A noite pela primeira vez em vários dias foi revigorante para as três irmãs. Pela primeira vez em meses Blossom não teve pesadelos, não acordou suando frio durante a noite nem gritando em desespero. Acordou naturalmente com o raiar do sol em seu rosto sentido o calor tocar-lhe a pele, como um carinho suave. Abriu os olhos, estava novamente no quarto de hotel que Dona Eva havia lhes cedido pra ser suas novas acomodações na nova vida.
Aquilo ainda era surreal para Blossom, mal podia pensar que estava acordando em uma cama quente protegida sob um teto seguro quando a menos de uma semana havia escapado de um prédio cheio de zumbis da entrada ao topo equilibrando-se numa tábua de madeira. Como as coisas poderiam ser tão diferentes.
Esticou os braços e espreguiçou-se lentamente despertando do sono ainda na cama. Pela fresta na cortina ao seu lado na parede, pode ver que o céu estava limpo e reluzente naquela manhã, sua boca abriu-se em um sorriso inconscientemente olhando os pássaros voando despreocupados pelo céu na janela. Sentou-se em cima da cama e abriu as cortinas revelando um brilho ainda mais intenso iluminando todo o cômodo como um clarão celestial, ouviu alguém se mexendo na cama atrás de si e virou-se a tempo de ver Bubbles cobrindo o rosto sonolenta enquanto coçava os olhos encolhidos pela claridade, parecia uma criança muito fofa acordando para ir a escola.
A ruiva sorriu pra irmã que ainda lutava contra a luz do sol em seu rosto. Estava tão feliz, seus dias na comunidade de Lyons tem sido muito tranquilos, as pessoas as estavam recebendo muito bem até, enquanto elas não recebiam uma função específica Dexter recomendou que elas usassem esse tempo pra conhecer mais as pessoas dentro da comunidade, afinal quando começassem a contribuir passariam bastante tempo junto daquelas pessoas, seria bom que tivessem um conhecimento prévio.
Ainda observando a janela, ela vê as pessoas deixando seus quartos prontos para o trabalho diário, atravessavam o pátio central aos montes orientados por Dona Eva que, como sempre, estava acompanhada por seu netinho Jorge Luiz desejando bom dia á todos que passavam.
Era cativante ver a forma como a senhora tirava do seu tempo pra cumprimentar as pessoas que partiam, um ato simples, mas que exigia disposição da parte dela, e que visivelmente fazia toda a diferença nos ânimos do lugar. Ela realmente enxergava seus hóspedes como parte de sua família, fazia questão de dar atenção a cada um de maneira distinta. Seu comportamento somado ao próprio ambiente do hotel lembrava muito a sensação de estar na casa de avó, uma avó muito alegre e mexicana.
Junto a alegria contínua de Dona Eva, mais ao fundo no pátio, estavam duas figuras encostadas de forma relaxada num pilar, conversavam trivialmente sobre alguma preferência oposta enquanto todos ao redor se dirigiam para a saída, um deles levava um punhal pequeno e a outra uma pistola presa á perna. Seus guarda costas de plantão, desde o início da semana quando se acomodaram no hotel eles foram postos no encalço delas enquanto andavam pela cidade.
Blossom resmungou irritada, achava aquilo um exagero, colocar os dois atrás delas como se fossem duas criminosas, reforçando que a confiança que tinham nelas era a mesma que as pessoas colocavam em dois presidiários sob regime condicional, ou seja, quase nenhuma. De todo o cenário pacífico que se encontravam, aquele era o único detalhe que a incomodava profundamente, puxando-a de volta a realidade de que ainda eram intrusas naquele grupo.
Havia dias que tivera seu último contato com o líder ruivo antes do passeio educativo de Dexter, que a propósito vinha se mostrando um cavalheiro desde então, vindo dia e outro vê-las no Hotel perguntando se estavam sendo bem tratadas e se tinham tudo que precisavam, assegurando-lhes que ao final do mês quando houvesse novamente o rodízio dos grupos de serviço elas já seriam inseridas, até lá elas poderiam desfrutar da tranquilidade do fim da primavera, muito gentil da parte dele ela achava. O jeito mais tímido para falar com pessoas novas o fazia se atrapalhar ás vezes nas palavras mas ela acreditava piamente que era apenas uma questão de tempo até ele começar a se sentir á vontade na presença delas, e era o que a ruiva esperava que acontecesse pois queria muito estreitar laços com ele.
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O Refúgio
Ficção AdolescenteNesta releitura das três meninas que marcaram nossa(minha) infância, os Estados Unidos foi devastado por um vírus estranho, ele transforma seu hospedeiro numa espécie de zumbi que ataca todos a sua volta. Ninguém sabe de onde veio ou como foi cri...