáveis, pelo contrário, a morena sorria de orelha á orelha voltando de mais um dia de treinamento.

O moreno não a acompanhava daquela vez, havia saído mais cedo do seu turno de guarda costas particular e falou que ela seguisse sozinha pelo já conhecido caminho até o hotel, ela não questionou sua saída, suspeitava que tivesse algo a ver com o Refúgio, mas enfim ela tinha se livrado dele tempo o suficiente pra ouvir seus próprios pensamentos longe da irritação constante que era sua voz.

Mesmo em apenas uma semana ela já tinha se acostumado ás provocações constantes e ao jeito enérgico do moreno, então o silêncio de seus passos na estrada era um deleite. Era o que ela dizia a si mesma pelo menos, acreditava veementemente odiar aquele cretino que mais parecia uma criança de dez anos, sua mentalidade arrojada e sua língua enorme o tornavam uma companhia turbulenta de se ter. E hoje especificamente a companhia dele se tornou uma turbulência maior ainda, ela enrugava as sobrancelhas só de lembrar da discussão ridícula que tiveram hoje naquele chão imundo do Ferro Velho. Argh! Ela nem se lembrava da última vez que a alguém a deixara tão irritada a ponto de rolar no chão sobre outra pessoa tamanho seu ódio. Idiota! 

Céus como ela se deixou levar assim? Como ela se deixou enraivecer por uma provocaçãozinha infantil de nível quita série como aquela? O ódio fervilhava dentro dela acompanhado de uma vontade súbita de cometer um homicídio bem ali á luz do dia, ver o sangue dele escorrer por suas mão enquanto ela riria diabolicamente tal qual os filmes de terror que tanto amava. Além raivosa ele conseguia deixá-la louca também pelo jeito.

A questão é que ela odiava ser subestimada, tanto que não media esforços pra provar sua superioridade mesmo numa situação como aquela, sempre foi conhecida como a cabeça quente do trio, e não era pra menos. Na escola nenhum menino ousava zombar de Bubbles nas sua frente pois sabiam quem mandava naqueles corredores, sabiam muito bem a quem temer quando se tratavam das irmãs Utonium. Ela perdeu a conta de quantas vezes foi atrás de meninos estúpidos que caçoavam de Bubbles por seu jeito doce e a voz mais fina, ela fazia questão de esperá-los na frente da escola, os seguia até que se encontrassem sozinhos em um trecho do caminho e dava a eles uma lição que nunca esqueceriam, disso ela tinha certeza.

Por serem crianças claro que esse era considerado um comportamento anormal, mas ela simplesmente não suportava ver sua irmã sendo maltratada por pessoas que se achavam superiores só pelo fato de terem os pais presentes em suas vidas, não suportava ver todos os dias a loira sair triste da escola por causa de palavras cruéis lançadas á ela, isso quando não roubavam seu lanche, escondiam suas coisas, puxavam suas mexas loiras com brutalidade ou imitavam seu jeito de falar com a voz fina esganiçada. Pior de tudo era ver que a loira não levava esses desaforos pra casa ou pras irmãs, aguentava tudo calada pois não queria provocar desentendimentos e em parte por que tinha medo do que as crianças podiam fazer.

Por que ela pensava naquilo? Por que ela também sabia como era ser zoada por ser adotada, claro que já fizeram piadas com seu pai ou dizendo que elas três não eram "irmãs de verdade", a diferença é que a morena revidava obviamente e não poupava suas palavras nem seus punhos pra rebater todo ódio gratuito que recebia, e com o tempo os outros aprenderam a respeitá-la. Já Blossom simplesmente não ligava para essa provocações, na visão da mais velha aquelas eram palavras sem importância de pessoas que precisavam diminuir outros pra se sentirem mais fortes e  aquilo não merecia sua atenção, no caso dela nem foi preciso que se esforçasse pras pessoas pararem de enchê-la pois logo todas as outras habilidades da ruiva se destacaram na escola tornando-a líder de sala e depois disso a presidente do grêmio estudantil.