Capítulo 12

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Passava do meio-dia quando finalmente chegamos na Praça Estrela de neve. O percurso foi feito em um silêncio desconcertante, apenas os sons das rodas da carruagem em atrito com o chão nos acompanharam até a nossa chegada. Quando enfim desembarcamos no centro da praça, eu pude respirar com um pouco mais de tranquilidade e olhar para a construção a minha frente. 

Percebi com um certo grau de surpresa que o arquiduque mandou demolir o antigo imóvel que há muito tempo estava abandonado e construiu outro bem maior no local. A reforma ainda estava em processo, com a fachada da biblioteca ainda coberta por um grosso tecido que impediria os mais curiosos de se aproximarem.

Segui o arquiduque com passos cautelosos, repentinamente consciente dos olhares que estávamos atraindo a nossa volta. Eu já sabia o que encontraria quando retornasse para o povoado. As mesmas lojas feitas de tijolinhos brancos, com toldos coloridos e fachadas simpáticas, ruas de terra batida que se erguiam em finas camadas de poeira cada vez que uma carruagem passava, as calçadas eram as únicas devidamente asfaltadas com uma massa grossa e cinza que abrigava diversas lojas e comerciantes.

Lembro-me com nitidez das vezes em que caminhei por essas ruas, de uma ponta a outra impedida de andar na calçada. Uma pessoa impura como eu não era digna de caminhar em um chão onde minhas botas sujas deixariam marcas, diziam-me as pessoas que embolsaram o dinheiro que o arquiduque havia mandado para pavimentar toda a região, não somente a calçada da praça. Hipócritas que passavam por mim agora, com olhares atentos e julgadores que demostravam com clareza quais categorias de pensamentos rondavam suas mentes enquanto me viam acompanhada de um homem desconhecido por eles.

Estava cansada deles.

— Aconteceu algo, Sakura? — Uchiha questionou.

— Não, meu senhor — respondi tirando meus olhos das pessoas da rua.

— Sasuke — ele respondeu simplesmente.

— Perdão?

— Enquanto estivermos aqui me chame pelo meu primeiro nome — esclareceu.

— Como ousaria? — disse desconcertada com o pedido. Uma coisa era chamar a Ino pelo seu nome, outra bem diferente era chamar o temível Uchiha.

— Isso não foi um pedido, querida. — Ele pegou minha mão e a apoiou em seu braço, enquanto nos guiava pelas escadas até a porta da biblioteca em construção.

Enquanto subíamos os degraus cuidadosamente construídos, eu podia ouvir e sentir as falácias que já começavam a ser formarem em nossas costas. Mas estando acompanhada do homem mais perigoso de todo império, aquelas pessoas e suas palavras venenosas pareciam pequenas como formigas. Pequenos insetos barulhentos de mente estreita e boca grande não assustavam tanto quando eram vistos de cima.

— Não olhe para eles. — Sasuke me deteu quando ameacei virar minha cabeça em direção a pequena multidão de curiosos que nos observavam em frente a entrada da biblioteca. — Não se de ao trabalho de olha-los, são insignificantes. Não fazem diferença na sua vida, ou fazem?

— Não mais — respondi olhando em seus olhos vermelhos.

A luz do dia, eles pareciam rubis.

Ele assentiu com um leve acenar de cabeça, descruzou os nossos braços e abriu as portas duplas sem grandes cerimônias revelando um espaço amplo que mesmo estando em processo de reforma, ainda era de tirar o folego. O ambiente foi muito bem aproveitado, pois a construção aparentava ser muito maior por dentro do que quando vista de fora. Meus olhos vagaram frenéticos por todos os lugares, encantada com cada detalhe desde o piso ao teto. Alguns moveis ainda não haviam sido movidos e permaneciam cobertos por um pano branco, no entanto, outros já ocupavam seu lugar dando-nos uma prévia de como o espaço ficaria quando a obra estivesse finalizada. Tudo parecia ter sido pensado para promover conforto e praticidade sem perder a elegância que atrairia a curiosidade dos que vierem visitar o povoado. O piso era feito de um material que não sujaria com facilidade, mas que manteria o aspecto brilhoso que ressaltavam os elaborados desenhos de estrelas sobrepostas na cor preta no piso amarelado, as prateleiras, mesas, cadeiras e sofás que estavam a mostra todas eram de um tom marrom avermelhado acompanhado de paredes pintadas de uma cor que lembrava areia. Observando mais, pude notar a presença de um segundo andar com mais prateleiras ainda vazias de livros.

PERSONA (VERSÃO SASUSAKU)Onde histórias criam vida. Descubra agora