Capítulo 21

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A lareira crepitava alto enquanto eu estava aninhada para mais próximo a ela. O chocolate quente em minhas mãos estava quase no fim e a cabeça de Drystan permanecia adormecida em minhas pernas enquanto um bigode de chocolate jazia em cima dos seus lábios, seus cabelos estavam bagunçados e o corpo pequeno encolhido ao máximo para segurar o calor da lareira. O inverno desse ano seria rigoroso e não demoraria muito para que a neve tomasse completamente o chão e todo o povoado do arquiducado se enchesse com a visita de entusiasmados turistas ansiosos para acompanharem as chuvas de estrelas.

Dois dias haviam se passado e apesar do que todos haviam me falado, não demorou para que eu caísse no comodismo. Ninguém mais me olhava torto ou evitava falar comigo, alguns vieram se desculpar e outros mantinham- se mais distantes, porém sempre cordiais. Encontrava-me com Tenten ocasionalmente e ela pouco falava sobre os dias passados ao meu lado sem que eu tivesse noção, mas era só uma questão de pensar um pouco para saber quais momentos tiveram sua interferência, como nos dias em que todos se calavam na minha presença mesmo que eu estivesse escondida, como Sasuke sempre sabia onde eu estava e o que estava fazendo, coisas caindo ao meu redor ou desaparecendo sem nenhuma explicação, mas não me recordo de nenhum momento em que eu senti que estava em perigo, salvo os momentos em que estava com Sasuke. Por isso, minha mente não parava de rodar com questionamentos sobre o que Uchiha teria feito para impedir que eu saísse machucada.

Eu já havia terminado de tomar o meu chocolate quente quando ouvi o barulho de pessoas se aproximando. Essa parte do palácio abrigava dois anexos que se interligavam entre si por uma porta, que nada impedia que o som das conversas passasse por elas. A voz dos dois homens eram claras para mim e não demorou para que eu identificasse a quem pertenciam. Uchiha e Naruto estavam no que parecia ser uma discussão calorosa, pois suas vozes ecoavam pelo anexo, demonstrando toda a emoção que colocavam em suas palavras.

— As coisas não podem simplesmente acabar desse jeito, Naruto! — Sasuke falou com a voz cheia de desespero, o mesmo tom que usou quando tentou me convencer da verdade.

— E como você acha que as coisas devem terminar? Nada que fizemos durantes todos esses anos funcionou e a cada nova tentativa só saímos mais machucados, não existe fim para isso!

Não parecia certo que eu estivesse ouvindo a conversa, principalmente porque o conteúdo denota algo extremamente particular dos dois, mas não havia saída para mim. Drystan permanecia dormindo, alheio ao que acontecia ao seu redor, com o corpo adormecido pesando sobre o meu, dificultando mais ainda qualquer tentativa de sair sem ser notada.

— Mas temos que continuar tentando! Eu tenho que continuar por todos nós!

— Você não é o único que está sofrendo, Sasuke. — Naruto suspirou audivelmente. O meu corpo tremia em sincronia com a sua voz. — Nós te amamos, cada pessoa que vive neste maldito palácio e que está acorrentado a você te ama profundamente...

— Eu também amo cada um de vocês e por isso não posso desistir... — Sasuke soava como uma criança frágil, com medo de encarar o desconhecido.

— Eu sei, por isso, estivemos ao seu lado durante todos esses anos e fizemos as coisas mais inimagináveis. Mas Sasuke, você não é o único amaldiçoado aqui. — Ouvi passos pesados e então a voz de Naruto diminuiu de volume, mas eu ainda conseguia ouvi-lo. — Irmão, não estou pedindo para desistir de sua liberdade, estou apenas pedindo para conceder a minha e daqueles que também desejam. Sei que é uma coisa cruel de se pedir, mas não faria isso se tivesse outra maneira.

— Eu não posso...

— Sasuke, você prometeu... — Naruto usou um tom de voz que eu nunca ouvi antes, parecia que ele estava usando todas as suas forças para fazer a frase tomar forma. Ele estava exausto, desesperado e quebrado. — Eu esperarei somente até a próxima caçada, espero que até lá esteja pronto para soltar as minhas correntes.

PERSONA (VERSÃO SASUSAKU)Onde histórias criam vida. Descubra agora