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MARIA ESTELA CAVALCANTE JURAVA QUE SERIA O MELHOR ANO DA SUA VIDA. Mas logo que as coisas começaram a se desenrolar, começou a duvidar da fanfic que havia montado em sua cabeça. Ninguém poderia culpá-la, havia crescido sonhando com o dia em que viveria em Londres em uma grande universidade, tomaria café todo dia na Starbucks com o cabelo preso em um coque desajustado - porém charmoso, e aí toparia com algum cantor pop britânico que se apaixonaria por ela.

Maria Estela estava pronta para a sua fanfic.

Só que ninguém a avisou que na verdade ela moraria na zona mais distante de Londres, receberia uma mixaria com a bolsa de estudo e isso significava que ela sobrevivia com o café aguado e gratuito que serviam no laboratório. Sem falar no fato de que não poderia investir na ideia original de sua pesquisa devido aos cortes que a universidade estava sofrendo.

Ela precisou refazer todo o seu projeto de pesquisa para se encaixar no único lugar que poderia ter vaga para ela. Deixou para trás o sonho de liderar o estudo do desenvolvimento do lobo pré frontal em lesões cerebrais infantis, para pesquisar o desenvolvimento dessa área do cérebro no esporte.

Era nisso que Maria Estela estava pensando e remoendo dentro de si quando foi barrada na catraca de entrada do campus por ter perdido o crachá no caminho.

Ah, é, ainda tinha o fato de que Estela era a maior azarada.

— De novo presa do lado de fora? — Uma garota perguntou.

Ao se virar, Estela viu Liz se aproximando. A inglesa tinha cabelo castanho claro e os olhos por trás dos óculos eram verdes. Ela tinha uma dente levemente desalinhado que dava um charme ao seu sorriso, o sotaque britânico era carregado.

— Perdi o crachá. — Lamentou Estela. Liz usou o dela para liberar a catraca para as duas.

Elas seguiram juntas para o departamento de neurologia como faziam todas as manhãs nos últimos trinta dias. Até aquele momento, Liz era a única amiga que Estela havia feito.

— Preparada para ser oficialmente designada às suas tarefas no laboratório? — Liz perguntou animada enquanto as duas caminhavam pelo campus.

Estela observou os outros estudantes passando e os grandes prédios arquitetônicos, sabia que mesmo que nada tivesse saído como planejado, estar ali ainda era uma grande conquista.

— Pelo menos eu vou ficar fazendo relatórios e analisando dados, não vou sair do meu hábitat natural. — Estela tropeçou um pouco nas consoantes de hábitat, mas Liz pareceu não reparar - era educada demais para corrigi-la em uma conversa informal.

— Vamos ficar juntas, é quase certeza. Os centros de treinamentos de grandes times preferem homens. — Liz explicou enquanto elas adentravam o prédio do departamento.

— É sério? E por quê isso? — Estela não conseguiu disfarçar sua indignação, seu sotaque brasileiro saiu ainda mais forte.

— Não querem que os jogadores "percam o foco". — Liz fez o sinal de aspas com os dedos enquanto subiam as escadas até o andar do departamento.

— Isso soa sexista. — Estela murmurou com uma careta.

As duas entraram na grande sala aberta que era a principal do departamento de neurologia, era visível que algumas mudanças estavam sendo realizadas. Haviam computadores desinstalados, umas três mesas amontoadas no fundo e somente metade dos docentes ainda estavam no local.

O corte de verba havia afetado e muito o trabalho realizado. Estela também teria sido cortada se não tivesse aceitado mudar o foco de pesquisa da sua tese. Ainda assim, lamentava pela mudança que o departamento estava enfrentando.

A equipe no total estava contando com oito profissionais de diversas áreas da saúde e biológicas, mas contando com ela e Liz haviam cinco na sala naquele instante.

