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💚🇧🇷


QUANDO O DIA COMEÇOU, ESTELA SEGUIU todas as superstições que conseguiu lembrar. Mesmo sabendo que nenhuma delas faria sentido e sabendo bem que aquilo era apenas uma forma do seu cérebro ansioso buscar segurança, ela não pisou em nenhuma fresta ou fissura no chão no caminho até o estádio.

A partida estava difícil e cansativa, era possível ver o esforço de ambas as seleções e Estela queria que a Croácia se esforçasse menos. Liz estava ao lado dela igualmente aflita, a tensão era grande e as duas mal conseguiam falar muito. A qualquer sinal de avanço dos jogadores brasileiros, a única coisa que as duas conseguiam fazer era gritar.

Após empatarem sem gols no tempo normal no Estádio Cidade da Educação, as equipes partiram para a prorrogação. Neymar fez um golaço no primeiro tempo, mas a Croácia deixou tudo igual com gol de Petkovic, no contra-ataque, e levou a decisão para os pênaltis. Nas cobranças, Rodrygo parou na defesa de Livaković e Marquinhos chutou na trave. Do lado croata, todos acertaram as cobranças, Vlasic, Majer, Modric e Orsic.

Estela encarava o time em campo ainda não conseguindo processar o que estava acontecendo. Ela olhou para o juiz e em seguida para os jogadores croatas, a torcida deles explodiu em felicidade. Liz passou o braço em volta da cintura dela, mesmo sem querer acreditar, Estela sentia um enorme vazio no peito. Toda a partida havia sido um misto de sentimentos em sua maioria tensos e frustrantes, o jogo havia começado fazendo o Brasil se sentir acuado. Talvez tanto o time quanto os jogadores estivessem esperando algo mais leve e certeiro como as partidas anteriores.

Mas naquele jogo de quartas de finais, o time estava dando o sangue e a torcida gritando por um sonho. Um sonho que naquele momento se mostrava ainda inatingível.

— Não, não, não.... — Ela sussurrou balançando a cabeça.

Todos os torcedores brasileiros ao seu redor lamentavam, ela podia ver de relance o rosto em lágrimas de cada um enquanto passava por eles para chegar na barricada. Liz a seguiu.

Os jogadores brasileiros estavam pelo campo, alguns se consolando, Neymar estava deitado com o rosto contra o gramado, Richarlison estava sentado com os braços apoiados nas pernas e o rosto coberto, apenas os olhos vermelhos denunciavam a frustração e a tristeza. Ele era como uma pintura que evidenciava a dor. No fundo de tudo aquilo havia a cantoria dos croatas o que tornava tudo pior e fazia o estômago de Estela embrulhar.

Um segurança se colocou na frente de Estela não permitindo que ela invadisse o campo, mas no fim ela não precisava, porque Richarlison ergueu o rosto por um instante como se procurasse por um abrigo - por ela. Ela podia ouvir os choros e soluços de diversos torcedores ao seu redor. Ela não sabia como, mas liberaram sua passagem no instante que Richarlison se levantou.

Ele viu Tite sair do campo e deixando os outros jogadores no campo, e então percebeu que não receberiam consolo de seu técnico. Richarlison sentia que havia o decepcionado e decepcionado o país. Um sentimento angustiante pairou sobre ele e quando ele ergueu os olhos envoltos em lágrimas, enxergou Estela se aproximando de braços abertos para ele e não pode deixar de pensar que havia decepcionado ela também.

Ela o alcançou e o puxou para um abraço com tanta determinação que ele não conseguiu se afastar, não se sentia capaz de se afastar mesmo sentindo que não mereceria aquele abraço.

— Estou tão orgulhosa de você, meu amor. — Ela disse no ouvido dele o fazendo desabafar em um soluço triste.

— Me desculpa, a gente não conseguiu. — Ele lamentou.

✔ A CIÊNCIA DO JOGO - RicharlisonOnde histórias criam vida. Descubra agora