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HAVIA UMA SÉRIE DE EMAILS PARA RESPONDER, RELATÓRIOS PARA CONCLUIR E DADOS PARA ATUALIZAR no prontuário de Richarlison. A equipe médica do Tottenham havia dado à Estela o acesso aos arquivos do jogador e havia tudo lá, histórico médico, acompanhamento nutricional e perfil psicológico. Ela estava lendo tudo aos polvos e com calma para ligar todos os pontos que necessitava. E no meio de tudo aquilo esperava encontrar o que fazia dele algo único e partir disso traçar um mapa do seu córtex e verificar os detalhes das suas vias dopaminérgicas.

Para que fosse possível entender o trabalho de estela, antes é necessário que se tenha em mente que o cérebro de um atleta funciona de uma maneira que se destaca de um funcionamento típico. É preciso muita disciplina, foco, concentração e até uma certa obsessão para se alcançar os resultados necessários. Características que só são vistas em outras condições de vida: sobrevivência. Os atletas de alto desempenho praticavam esporte como se não pudessem ser mais nada além do seu rendimento. E por quê? Bem, essa era a resposta na qual Maria Estela queria chegar.

Ela sabia que teria um bom começo se pudesse avaliar Richarlison com um eletroencefalograma. Porém, levá-lo até a Universidade de Oxford para utilizar o laboratório seria difícil, porque sua pesquisa não estava na lista de prioridades, então precisaria recorrer aos equipamentos do CT.

Estela se certificou de bater na porta da sala de Lawrence Gant assim que ele chegou pela manhã, dessa forma o chefe da equipe médica acadêmica não poderia deixar de lhe atender se não havia se ocupado antes. Ele pediu para que ela entrasse e Estela se digitou até a mesa dele.

— Eu gostaria de verificar a disponibilidade do uso do encefalograma, se possível.

Ele a avaliou com os olhos pensativos.

— Vai ser difícil, Cavalcante. Realizamos exames com bastante frequência e alterar toda a agenda da equipe e do time agora pode ser complicado. — Ele a olhou nos olhos por um segundo a mais, um segundo que pode deixar a outra pessoa desconfortável. — Mas eu posso tentar algo por você, é claro.

— Eu posso vir nos fins de semana, se for preciso. — Ela acrescentou com a esperança de que ele pudesse ajudá-la.

Lawrence sorriu e se levantou, andou até Estela e os olhos do médico não desviaram. Ele colocou a mão sobre o ombro dela.

— Você é dedicada, Estela. Uma jovem linda e dedicada, conte comigo para o que precisar. — Ele continuou com a mão no braço dela. Estela nunca se sentiu confortável com contato físico e estava surpresa com aquilo. Ficou com receio de parecer desconfortável e Lawrence achar que ela estava sendo mal educada. — Vou reservar um horário para você.

Ele tirou a mão do ombro dela e Estela agradeceu. Saiu da sala quase eufórica, andou rapidamente pelo corredor e desceu as escadas para o andar debaixo. Ela sabia que era por aquele horário da manhã que Richarlison chegava e precisava achar ele antes de qualquer coisa que pudesse planejar em seguida.

Não haviam se passado nem cinco minutos de espera quando ele chegou. Usava um moletom e o capuz cobria-lhe a cabeça, estava com fones de ouvido e carregava a bolsa esportiva em um dos ombros.

Ele tirou os fones e olhou para ela.

— Que sorrisinho é esse, doutora? Te deixaram eletrocutar o cérebro de alguém?

Ela sorriu ainda mais.

— Sim!

— Sim?! — Ele ficou preocupado.

— O seu!

— O meu nada! Sai fora! Tá maluca, Estela?! — Ele voltou a caminhar para ficar longe dela, como se a garota fosse tirar uma máquina de choque e ligá-la à ele.

✔ A CIÊNCIA DO JOGO - RicharlisonOnde histórias criam vida. Descubra agora