O Professor Lincoln as viu chegando e indicou que se sentassem. Ele era o coordenador do departamento, Estela sabia que ele estava concluindo o segundo PhD e parecia não ter outra coisa na vida além do trabalho. Às vezes xingava em galês e era um grande fã de futebol, e por conta disso sempre lembrava do fato de Estela ser brasileira.

E ele realmente acreditava que ela estava tão empolgada com a pesquisa quanto ele.

— Hoje vamos anunciar a organização para as pesquisas aprovadas. Como o número de docentes no departamento teve uma diminuição considerável, peço que compreendam que a divisão das tarefas foi realizada da maneira mais benéfica possível. — Ele ajeitou os óculos e voltou a gesticular enquanto falava. — Será necessário que todos se adaptem.

— Vai dar ruim. — Liz murmurou para Estela já prevendo que com aquela introdução, boa coisa não viria.

— Para a pesquisa com os atletas, conseguimos uma parceria com Centros de Treinamentos localizados em Londres. Precisarei de dois pesquisadores em campo e um para processar os dados e relatórios no laboratório. — Explicou Lincoln. — Senhorita Cavalcante ficará responsável pela pesquisa de campo em um dos Centros e Woods meu assistente ficará responsável por outro. Elizabeth Bates cuidará dos registros no laboratório, portanto iremos montar um cronograma de reuniões para comunicação e estudos.

Estela olhou para Liz desacreditada. Antes que pudesse raciocinar direito, sua mão já estava levantada.

— Qual a sua dúvida, Estela? — Perguntou o professor.

— Achei que mulheres não eram escolhidas para contato próximo aos atletas.

O professor sorriu encorajador.

— É verdade, e por isso confio em você para quebrar esse conceito sexista. Sei que iniciou o programa de mestrado com outra pesquisa em mente, espero que enxergue nessa posição uma chance de impactar os velho métodos.

O professor Lincoln estava sendo gentil, Estela realmente tinha o sonho de realizar algo marcante, mas nunca havia imaginado algo como aquilo.

***

Estava chovendo no início da tarde e o dia inteiro o céu estava cinza, depois de longos dias quentes, Londres havia voltado para o seu estado nublado habitual. Richarlison nunca tinha parado para pensar no quanto iria reparar no clima e compará-lo com sua casa, mas era inevitável.

Depois de treinar na academia do CT, ele foi para a sala de avaliação da equipe médica. Os exames periódicos era realizados com frequência então ele acreditou que seria uma avaliação daquele tipo. Mas quando entrou na sala, um dos médicos começou a falar sem parar.

Richarlison já tinha aprendido a pegar palavras chaves para entender uma frase, mas a coisa complicava quando falavam muito e rápido demais - ele acabava esquecendo das primeiras palavras que entendeu.

— Slow, my friend. Please.

O médico voltou a falar mais devagar e o que o atacante conseguiu captar foi:

Rich, medical, benefits, science, assignature.

— Me? Sign for medical benefits? — Richarlison perguntou pra ter certeza.

— Yes, Rich! It's gonna be great for the team and for the university. — O médico confirmou.

Richarlison entendeu que seria ótimo para o time, benefícios médicos e acreditou que era um novo acompanhamento de desempenho. E assinou o nome na lista.

— Thank you, my friend! Good for the team, very happy. — Ele entregou a folha para o médico e voltou para a rotina de acompanhamento.

Mal sabia ele que havia assinado para ser o sujeito de pesquisa do programa da Universidade de Oxford que havia realizado uma parceria com o time.

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notas: era pra esse capítulo ter saído ontem, mas o senho Harry Styles me desestruturou com um show esplêndido e eu não tive força pra mais nada. já comecei o segundo capítulo e vou tentar publicar entre hoje e amanhã! agradeço de coração todas as leituras e comentários, fazia muito tempo que eu não me sentia envolvida assim com tanta interação boa! sempre que puderem e quiserem dar uma atenção, um feedback e até saber das atualizações, pode correr aqui e no meu perfil 💚

✔ A CIÊNCIA DO JOGO - RicharlisonOnde histórias criam vida. Descubra agora