✔ A CIÊNCIA DO JOGO - Richarlison

14

💚🇧🇷

VÁRIAS IDEIAS E DESCULPAS SURGIRAM para Richarlison ver Estela naquele dia, mas ignorou todas elas. Não porque não queria ver ela, mas porque tinha prometido que iria respeitar. Mas não era fácil depois de saber qual era o gosto do beijo dela. O jeito que ele encontrou foi treinar calado ouvindo Exaltasamba no fone de ouvido.

Son foi o primeiro a perceber que as coisas não estavam indo bem. Durante o treino enquanto Richarlison sentava no banco para tirar uma pausa, o coreano cutucou Harry no braço.

— Não deu certo. Liz falou que Estela estava chateada. — Son olhou o celular para mostrar as mensagens à Harry.

— Você e Liz se deram bem! — Harry brincou com o amigo. — Então vamos para o plano B?

— Plano B. — Concordou Son. — Agora me derruba.

— Te derrubar? — Harry ficou tão confuso que achou que Son estava trocando as palavras sem querer.

— Vou fingir que me machuquei para ir na ala médica ver a Liz. — Explicou Sim sorrindo.

— A Liz é neuro, precisaria machucar o cérebro para ir ver ela. — Harry começou a rir e puxou Son de volta para o treino.

Seguiram a rotina de treino naquele dia e não passaram pela ala médica. Os colegas de time fizeram de tudo para Richarlison ficar mais leve e participar e o atacante até riu algumas vezes, mas era nítido ver que estava mais sério do que o habitual. O bom do futebol era que mantinha sua cabeça no lugar, era a única coisa que o fazia desligar por completo do que acontecia nas outras áreas da sua vida.

Quando voltou para casa no final do dia, não tinha muito ao que se apegar para distrair, então resolveu ler a lista de recomendações que Estela fez para o ajudar a melhorar a rotina e o desempenho. Era uma lista que tinha evitado olhar, porque incluíam todas as partes que ele detestava em controlar hábitos e rotina.

A primeira recomendação era desligar a televisão antes de dormir e ele tinha o péssimo hábito de dormir com a televisão ligada, por vezes até acreditava que não conseguiria dormir sem o som de fundo do aparelho. A segunda recomendação era uma série de dicas para um "jejum de dopamina" que ajudaria no desempenho em campo e isso incluía ficar longe do celular. Nenhuma das opções pareciam agradáveis, mas ainda assim ele tentou começar algo naquela noite.

Precisava se lembrar que mesmo desejando muito Estela, ele também precisava se manter bem. Seu sonho de jogar na Copa poderia estar próximo.

             

                                     

ESTELA PESQUISOU E LEU TUDO O QUE PODERIA a respeito de denúncias a assédio, não sabia muito bem se poderia recorrer à seus supeior acadêmico ao a um algum responsável no Spurs, mas a verdade era que não se sentia segura para levar isso para outra pessoa - principalmente outro homem - naquele momento. Não havia ficado claro se ao investigar, ela continuaria o processo de apresentar sua pesquisa normalmente e esse era o ponto principal para ela.

O que a deixava angustiada era uma sensação irracional de culpa que ela sentia. Sentia-se culpada por ter sido assediada, por não ter ficado o mais longe possível de Gant, queria socar a cara dele e ao mesmo tempo se xingar por não ter ouvido aquele pequeno desconforto que ela sentia toda vez que ele estava por perto. Às vezes mulheres ouviam tão frequentemente que eram loucas que passavam a desconfiar da própria intuição.

Ainda assim, ela continuou avaliando os resultados de tudo o que havia aplicado no CT e continuou escrevendo sua tese, foi inevitável utilizar o perfil de Richarlison como o principal e os dos outros jogadores como base para comparações e reafirmações do que ela queria comprovar. Seus dedos passavam pelo teclado do computador ferozmente como se toda a sua vida dependesse daquilo.