Capítulo 27

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A luz se apagou no mesmo instante em que minha visão se estabilizou. Muitas coisas estavam acontecendo naquele momento, com os soldados e as feras, mas meus olhos estavam inteiramente voltados para Sasuke e meu irmão em seu colo. Os olhos dourados estavam petrificados em um único ponto, incapazes de entender o que estava acontecendo ao redor. Seus braços abraçaram o corpo de meu irmão parecendo não acreditar que ele realmente estava ali, o abraçando de volta.

Sasuke havia recebido o seu voto de confiança.

Voltei a correr desesperadamente para eles, percebendo o quanto a maldição havia brincado com os meus sentidos, não estava tão longe quanto eu pensava. Me lancei ao chão ao lado deles, passando a mão pelo corpo do meu irmão apenas para confirmar o que meus olhos viam, ele estava bem. Suas bagas verdes estavam molhadas e cerradas, como se tivesse se agarrado em Sasuke no último instante, confiando cegamente nos braços que o acolheu. Apesar da força com que os seus braços rodearam o pescoço do arquiduque, ele não estava tremendo ou demonstrando qualquer sinal de medo.

— Vocês estão bem? — perguntei após alguns minutos os observando. Nenhum dos dois esboçou qualquer reação durante todo esse tempo. Percebi que meu irmão havia adormecido, abatido pela exaustão física e emocional.

Sasuke não respondeu com palavras, apenas acomodou meu irmão em seus braços e me puxou para perto, apoiando a sua cabeça em meus ombros. Seu corpo tremia enquanto uma torrente de lágrimas silenciosas dançavam por seu rosto.

Ao nosso redor, um espetáculo acontecia.

Não haveria um dia enquanto eu vivesse que eu não me lembraria desse momento. Eu sentia na minha pele um formigamento, como se a magia passasse a passos contidos pelo meu corpo, abandonando-o com uma última fagulha de cócegas. As demais pessoas pareciam sentir o mesmo com mais intensidade, mas ao contrário de mim, os soldados que há pouco lutavam ferozmente, estavam abraçando uns aos outros, enquanto comemoravam com os olhos molhados e gritos de alívio. Os grilhões se soltavam de seus pescoços e desciam como estrelas expulsas do céu para adormecerem na terra e desapareciam como se jamais houvesse estado ali.

Ino observava um ponto distante, uma cabeça loira que permanecia paralisada. Naruto encarava o cenário como se sua mente fosse incapaz de absorver o que estava acontecendo diante dos seus olhos, parado com o rosto sujo e suado do combate ao lado da fera caída, ele não se mexeu quando seus grilhões se soltaram.

Lentamente, como se estivessem sendo guiados por uma cantiga, as bestas caíam uma a uma no chão, adormecidas pela magia. Ao contrário do que eu havia visto com Gaara, seu retorno à forma humana foi suave e indolor, como se a magia tivesse perdoado os seus pecados. Todos ficamos parados, apenas observando seus corpos nus deitados no solo frio, até que Naruto tomou a iniciativa e cobriu a mulher deitada ao seu lado com o seu manto, a protegendo do frio e do constrangimento. Logo em seguida, todos imitaram seu gesto.

Sasuke por fim ergueu a cabeça e encarou as pessoas que o olhavam ansiosas. As algemas em seus pulsos haviam desaparecido completamente. Quando seus olhos encararam os meus, tive a deslumbrante surpresa ao notar que seus olhos estavam pretos.

O último vestígio da magia havia ido embora...

...

Todos os residentes do palácio negro nos aguardavam. As expressões dos seus rostos demonstraram os sentimentos que eles não poderiam expressar. Não havia nenhum grilhão à vista. Nada que os prendesse, mas eles permaneceram nos limites da floresta, esperando o seu mestre retornar.

Os olhos de Sasuke brilhavam com as lágrimas, mas um sorriso genuíno estampava em seu rosto. Os soldados que nos acompanhavam mal se continham em suas celas, ansiosos para se unir aos demais e festejar a liberdade conquistada. Os rostos conhecidos tomavam forma conforme nos aproximamos. Mordomo Kakashi, Tenten, Hanna e minha mãe eram um dos muitos que nos aguardavam na primeira fileira. Dentre todos, procurei pelo rosto de Gaara, mas não o encontrei. Mas não tive tempo de questionar a sua ausência, pois, logo que meus pés pisaram o solo, fui arrebatada pelas pessoas que não podiam conter a sua euforia.

PERSONA (VERSÃO SASUSAKU)Onde histórias criam vida. Descubra agora