Senti meu corpo tremer quando Gaara soltou o meu pulso e me trouxe de volta ao Palácio Negro. Minhas pernas cederam a sensação de cansaço e caí ajoelhada no chão. Sabia instintivamente que o reflexo do homem do espelho estava me observando enquanto eu deploravelmente tentava impedir que o choro viesse. Precisava me controlar, ainda havia muitas perguntas a serem feitas. E eu não sei se teria coragem de fazê-las quando saísse desse quarto e encarasse as pessoas que decepcionei.
— Eu ainda posso quebrar a maldição? — sussurrei com a voz quebrada. — Eu acredito nele agora, acredito mesmo, isso deve bastar, não?
Não tive coragem para olhar para o reflexo ondulante no espelho.
— Sabe que não — ele suspirou ao dizer. Algo na sua voz soava absurdamente cansada. — "A maldição somente será quebrada e revogada quando alguém, verdadeiramente, genuinamente, acreditar na palavra do mentiroso que não é mentiroso." — ele recitou o último verso da maldição em tom pragmático. — Sua crença não serve de nada agora que conhece a verdade. Não está mais apta para quebrar a maldição, Sakura.
Não segurei mais as lágrimas, de nada adiantava brigar uma luta perdida. Tampei meu rosto com as mãos e deixei que os soluços escapassem da minha boca e meu corpo tremesse com os sentimentos confusos que borbulhavam em meu peito.
— Eu não entendo...— falei após chorar por um tempo, secando minhas lágrimas com a manga do vestido. — Por que me contou se sabia que eu não poderia mais quebrar a maldição? Não quer que Sasuke seja liberto?
A imagem de Gaara ondulou antes do seu rosto aparecer no reflexo com um sorriso duro.
— "Não importa o quão dolorosa seja, não vejo como me arrepender de conhecer a verdade." — Gaara declamou o que eu reconheci ser as minhas próprias palavras. — A maldição, Sakura, deixou para cada um, o seu castigo e sua função. Para alguns é vagar em forma de besta pela floresta com a consciência oscilando entre homem e animal, esperando as ordens do seu mestre, para outros, é mentir e difamar o seu senhor enquanto ele tenta provar sua inocência, e para mim, é mostrar a verdade, seja ela qual for, quer eu queira ou não.
— Isso é muito cruel — reclamei, sentindo a indignação crescer em meu peito. Essa maldição operava na injustiça, castigando a todos, ignorando se o crime foi cometido ou não. — Desde o começo, não há chance para Sasuke, não é? Como? Como podem pedir para confiar nele quando tudo e todos ao redor dele o fazem parecer um monstro?! — Gaara me olhou com pena.
— Ele acreditou em você.
— O quê? — Pisquei confusa.
— Ainda tenho coisas a te contar e penso que agora não faz diferença perguntar se quer saber ou não. — Ele estendeu sua mão para mim e eu a peguei agora consciente do que esperar quando ele voltou a me puxar para o seu mundo.
Continuei sentindo a mão de Gaara na minha, estreitei os olhos sem entender o que estava acontecendo. Estávamos no quarto selado, de frente para o espelho, mas não era Gaara que estava refletido, sua imagem foi substituída pela minha de outro momento. Eu estava andando pelas ruas do povoado, batendo de porta em porta, em busca de um trabalho qualquer. Foram poucas, às vezes, em que as pessoas não fechavam a porta antes mesmo de eu ter a oportunidade de falar, menos ainda, as que me deixavam entrar para trabalhar. Aquele era um dia de sorte, lembro de ter pensado isso na época porque após algumas horas de procura, — menos do que geralmente eu levava para convencer a alguém a me deixar lavar suas escadas em troca de uma moeda de cobre — eu consegui que me chamassem para cuidar de um dos quartos do patrão. Na época, não pensei em quanto era estranho que deixasse uma pessoa de fora da mansão limpar os quartos de um dos mestres. Estava feliz demais com as moedas que iria receber para pensar criticamente. Eu consegui fugir ilesa, mas lembro com clareza do pavor que senti quando percebi quais eram as intenções e qual trabalho esperava por mim no quarto. A voz asquerosa sussurrou no meu ouvido: "Não finja que já não fez isso antes. Ouvi falar sobre você e sua mãe." Agredir e ofender o filho de uma família de prestígio não facilitou as coisas para mim. E quando o que aconteceu — e o que não aconteceu —, se espalhou pelo povoado, ficou cada vez mais difícil conseguir qualquer coisa que me rendesse algumas moedas.
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PERSONA (VERSÃO SASUSAKU)
FanfictionTodos do Império de Grifo conhecem o arquiducado Uchiha, o lar do Arquiduque amaldiçoado. Alvo das histórias mais terríveis, ele é conhecido por ser o príncipe assassino que recebeu como castigo uma maldição que nenhuma das suas quatro noivas foram...